Este domingo, 19 de janeiro, Israel e Hamas deram início a um muito aguardado cessar-fogo na Faixa de Gaza, após 15 meses de hostilidades que fizeram quase 47 mil mortos, segundo informações das autoridades palestinianas.

Os camiões com ajuda humanitária que há duas semanas aguardavam para entrar em Gaza estão, à hora que escrevemos este artigo, a passar a fronteira. Do outro lado têm uma terra devastada onde falta quase tudo.

A trégua quer-se duradoura, mas sabe-se ser frágil.

Após longas negociações, o acordo de cessar-fogo prevê três fases. A primeira, com seis semanas, será marcada pela libertação de reféns e prisioneiros israelitas e palestinianos, uma retirada parcial de Israel da Faixa de Gaza e a entrada de ajuda humanitária na região. A segunda fase prevê a troca de soldados e uma retirada total de Israel. A terceira é já de olhos postos na reconstrução.

Em Gaza celebra-se, em Israel o sentimento é contraditório. Aguarda-se ansiosamente o regresso dos reféns feitos pelos Hamas na incursão surpresa a 7 de outubro de 2023, mas sabe-se que vários terão perecido nestes meses. A promessa de destruir o Hamas, feira por Benjamín Netanyahu, que justificou tamanha destruição, fica, para já, por cumprir.

Este é o mais recente confronto de um conflito entre israelitas e palestinianos que teve início com a criação do Estado hebraico, em 1948, embora as tensões na região remontem ao século XIX.

Eis uma cronologia dos principais momentos que marcam as relações entre os dois territórios e os dois povos.

1947 – Nações Unidas aprovam plano de dois Estados 

A 29 de novembro, as Nações Unidas aprovam o Plano de Partilha da Palestina (Resolução 181), que prevê um Estado judeu e um Estado árabe e a administração internacional de Jerusalém, cidade sagrada para ambas as partes.

Egito, Síria, Líbano, Jordânia e Iraque opuseram-se à proposta e não reconheceram o novo Estado Israel.

1948 – Proclamação do Estado de Israel 

O Estado de Israel é proclamado a 14 de maio, os Estados árabes não o reconhecem e começa a primeira guerra árabe-israelita.

1949 – Fim da guerra, divisão do território

A primeira guerra termina a 24 de fevereiro: Israel amplia o seu território; a Faixa de Gaza fica sob controlo do Egito e a Cisjordânia da Transjordânia (equivalente à Jordânia, mas com fronteiras um pouco diferentes das atuais).

1956 – Guerra do Suez 

A segunda guerra israelo-árabe deixou de fora os territórios da Palestina. Israel, em conjunto com Reino Unido e França, invadiu a Península do Sinai (Egito) e as forças francesas e britânicas ocuparam o porto de Suez.

1964 – Criação da OLP

É criada em maio, num congresso em Jerusalém, na sequência de uma decisão da Liga Árabe, a Organização para a Libertação da Palestina (OLP), organização política e paramilitar cuja meta era a libertação da Palestina através da luta armada.

1967 – Guerra dos Seis Dias e Resolução 242

Israel anexa os territórios de Gaza, Cisjordânia, Sinai (Egito) e Montes Golã (Síria), naquela que ficou conhecida como a Guerra dos Seis Dias (5 a 10 de junho, terceira guerra israelo-árabe), que opôs o Estado hebraico aos países árabes Síria, Egito, Jordânia e Iraque, apoiados por Kuwait, Arábia Saudita, Argélia e Sudão.

A vitória esmagadora de Israel elevou o Estado hebraico à condição de potência militar no Médio Oriente.

A 22 de novembro, as Nações Unidas adotam a Resolução 242, na qual instam Israel a retirar-se de todos os territórios ocupados.

Israel não cumpre a resolução, alegando que só negocia a desocupação dos territórios se os Estados árabes reconhecerem o Estado hebraico.

