Numa conferência de imprensa do grupo Like-Minded Developing Countries (LMDC), o chefe de delegação da Bolívia, Diego Pacheco, disse que um rascunho de texto final publicado na quarta-feira tem uma abordagem demasiado centrada na mitigação, que prevê medidas como redução de emissões, introdução de energias renováveis ou florestação para reduzir o impacto das alterações climáticas.
“Eles estão a tentar impor novas regras ao mundo em desenvolvimento, estão a tentar impor a regra da neutralidade carbónica até 2050 para todos os países do mundo”, queixou-se o representante da Bolívia na 26.ª Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas (COP26).
Segundo o diplomata boliviano, este “colonialismo carbónico” pretende colocar todos os países no mesmo patamar e não tem em conta as responsabilidades históricas dos países desenvolvidos nas emissões de gases com efeito de estufa que resultaram na crise climática.
“Se aceitarmos a meta da neutralidade carbónica até 2050 para todos os países do mundo, o mundo em desenvolvimento ficará encurralado porque só os países desenvolvidos terão a capacidade financeira e as condições tecnológicas para atingir esse objetivo”, afirmou.
O grupo LMDC, disse, está a tentar “por algum equilíbrio nesta discussão” e tentar “operacionalizar a justiça climática”, insistindo nas obrigações dos países mais ricos no financiamento dos países em desenvolvimento para resolverem as questões do clima.
Num evento separado, também a Rede Internacional de Organizações Ambientais (CAN) falou na necessidade de maior “equilíbrio no texto” que tenha em conta a “responsabilidade moral” dos países desenvolvidos em relação aos países que mais sofrem o impacto das alterações climáticas.
Catherine Pettengell, diretora da CAN no Reino Unido, admitiu que não seja possível alcançar as metas de redução de emissões de gases com efeito de estufa que limitem o aquecimento global a 1,5 ºC em Glasgow, mas espera que possam ser atingidas em 2022.
"Ouvimos muitos oradores falarem sobre isso, e é o que a COP precisa finalmente de tornar uma realidade. Não podemos esperar que essa obrigação moral demore ainda mais”, argumentou.
Numa outra conferência de imprensa, a organização ambientalista WWF defendeu que o texto das conclusões da COP26 "ainda precisa de mais clareza, datas e prazos mais claros, por exemplo sobre a eliminação gradual do carvão ou algum mecanismo mais operacional para a eliminação de subsídios de combustíveis fósseis”.
Manuel Pulgar-Vidal, líder mundial sobre as questões de clima e energia da WWF, também manifestou otimismo pelo “sinal político” dado pela declaração de colaboração entre China e Estados Unidos divulgada na quarta-feira.
A declaração, disse, “reconhece a importância de ter dois países que representem mais de 40% das emissões a falar sobre a necessidade de aumentar a ambição”, lembrando que foi o entendimento entre Pequim e Washington que permitiu o Acordo de Paris na COP21 em 2015.
A presidência britânica da COP26 publicou na quarta-feira uma série de versões preliminares das conclusões e decisões da cimeira do clima a decorrer em Glasgow, apelando para que todos os países reforcem no próximo ano os seus compromissos para travar as alterações climáticas.
Mas países em desenvolvimento consideram que o texto não é suficientemente robusto para os proteger do impacto do aquecimento global e exigem maior empenho e apoio dos países ricos.
A COP26 decorre seis anos após o Acordo de Paris, que estabeleceu como meta limitar o aumento da temperatura média global do planeta entre 1,5 e 2 graus celsius acima dos valores da época pré-industrial.
Apesar dos compromissos assumidos, as concentrações de gases com efeito de estufa atingiram níveis recorde em 2020, mesmo com a desaceleração económica provocada pela pandemia de covid-19, segundo a ONU, que estima que ao atual ritmo de emissões, as temperaturas serão no final do século superiores em 2,7 ºC.
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