A agência Lusa constatou em Avis que existe alguma dificuldade em encontrar uma pessoa na rua que aborde este tema, pois a CDU perdeu pela primeira vez na história para o PS, sendo este concelho considerado um bastião do PCP, partido que conquistava sempre o município desde as primeiras eleições autárquicas e legislativas, após o 25 de Abril de 1974.

Na esplanada de um dos cafés da vila, João Domingos disse à Lusa que "o medo” de que o PSD poderia vencer as eleições levou o eleitorado do concelho a votar no PS, o que é para si “uma novidade” naquela região.

“O PCP com medo de que o PSD ganhasse as eleições votou PS, só por isso é que o PS ganhou”, considera.

Mas, segundo o mesmo, tem a “certeza” de que nas próximas eleições que ocorrerem em Avis, o PCP voltará a sair vencedor.

O PS venceu as eleições legislativas em Avis, tendo alcançado a vitória em quatro das seis freguesias, conquistado 38,04% (830 votos), ao passo que a CDU assegurou o segundo lugar com 30,80% (672 votos).

Num universo de 3.422 inscritos, votaram 2.182 eleitores (63,76%).

Sentado num banco de jardim na zona alta daquela vila alentejana, José Galhardo alerta, em primeiro lugar, que percebe “pouco ou nada” de política, mas partilha também da opinião de João Domingos, considerando que a população deu a vitória ao PS para derrotar a direita.

“Isto foi mais para não ganhar a direita, votou [eleitores de Avis] mais no PS para não ganhar o Rio, acho que foi isso. O PCP não tinha nada a perder, já estava perdido e deram a força ao PS”, acrescenta.

Jorge Borlinhas é dirigente do PCP naquele concelho e presidente da União de Freguesias de Alcórrego e Maranhão e, em declarações à Lusa, considera que o voto útil foi a ‘arma’ que o povo utilizou nas eleições.

“O concelho de Avis nestas eleições não esteve à margem do que se passou a nível nacional”, sublinha.

Recordando que as sondagens publicadas nos últimos 15 dias antes das eleições pelos órgãos de comunicação social indicavam um bom resultado à direita, podendo mesmo vencer o ato eleitoral, levaram a população a votar no PS.

“As pessoas com esse medo, que a direita ganhasse as eleições, e o que era transmitido a elas nos últimos 15 dias [através das sondagens], aí claramente foi o voto útil no PS, o que acho que foi a nível nacional”, considera.

A pandemia de covid-19, segundo Jorge Borlinhas, terá também “prejudicado um bocado” a campanha da CDU, em particular em Avis, uma vez que faltou o contacto com a população nas ações de campanha porta a porta.

“O nosso contacto é porta a porta, é diariamente com as pessoas e isso [pandemia] tem também prejudicado um bocado a nossa maneira de estar e de ser e até mesmo a própria campanha”, disse.

Além de Avis, a CDU não conseguiu também ganhar no concelho vizinho de Mora, que era o último ‘bastião’ comunista do distrito de Évora no que toca a legislativas, depois de já ter ‘virado’ para o PS nas autárquicas de setembro.

O PS alcançou a maioria absoluta nas legislativas de domingo e uma vantagem superior a 13 pontos percentuais sobre o PSD, numa eleição que consagrou o Chega como a terceira força política do parlamento.

No domingo, a Coligação Democrática Unitária (CDU), composta pelo PCP, PEV e a associação Intervenção Democrática (ID), contabilizou o pior resultado em eleições legislativas.

A coligação perdeu seis dos 12 deputados que tinha desde as últimas legislativas, há dois anos, e “Os Verdes” perderam a representação na Assembleia da República.