1973 – Guerra do Yom Kipur

Entre 6 e 26 de outubro decorre a quarta guerra árabe-israelita, conhecida como Guerra do Yom Kipur (feriado judaico). Quando as hostilidades cessaram, Israel tinha provado o seu poderio militar, encontrando-se a 40 km de Damasco, capital da Síria, intensamente bombardeada, e a 101 km do Cairo, capital do Egito.

As Nações Unidas aprovam a Resolução 338, que estabelece um cessar-fogo e insta as partes a dialogar.

1979 – Israel e Egito assinam Acordos de Camp David 

A 27 de março, Israel e Egito assinam os Acordos de Camp David (retiro em Maryland do Presidente dos Estados Unidos, na altura Jimmy Carter, que testemunhou a assinatura), no âmbito dos quais o Estado hebraico devolve o Sinai.

Os Montes Golã nunca foram devolvidos à Síria. Ao contrário, Israel anexou o território em 1981.

1982 – Israel invade o Líbano 

Israel invade o Líbano a 6 de junho, com o objetivo de expulsar a OLP e estabelecer uma presença militar no território, onde permaneceu durante 18 anos.

1987 – Primeira Intifada

A 10 de novembro, estala a primeira Intifada (palavra que em árabe significa revolta), também conhecida como “guerra das pedras”. Começa por ser um movimento de resistência civil dos palestinianos na Cisjordânia, que atiram paus e pedras contra os militares israelitas.

1991 – Conferência de Madrid 

Iniciativa idealizada por Espanha e auspiciada pelos Estados Unidos e pela União Soviética, a Conferência de Madrid, que decorreu de 30 de outubro a 3 de novembro, marca o início de um novo entendimento entre israelitas e palestinianos.

1993 – Acordo que dá autonomia a Gaza e Jericó 

O primeiro-ministro israelita, Yitzhak Rabin, e o líder palestiniano, Yasser Arafat, assinam, a 13 de setembro, em Washington, a Declaração de Princípios que concede autonomia a Gaza e Jericó.

É o primeiro acordo significativo a resultar as chamadas negociações de Oslo (por decorrerem na capital da Noruega), que resultaram numa série de acordos entre o governo de Israel e a OLP, mediados pelo Presidente dos Estados Unidos, Bill Clinton.

Estes acordos previam o fim dos conflitos, a abertura das negociações sobre os territórios ocupados, a retirada de Israel do Sul do Líbano e o estatuto de Jerusalém.

No ano seguinte, Rabin e Arafat – e também Shimon Peres (que, como sucessor de Rabin no governo, viria a concluir os Acordos de Oslo) – seriam galardoados com o Nobel da Paz, “pelos seus esforços para conseguir a paz no Médio Oriente”.

1994 – Regresso de Arafat do exílio e criação da Autoridade Nacional Palestiniana

Meio ano depois da Declaração de Princípios, a 25 de fevereiro, um colono judeu mata 30 palestinianos em Hebron e o processo de negociações estanca.

A 3 de abril, começa a retirada israelita de Gaza e Jericó e retomam as negociações no Cairo.

Yasser Arafat regressa a Gaza, a 1 de julho, após 27 anos de exílio, e é criada a Autoridade Nacional Palestiniana (ANP).

1995 – Cimeira do Cairo e assassinato de Rabin

A 2 de fevereiro realiza-se uma histórica cimeira, no Cairo, que reativa o processo de paz entre israelitas e palestinianos.

A 4 de novembro, Yitzhak Rabin é assassinado por um extremista judeu que se opunha aos termos dos Acordos de Oslo.

A 27 de dezembro, o exército israelita conclui a retirada de seis cidades palestinianas, após 30 anos de ocupação.

1996 – Arafat é eleito presidente da nova Autoridade Nacional Palestiniana 

A 20 de janeiro, Yasser Arafat vence as eleições para a Autoridade Nacional Palestiniana, órgão provisório de autogoverno estabelecido em 1994, depois da retirada israelita de Gaza e Jericó.

1997 – Retirada israelita de Hebron 

A 15 de janeiro, o primeiro-ministro israelita, Benjamín Netanyahu, e Yasser Arafat firmam o acordo que permite a retirada do exército israelita de Hebron, na Cisjordânia.

