A opinião é do Coronel Lemos Pires, do Exército Português, que entende que esta ação dos Estados Unidos da América (EUA) é uma resposta "ao espraiamento” dos afiliados do Estado Islâmico (EI) e da Al-Quaida, nomeadamente para o Paquistão, Índia ou Bangladesh.
"Tinha de haver aqui um sinal muito claro de interromper os movimentos crescentes das bases territoriais que entretanto os grupos tinham ganho. Nestas fases de planeamento estratégico a primeira coisa a fazer é ganhar o momento, é ganhar iniciativa estratégica. E como é que se ganha isto? A primeira coisa a fazer é impedir a liberdade de movimentos”, disse à Lusa o oficial, que esteve em várias missões no Afeganistão.
Segundo Lemos Pires, a escolha do alvo, uma zona afastada de civis, com túneis e grutas “que serviam para fazer circular os terroristas” do EI que “tentavam entrar no Paquistão e no Afeganistão” ou para se deslocarem para outras zonas e aí realizarem os seus ataques, faz parte da estratégia militar delineada pelos EUA com um objetivo.
“É uma forma estratégica de reganhar iniciativa e de conseguir interromper a liberdade de movimentos, obrigando a quem está neste terreno a não poder manobrar de um sítio para o outro. Esta é a grande iniciativa estratégica que está a ser feita pelos Estados Unidos”, sublinhou o oficial.
O coronel Lemos Pires explicou à Lusa que esta bomba “só pode ser utilizada em zonas muito abertas” e onde não haja civis.
“Porque os efeitos são devastadores, os riscos, os efeitos negativos e depois a própria opinião pública iriam opor-se fortemente se isso atingisse aldeias. Só mesmo em zonas altamente despovoadas, montanhosas, de grutas, é que se pode entender que seja utilizada. É uma bomba que nunca foi utilizada e com razão e que deve continuar a ser utilizada com muito controlo”, defende este especialista.
A escolha do alvo e da munição adequada “é sempre um processo que tem uma dose política” e “altamente complexo” porque há o risco de os civis se virarem contra o autor, “se não for tudo bem pensado, adequado e no uso legítimo da força”.
Para Lemos Pires, o lançamento desta bomba de 11 toneladas de explosivos, na província de Nangarhar (zona leste do Afeganistão), não é uma demonstração de força dos EUA para intimidar a Coreia do Norte, a China ou o Japão, pois o orçamento norte-americano e os seus equipamentos são muito superiores e qualquer líder mundial conhece o poderio bélico dos EUA.
“A determinação americana começou com o lançamento dos mísseis 'Tomahawk' no ataque à Síria. E quando aquele ataque foi feito foi uma demonstração de capacidade interventiva. No fundo, recuperando aquela velha frase de Clinton: vamos de forma multilateral sempre que pudermos, mas unilateralmente sempre que tivermos de ir”.
Os EUA utilizaram hoje a sua bomba não-nuclear mais potente, apelidada como “a mãe de todas as bombas”, no Afeganistão contra o grupo extremista Estado Islâmico (EI), segundo um porta-voz do Departamento de Defesa norte-americano (Pentágono).
Pela primeira vez na sua história, os Estados Unidos utilizaram, em modo de combate, a bomba GBU-43 Massive Ordnance Air Blast (MOAB), um gigantesco projétil desenhado para destruir complexos de grutas e túneis subterrâneos.
O ataque com esta bomba, com cerca de 11 toneladas de explosivos, atingiu um “conjunto de grutas” na província de Nangarhar (zona leste do Afeganistão), território onde um soldado americano foi morto no passado fim de semana durante uma operação contra os ‘jihadistas’.
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