* Bruno Manteigas, enviado da Agência Lusa

O desfile começou em Kelvingrove Park e caminhou lentamente em direção a George Square, praça no centro da cidade, encabeçado por um grupo de indígenas da Amazónia e por cartazes onde se lê “COP26, age agora, para os combustíveis fósseis” e “Parem as Alterações climáticas”.

Theo, um dos membros da organização, disse esperar que a marcha mobilize mais de 20.000 pessoas que “confrontem os políticos, gritem muito, porque claramente eles não nos estão a escutar”.

As mensagens escritas nos posters caseiros misturam humor e palavras firmes, como “Estamos a faltar às lições para vos dar uma”, “Não queimem o nosso futuro” e “Nenhuma espécie inteligente arruinaria o seu próprio ambiente”.

A multidão é composta por pessoas de diferentes idades, incluindo famílias com crianças em carrinhos ou ao colo, embora a organização seja de estudantes escoceses do movimento “Fridays for Future” [Sexta-feiras pelo Futuro], o movimento de protesto iniciado pela sueca Greta Thunberg.

A ativista, que também participa na manifestação, é uma das oradoras do comício previsto para o final do protesto final.

Na véspera, Greta Thunberg criticou a reunião das Nações Unidas (COP26), que hoje dedica o dia à Juventude, por não ser suficientemente inclusiva e por ser ter tornado num “festival de propaganda ambiental do norte do mundo”.

“Uma celebração ao longo de duas semanas do ‘business as usual’ e blá, blá, blá”, escreveu na rede social Twitter.

Foi ela que começou a greve estudantil às sextas-feiras em 2019, movimento que, entretanto, se espalhou por numerosos países no mundo para pressionar os líderes a agir mais rapidamente contra as alterações climáticas.

Interrompidas pela pandemia covid-19, as manifestações semanais de sexta-feira foram retomadas recentemente.

Cristina, uma jovem escocesa de 12 anos que tem participado em alguns destes protestos, disse à Agência Lusa que faltou hoje às aulas para estar na manifestação porque considera importante enviar uma mensagem forte aos líderes mundiais.

“Já não temos muito tempo para impedir uma catástrofe ambiental, por isso é preciso passar das palavras às ações. É preciso que eles nos escutem, porque somos nós que vamos sofrer as consequências”, afirmou.

Jenny Chisolm viajou do País de Gales com uma faixa de 16 metros feita por crianças do ensino primário onde escreveram o que pensavam.

“Explicámos o que se está a passar, mas eram eles que escolhiam os desenhos e as palavras que escreviam. Algumas são bastante chocantes e lúcidas, como ‘Quando acabar, acabou’”, confessou à Lusa.

O ambiente é de festa, com música de percussão e gritos de ordem a pedir “justiça climática”, apesar do forte dispositivo policial imposto para evitar distúrbios.

Centenas de polícias que deverão voltar às ruas novamente no sábado para vigiar uma nova marcha denominada de "Dia Mundial pela Justiça Climática", que se espera ainda maior.

Mais de 120 líderes políticos e milhares de especialistas, ativistas e decisores públicos reúnem-se até 12 de novembro, em Glasgow, na Escócia, na 26.ª Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas (COP26) para atualizar os contributos dos países para a redução das emissões de gases com efeito de estufa até 2030.

A COP26 decorre seis anos após o Acordo de Paris, que estabeleceu como meta limitar o aumento da temperatura média global do planeta a entre 1,5 e 2 graus celsius acima dos valores da época pré-industrial.

Apesar dos compromissos assumidos, as concentrações de gases com efeito de estufa atingiram níveis recorde em 2020, mesmo com a desaceleração económica provocada pela pandemia de covid-19, segundo a ONU, que estima que, ao atual ritmo de emissões, as temperaturas serão no final do século superiores em 2,7 ºC.