“Tivemos que, realmente, inovar e criar novas metodologias, abdicando-se dos métodos tradicionais de telemetria, como sempre fizemos e fazem os colegas a nível internacional”, disse à agência Lusa o biólogo marinho Jorge Fontes, do Departamento de Oceanografia e Pescas da Universidade dos Açores.

Segundo Jorge Fontes, o método tradicional da telemetria passa pela captura, retenção e formas de colocar transmissores “bastante invasiva”, através da colocação de um pequeno arpão no músculo do animal.

Agora, com recurso ao mergulho, são instalados nos animais aparelhos “sem que estes se apercebam que estão a ser seguidos e manipulados”, explicou.

O especialista em ecologia marinha precisou que estes aparelhos são transmissores em formato de argola colocados nos animais junto à barbatana quando estes estão em “completa liberdade”, residindo também a inovação nas plataformas de receção de dados.

Esta é, também, resultado de uma parceria com um centro de inovação e engenharia sediado em Matosinhos que desenvolve trabalhos para a indústria aeronáutica, aeroespacial e mobilidade elétrica, entre outras áreas.

Jorge Fontes acrescentou que o projeto, iniciado há cerca de um ano, pretende apurar onde andam as jamantas e os tubarões azuis quando não estão nos Açores e a importância do arquipélago para o seu ciclo de vida.

O biólogo considerou que o estudo resultante deste trabalho é “muito mais importante” no caso das jamantas, porque se “conhece muito mal a sua ecologia”.

“Conhece-se ainda muito pouco sobre o que fazem quando estão nos Açores, uma vez que se trata de uma espécie sazonal que se agrega em apenas dois montes submarinos na região”, que não se encontra ameaçada, mas que “já coloca preocupações em termos de conservação”, declarou.

De acordo com o investigador, “já existe uma ideia muito melhor relativamente à sua ecologia espacial, particularmente os padrões de migração e utilização do seu ‘habitat’ do que há alguns anos”.

Com o trabalho já desenvolvido com as jamantas - que foram seguidas durante seis a nove meses após o início das suas migrações - foi possível concluir que “fizeram um percurso idêntico, rumando a sul, até Cabo Verde” no início do outono, apontou.

"Os tubarões azuis são um quadro muito mais complexo, utilizam todo o oceano, estando a espécie no arquipélago todo o ano, embora sejam segmentos diferentes da mesma população e com hábitos diferentes em função da época do ano", disse.

Jorge Fontes declarou que, para já, a presença das empresas marítimo-turísticas não tem gerado “nenhum impacto negativo” nos 'habitats' das jamantas, mas "com o previsível crescimento desta atividade há que conhecê-los para adotar medidas que visem mitigar eventuais impactos".

O investigador estima que nos próximos dois anos serão conhecidas as conclusões deste trabalho, cuja divulgação poderá apoiar a atividade marítimo-turística, para que seja “sustentável e responsável".