A ordem de trabalhos não foi divulgada pelo gabinete de imprensa do partido, mas os comunistas têm ainda pendentes a conclusão das teses ou projeto de resolução política e a proposta de composição do futuro comité central.
Os comunistas mantêm na sua agenda a reunião magna, apesar do agravamento da pandemia de covid-19, que levou o Presidente da República, por proposta do Governo, a decretar o estado de emergência, de 09 a 23 de novembro, nos 191 concelhos de maior risco, incluindo Loures.
Durante a semana, o recolher obrigatório tem de ser respeitado entre as 23:00 e as 05:00, enquanto nos fins de semana a circulação está limitada entre as 13:00 de sábado e as 05:00 de domingo e entre as 13:00 de domingo e as 05:00 de segunda-feira.
Apesar de não se saber se o estado de emergência será prolongado, Marcelo Rebelo de Sousa considerou, no sábado, que é "desejável" que o congresso do PCP decorra de acordo com as regras do estado de emergência, apesar de a lei salvaguardar reuniões políticas.
Nos últimos três dias, o PCP respondeu com silêncio a esta posição do Chefe do Estado.
Na última vez que falou sobre o assunto, na sexta-feira Jerónimo considerou que “seria inaceitável” adiar o congresso, por estarem em causa direitos constitucionais que o estado de emergência não altera, e afirmou, com um sorriso, que “só uma desgraça” na direção poderia alterar os planos dos comunistas.
Em entrevista à rádio Observador, Jerónimo de Sousa afirmou que o congresso, com metade dos delegados e sem convidados, nacionais e estrangeiros, está a ser preparado respeitando “as orientações da parte da Direcção-Geral de Saúde (DGS)”, cumprindo “normas e preceitos” para a “salvaguarda da saúde e bem-estar dos delegados”.
A menos de duas semanas do congresso nacional de 27 a 29 de novembro, em Loures, distrito de Lisboa, é ainda uma incógnita se Jerónimo de Sousa, operário natural de Pirescoxe (Loures) que foi deputado à Assembleia Constituinte, em 1975, vai ou não continuar à frente do partido dos comunistas portugueses.
Se em 2019, numa entrevista à Lusa, admitiu sair da liderança porque “é a lei da dívida”, em setembro aconselhou o voto numa “tripla” sobre o seu futuro – “sair, ficar ou ficar mais um bocadinho”.
E em 12 de outubro disse: “O meu partido precisa ainda da minha contribuição.”
Passados 12 dias, em 24 de outubro, o Público noticiou que Jerónimo deverá continuar secretário-geral, com a explicação de que uma decisão desta importância “teria de ter mais envolvimento da militância”, nas palavras de um dirigente comunista.
Até ao congresso, o PCP tem ainda pendentes várias questões, como a conclusão da proposta de composição do futuro comité central, a ser eleito no congresso, e que vai escolher o secretário-geral do PCP.
É ainda necessário concluir o processo do debate interno das chamadas Teses – projeto de resolução política, que define a estratégia do partido para os próximos quatro anos.
Nas teses, divulgadas em 24 de setembro, o PCP faz um balanço positivo, embora com resultados limitados, dos anos da “geringonça”, um período de 2015 a 2019 que, embora complexo e "com contradições", não pode ser usado para “branquear a política e ação do PS”.
Numa entrevista ao jornal Avante, em 08 de outubro, o secretário-geral do PCP colocou entraves a entendimentos futuros com os socialistas, devido às “opções de classe do PS”, que associou à “política de direita”.
O XXI congresso do PCP realiza-se em 27, 28 e 29 de novembro de 2020 no Pavilhão Paz e Amizade, em Loures, sob o lema "Organizar, Lutar, Avançar - Democracia e Socialismo".
Comunistas escolhem líder em comité central após uma “auscultação”
O secretário-geral do PCP é escolhido, não pelos congressistas, mas pelo comité central do partido, reunido no segundo dia do congresso e ninguém formalmente é candidato mas o nome é discutido entre os dirigentes numa discreta “auscultação”.
Por imposição da lei dos partidos políticos, que os comunistas contestaram, o PCP elege o seu comité central por voto secreto.
Isso acontece no congresso, neste caso, na noite de sábado, 27 de novembro e os comunistas afirmam as suas diferenças relativamente aos outros partidos – não há candidatos “a chefes” que chegam com a sua “moção de estratégia em que ninguém toca”, como já ironizou Jerónimo de Sousa, o atual secretário-geral.
O processo para a escolha do novo comité central começa semanas, meses antes da reunião mais importante do partido, que se faz de quatro em quatro anos.
Na descrição feita à Lusa por membros do comité central, há um grupo de dirigentes que tem por missão “auscultar os membros do comité central” e da direcão do partido sobre a composição do futuro órgão máximo.
A “auscultação” é “feita pessoalmente, frente a frente”, e “não há listas nem ‘short lists’”, de acordo dirigentes ouvidos pela Lusa.
Depois, há uma reunião do comité central que aprova uma proposta de composição dos órgãos nacionais do partido que ainda pode ser alterada durante o congresso – e isso já aconteceu no passado.
Já quanto à escolha do secretário-geral, a auscultação é também feita entre os membros da direção, “sem ‘sort lists’”, embora “se vá formando uma tendência ou uma falta dela”.
“A discussão de nomes, incluindo do secretário-geral, é feita de forma aberta”, na descrição feita por um dos membros.
Isso aconteceu na sucessão de Carlos Carvalhas, em 2014, em que se formou uma tendência maioritária, ou uma “inclinação consensualizada” dos órgãos executivos a favor de Jerónimo de Sousa, o segundo secretário-geral de origem operária, depois de Bento Gonçalves.
O resultado da auscultação - em que o ou os potenciais líderes são também ouvidos - é depois analisado pelos organismos executivos - secretariado e comissão política cessantes – que propõem o nome do próximo secretário-geral ao comité central.
Para o XXI congresso nacional, de 27 a 29 de novembro, em Loures (distrito de Lisboa), esse processo está em curso há semanas, mas não se sabe ainda se Jerónimo de Sousa vai ou não continuar à frente dos comunistas portugueses.
Se em 2019, numa entrevista à Lusa, admitiu sair da liderança porque “é a lei da dívida”, mas, em setembro, Jerónimo admitiu implicitamente continuar na liderança ao aconselhar uma “tripla” sobre o seu futuro – “sair, ficar ou ficar mais um bocadinho”.
E em 12 de outubro, na entrevista à SIC, disse: “O meu partido precisa ainda da minha contribuição.”
Passados 12 dias, em 24 de outubro, o Público noticiou que Jerónimo deverá continuar secretário-geral, com a explicação de que uma decisão desta importância “teria de ter mais envolvimento da militância”, nas palavras de um dirigente comunista.
O Partido Comunista Português foi criado em 1921 e teve, ao longo da sua história, cinco secretários-gerais, tendo Álvaro Cunhal sido o mais marcante, durante 32 anos, entre 1961 e 1992.
O primeiro, de 1921 a 1929, foi José Carlos Rates, que viria a ser expulso.
Seguiu-se Bento Gonçalves, de 1929 a 1942 e na década de 1940 a 1961 houve um período sem secretário-geral, antes de Cunhal ser escolhido.
Carlos Carvalhas foi líder do partido de 1992 e 2004, ano em que é escolhido Jerónimo de Sousa, que está na liderança há 16 anos.
[Atualizada às 13:52]
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