António Costa falava aos jornalistas antes de participar num almoço comemorativo dos 25 anos da abertura da Expo 98, depois de confrontado com o teor do discurso contra o atual Governo proferido pelo ex-chefe de Estado no sábado, durante uma iniciativa do PSD.

“Percebo bem que alguém com muitos anos de militância partidária, que teve a enorme frustração de concluir o seu mandato presidencial dando posse a um Governo que de todo em todo não desejava dar posse, tenho ficado com essa mágoa. Volta e meia despe a sua função institucional e, na sua qualidade partidária, alimenta” a ideia de crise política, reagiu o líder do executivo.

No sábado, durante o 3.º Encontro Nacional dos Autarcas Social-Democratas (ASD), em Lisboa, o antigo Presidente da República Aníbal Cavaco Silva acusou o Governo de ser especialista em “mentira e propaganda” e, considerou que o primeiro-ministro perdeu a autoridade e não desempenha as competências que a Constituição lhe atribui, sugerindo a sua demissão.

António Costa procurou desdramatizar essas acusações feitas pelo antigo primeiro-ministro (1985/1995) e antigo Presidente da Republica (2006/2016).

“Tenho tanta consideração por Cavaco Silva quanto habitualmente divergimos um do outro, mas toda a consideração pessoal, e percebo bem as obrigações que os militantes partidários por vezes têm de cumprir perante o seu próprio partido”, disse.

Segundo o atual primeiro-ministro, “sendo Cavaco Silva um reputado economista e um grande especialista nos ciclos económicos, percebe bem qual a dinâmica que a economia portuguesa hoje está a ter”.

“Com a enorme experiência política que tem Cavaco Silva, percebe bem que cada dia que passa é um dia em que as pessoas vão sentir de forma mais concreta a recuperação da economia. Para haver crise política, ela tem de ser artificialmente criada e precipitada o mais rapidamente possível”, sustentou.

Pelo contrário, de acordo com António Costa, o “Governo tem um bom horizonte onde é necessário trabalhar e, para isso, é fundamental evitar crises políticas”.

“A minha grande prioridade é mantermos este ritmo de crescimento da economia, estabilizar o emprego, continuar a combater a inflação e trabalhar para se manter a trajetória de recuperação dos rendimentos”, alegou.

Interrogado se concorda com a posição do líder parlamentar do PS, Eurico Brilhante Dias, segundo a qual Cavaco Silva usou em relação aos socialistas uma linguagem ofensiva e antidemocrática, António Costa disse perceber, até por experiência própria, que, durante ações partidárias, “as pessoas se excedem um pouco naquilo que dizem”.

“Mesmo uma pessoa como o professor Cavaco Silva, que é seguramente o político no ativo com mais anos de atividades e mais anos de experiência, o pode fazer”, comentou.

No entanto, para o primeiro-ministro, o que é significativo foi o facto de ter sido o ex-Presidente da República a fazê-lo no sábado passado.

“Não me sinto ofendido, faz parte da luta política, mas, enquanto primeiro-ministro, tenho de me pôr acima desse terrenos e tenho de me focar no interesse nacional e nos interesses dos portugueses”, acrescentou.