1998 – Assinado Memorando de Wye River

É assinado o Memorando de Wye River, mediado pelos Estados Unidos, que prevê uma nova retirada do exército israelita da Cisjordânia.

O parlamento israelita aprova o memorando com uma votação expressiva.

1999 - “Paz em troca de territórios” 

O primeiro-ministro israelita Ehud Barak, eleito pelo Partido Trabalhista, recupera, a 17 de maio, a fórmula “paz em troca de territórios”.

O governo de Barak viria a organizar e implementar a retirada unilateral de Israel do Sul do Líbano.

2000 – Estala a segunda Intifada 

Em julho, fracassam as conversações da segunda edição dos Acordos de Camp David, entre Arafat e Barak, sob mediação do Presidente dos Estados Unidos, Bill Clinton.

A 28 de setembro, estala a segunda Intifada ou Intifada de Al-Aqsa, nome que remete para a mesquita situada na cidade velha de Jerusalém, terceiro local sagrado para os muçulmanos, depois de Meca e Medina.

O conflito, que durou do final de 2000 até ao começo de 2005, provocou centenas de mortos em ambos os lados.

 2001 – Fracassam as negociações entre as partes 

Logo em janeiro, fracassa, em Taba (Egito), a última tentativa de se alcançar um acordo entre as partes.

Em dezembro, Yasser Arafat e a ANP estão confinados a Ramallah, na Cisjordânia.

2002 – Israel dá luz verde ao muro de separação com a Cisjordânia

O governo israelita, liderado pelo falcão de direita Ariel Sharon (eleito pelo Likud), dá luz verde, a 16 de junho, à construção do muro de separação entre Israel e a Cisjordânia.

2003 – Anunciados o “Roteiro para a paz”

A 17 de maio é anunciado o “Roteiro para a paz”, plano dos Estados Unidos e apoiado pelos restantes membros do quarteto de negociadores internacionais, que inclui ainda as Nações Unidas, a União Europeia e a Rússia.

2004 – Morte de Arafat e eleição de Mahmud Abbas

Yasser Arafat morre a 11 de novembro e é substituído na ANP por Mahmud Abbas, que viria a ganhar as eleições de 9 de janeiro seguinte.

2005 – Israel retira-se da Faixa de Gaza 

Israel põe em marcha, a 15 de agosto, o plano de retirada unilateral dos seus soldados e de oito mil colonos judeus da Faixa de Gaza.

2006 – Hamas vence eleições em Gaza 

O movimento islamista integrista Hamas ganha, com maioria absoluta, as eleições legislativas de 25 de janeiro na Faixa de Gaza.

2007 – Hamas assume controlo de Gaza 

Em março, o Hamas e a Fatah (maior fação da OLP) formam um governo de unidade nacional na Palestina, que durará apenas três meses.

A 15 de junho, o Hamas assume, pela força, o controlo de Gaza e Mahmud Abbas dissolve o governo e forma um novo.

2008 - Governo palestiniano abandona negociações

A 14 de janeiro, numa primeira reunião importante em Annapolis (Maryland, Estados Unidos), são abordadas as questões das fronteiras e de Jerusalém como capital.

Entre 27 de dezembro e 18 de janeiro de 2009, a operação “Chumbo Endurecido”, levada a cabo por Israel contra o Hamas na Faixa de Gaza, causa 1.400 mortos.

O governo palestiniano abandona as negociações com Israel.

2009 – Netanyahu eleito 

Benjamin Netanyahu ganha, pelo partido de direita conservador Likud, as eleições de 10 de fevereiro em Israel.

2010 – Fracassam primeiras negociações entre Abbas e Netanyahu

A 2 e 3 de setembro, começam em Washington, sob a mediação do Presidente de Estados Unidos, Barak Obama, as primeiras negociações entre Abbas e Netanyahu, que fracassam depois de Israel retomar a construção de colonatos nos territórios ocupados da Palestina.

