“O mais importante é esgotar todas as possibilidades de ação de natureza político-diplomática. Todos temos consciência de que qualquer iniciativa de natureza militar pode ter consequências imprevisíveis”, disse Augusto Santos Silva, por telefone, à Lusa, a partir de Tallin, capital da Estónia, onde participa hoje na reunião informal do Conselho de Ministros dos Negócios Estrangeiros da União Europeia.
O chefe da diplomacia portuguesa acrescentou: “Não quer dizer que nos autolimitemos, como comunidade internacional, aos meios de natureza político-diplomática, quer dizer que procuramos esgotá-los todos antes de qualquer outra consideração”.
Santos Silva considerou “muito importante combinar entre os meios de pressão - as sanções económicas são o mais poderoso meio de pressão -, e a necessidade de usar também canais diplomáticos para ir construindo soluções”.
Na reunião, que começou na quinta-feira e termina hoje e que serve apenas para diálogo entre os chefes da diplomacia europeus e não para aprovar medidas, foi abordada a possibilidade de a União Europeia “aprovar autonomamente” sanções contra o regime de Kim Jong-un, além de acatar as resoluções do Conselho de Segurança das Nações Unidas.
“Do ponto de vista europeu, os meios de pressão, nomeadamente as sanções, nunca são um fim em si mesmo, são instrumentais para criar condições para que soluções políticas possam ser obtidas”, mencionou.
Questionado se os ministros europeus discutiram o anúncio do Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de que o seu país está a ponderar suspender "todo o comércio" com qualquer nação que faça trocas comerciais com a Coreia do Norte, Santos Silva afirmou que o debate se centrou mais no ponto de vista europeu.
“É preciso sempre distinguir o que são as posições oficiais que a diplomacia norte-americana exprime de outras declarações”, ressalvou.
A Coreia do Norte anunciou no domingo ter testado com sucesso uma bomba de hidrogénio.
O governante português destacou o “papel muito relevante da China, até por causa dos estreitos laços económicos que existem entre a Coreia do Norte e a China”, recordando que mais de 90% do comércio externo de Pyongyang faz-se por Pequim.
No encontro, outro tema abordado foi o processo de paz israelo-palestiniano.
“Infelizmente, nos últimos meses, em resultado das atenções viradas para outros assuntos, tem estado fora do radar da diplomacia internacional, o que é um erro”, disse, apontando a “situação muito difícil” que se vive nos territórios palestinianos e em Jerusalém Leste.
A prossecução da extensão de colonatos e a criação de novos colonatos pelo Estado israelita “é uma dificuldade adicional ao processo de paz” e “deve ser terminada”, considerou Santos Silva, que reiterou a posição da UE de que “a única solução viável e justa é a dos dois Estados – israelita e palestiniano -, em paz e ao lado um do outro”.
Os ministros debateram também a relação com os países candidatos à adesão à UE – Turquia, Sérvia, Albânia, Montenegro e Macedónia –, em particular sobre o combate e prevenção da radicalização e extremismo violento.
Sobre a Venezuela, a UE continua a instar à necessidade de diálogo e compromisso político entre o Governo de Nicolás Maduro e a oposição, apelando à libertação dos opositores, ao “reconhecimento pleno das competências da Assembleia Nacional” - onde a oposição tem maioria - e que, sublinhou, “não se pode confundir com a Assembleia Constituinte”, cuja eleição foi convocada pelo Presidente venezuelano, perante protestos de grande parte da comunidade internacional.
Da agenda da reunião fazia também parte um encontro informal com os países da periferia leste da União Europeia.
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