Num país que caminha para se tornar o epicentro da pandemia mundial provocada pelo novo coronavírus, são vários os dedos apontados a Donald Trump pela demora na ação em tomar medidas preventivas quando o vírus já tinha causado milhares de mortes na Ásia e na Europa. Atualmente, os Estados Unidos da América são o país com mais casos confirmados de infeção por Covid-19 (145.131) e o quinto país que contabiliza mais mortes  (2.611), depois de Itália, Espanha, China e Irão. As previsões, anunciadas este domingo por Anthony Fauci, especialista em doenças infecciosas, diretor do Instituto Nacional de Alergias e Doenças Infecciosas dos EUA e consultor da Casa Branca, antecipam a morte de entre 100 a 200 mil pessoas. A curva do número de novos casos continua a subir, mas há um nome que ganha cada vez maior notoriedade pelo trabalho em ‘achatá-la’. O seu nome é Andy Beshear.

Beshear tem 42 anos e é o governador do estado norte-americano do Kentucky. Desde cedo quis marcar a sua posição num estado que nos últimos quatro anos esteve nas mãos do Partido Republicano. No que toca à saúde, seis dias após ter assumido funções, pôs fim às novas condições de acesso de trabalhadores ao Kentucky Medicaid, um pacote de planos de saúde a preços acessíveis para todos que não auferem rendimentos para conseguir pagar um seguro de saúde privado, que exigiam, entre outras obrigações, pelo menos, 60 horas mensais de trabalho comunitário, e que deixou 95 mil trabalhadores sem seguro de saúde.

Agora, Beshear, volta a assumir o palco no campo da saúde pública, alcançando bons resultados com decisões rápidas. Tudo começou no início do mesmo, quando, no dia seis de março, numa altura em que os Estados Unidos registavam apenas 319 casos de infeção e 15 mortes por Covid-19, o governador democrata declarou o estado de emergência no Kentucky, um dia antes de Andrew Cuomo, governador de Nova Iorque, o estado americano mais afetado pela pandemia, e uma semana antes de Trump o fazer a nível nacional.

No dia seguinte, fez a sua primeira conferência de imprensa, um hábito que passaria rapidamente a ser diário e que o catapultaria para a fama nacional, valendo-lhe, inclusive, comparações com o presidente Franklin Roosevelt, que guiou os destino do país durante a Grande Depressão e a II Guerra Mundial, pela calma e precisão com que falava à população. Primeiro, anunciou várias recomendações de distanciamento social. Dias depois, ordenou o fecho das escolas. No dia 11 de março, ordenou o cancelamento de cerimónias religiosas. No dia 15, anunciou a iniciativa "Healthy at Home" (saudável em casa), incentivando o isolamento social para a população. Mas o momento em que as redes sociais se renderam ao governador, aconteceu quando Beshear revelou que um jovem ficou infetado com Covid-19 depois de ter participado numa “festa de coronavírus” com um grupo de amigos. Os organizadores da festa juntaram-se, intencionalmente, "julgando-se invencíveis" e contrariaram as recomendações de segurança e distanciamento social do estado, disse.

“Isto é o que me deixa louco. [...] Nós temos de ser muito melhores do que isto”, disse.

Beshear emitiu também um decreto em que o estado renuncia ao co-pagamento, franquias e taxas sobre os testes para detetar o contágio pelo novo coronavírus. Para aqueles que não têm seguro de saúde, alargou a cobertura do Medicaid a 480 mil residentes, um plano que já cobria 1,3 milhões de pessoas no Kentucky, das quais 600 são crianças. O governador também flexibilizou as regras estatais de acesso ao subsídio de desemprego, permitindo a todos os que ficassem sem aquele apoio durante a crise económica provocada pelo vírus, que rapidamente se tornassem qualificáveis para voltar a receber o subsídio.

Na semana passada, Beshear ordenou o encerramento de todos os serviços considerados não essenciais. Hoje, os resultados estão à vista. O Kentucky tem atualmente 439 casos positivos e regista 9 óbitos, devido à infeção por Covid-19, números consideravelmente mais baixos que os dos estados vizinhos, entre os quais o Tennesse que contabiliza 1.818 casos de infeção e 10 mortes, Illinois com 4.613 casos de infeção e 70 mortes, Indiana 1.786 casos de infeção e 35 mortes, Ohio 1.665 casos de infeção e 30 óbitos e Virginia 1.020 casos e 25 mortes. O único ‘vizinho’ que supera os números do Kentucky é o pequeno estado de West Virginia que contabiliza 124 casos de infeção e 1 morte causada por Covid-19 , sendo que este estado tem menos 2.662 milhões de habitantes do que o Kentucky.

Beshear para todos os gostos

O trabalho do governado do Kentucky no último mês tem valido vários elogios do outro lado do espetro político. O senador republicano Robert Stivers elogiou Andy Beshear, afirmando que as suas “atualizações consistentes” ajudaram a garantir "os esforços para que as nossas equipas de saúde pública estivessem preparadas para esta situação". Também David Osborne, presidente da Câmara dos Deputados, elogiou o governador democrata, afirmando que este tem mostrado a "autoridade necessária para agir”, acrescentado ainda que o país está “preparado para intervir com apoio adicional, caso seja necessário".

Os apoios chegaram mesmo ao nível federal, com Mitch McConnell, senador pelo Kentucky e líder da maioria republicana no Senado a consultar Beshear para a concretização de um pacote de resposta à pandemia provocada pelo novo coronavírus na ordem dos dois biliões de dólares

As conversações entre ambos começaram pelas necessidades básicas do estado - testes e equipamento de proteção médica - e rapidamente saltaram para o patamar sobre como é que o governo federal podia ajudar os estados.

"Tem sido uma grande ajuda na construção de um plano desta magnitude", disse Phil Maxson, chefe do staff de McConnell à CNN.

O papel de Beshear e a sua ligação ao governo federal mostram a importância de articulação entre administrações e de como medidas antecipadas podem ajudar a achatar a curva da propagação do novo coronavírus.

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