2011 – Palestina pede adesão às Nações Unidas

Numa intervenção histórica, Mahmud Abbas apresenta, a 23 de setembro, nas Nações Unidas, um pedido de adesão da Palestina como membro de pleno direito da organização internacional.

2012 – Nações Unidas atribuem estatuto de observador à Palestina 

A 29 de novembro, as Nações Unidas reconhecem a Palestina como Estado observador, mas não como membro.

2014 - Israel fecha acessos à Mesquita de Al-Aqsa 

A 7 de julho, Israel desencadeia contra Gaza a operação “Margem Protetora”, a maior desde 2008, causando mais de 1.460 mortos.

A 30 de outubro, a polícia israelita fecha os acessos à Mesquita de Al-Aqsa, o terceiro lugar mais sagrado para o islão.

2017 – Estados Unidos transferem embaixada para Jerusalém

A 6 de dezembro, o Presidente Donald Trump anuncia a transferência da embaixada dos Estados Unidos de Telavive para Jerusalém, no que foi considerado um ato de provocação, já que a cidade santa é reclamada como capital por israelitas e palestinianos.

A embaixada dos Estados Unidos em Jerusalém é inaugurada a 14 de maio de 2018, acompanhada por protestos em Gaza que se saldam em 60 palestinianos mortos.

2020 – Palestina põe fim a todos os acordos com Israel e Estados Unidos 

A 19 de maio, Mahmud Abbas anuncia o fim de todos os acordos com Israel e os Estados Unidos.

2021 – Israel põe fim a construção de barreira subterrânea na fronteira com Gaza 

Após o lançamento de foguetes a partir do território palestiniano, Israel desencadeia, a 10 de maio, uma operação em Gaza que provoca, numa semana, pelo menos 213 mortos, entre eles 59 menores.

A 7 de dezembro, Israel anuncia o fim da construção de uma barreira subterrânea na fronteira com Gaza, destinada a acabar com os túneis alegadamente utilizados para ataques pelas milícias palestinianas.

2022 – Operação israelita na Cisjordânia

A 31 de março, em resposta a vários ataques palestinianos, que provocaram 18 mortos, Israel desencadeia uma operação na Cisjordânia a operação que se prolongará durante meses.

O conflito entre Israel e Cisjordânia tem neste ano o seu balanço mais letal desde 2006, com 199 mortos (170 palestinianos e 29 israelitas).

2023 - ANP anuncia suspensão da cooperação com Israel 

Dez palestinianos morrem e dezenas ficam feridos durante uma incursão militar do exército israelita contra o campo de refugiados de Jenim, a 26 de janeiro.

A ANP anuncia a suspensão total da cooperação com Israel em matéria de segurança.

Israel e Gaza trocam ataques aéreos a 27 de janeiro.

A 12 de março, soldados israelitas matam três palestinianos em Nablus, na Cisjordânia, depois de estes abrirem fogo contra um posto militar.

A 9 de maio, começa uma nova onda de violência entre Israel e as milícias de Gaza, que lançam 547 foguetes e morteiros, com um balanço de pelo menos 28 palestinianos mortos.

A 21 de junho, um ataque aéreo com drones do exército israelita sobre a Cisjordânia ocupada, o primeiro desde 2006, marca uma nova escalada de violência, sem precedentes desde a segunda Intifada.

Israel lança, a 3 de julho, a operação militar de grande escala "Casa e Jardim", avançando, por terra e ar, sobre o campo de refugiados de Jenim e causando a morte a doze palestinianos e um soldado israelita.

A 7 de outubro, um ataque sem precedentes do Hamas em solo israelita, faz cerca de 1.200 mortos e mais de duas centenas de reféns. Começam de imediato os bombardeamentos de retaliação por parte de Israel a Gaza, assim como um cerco total ao enclave. O acordo de cessar-fogo é alcançado mais de um ano depois, a 15 de janeiro de 2025.

2025 - Israel e Hamas chegam a acordo para um cessar-fogo

Após intensas negociações, Israel e Hamas chegam a acordo para um cessar-fogo em Gaza. Este acordo, com início no dia 19 de janeiro de 2025, prevê três fases.

*Com Lusa