Falando em Matosinhos, num comício de apoio à presidente do município e candidata a um novo mandato, Luísa Salgueiro, António Costa deixou críticas ao encerramento da refinaria no concelho, no distrito do Porto, na sequência da decisão da Galp de concentrar as operações em Sines.

“Era difícil imaginar tanto disparate, tanta asneira, tanta insensibilidade, tanta irresponsabilidade, tanta falta de solidariedade como aquela que a Galp deu provas aqui em Matosinhos”, apontou.

Considerando que o processo da empresa em Matosinhos constitui “um exemplo de escola de tudo aquilo que não deve ser feito por uma empresa que seja uma empresa responsável”, o também primeiro-ministro elencou três dimensões que testemunham a irresponsabilidade e a insensibilidade da Galp.

“A Galp começou por revelar total insensibilidade social ao escolher o dia 20 de dezembro, a cinco dias do Natal, para anunciar aos seus 1.600 trabalhadores que iria encerrar a refinaria de Matosinhos”, apontou.

Num segundo momento, salientou o secretário-geral do PS, a empresa mostrou “total irresponsabilidade social” porque, contrariamente “ao que estão a fazer as empresas que estão agora a encerrar as suas centrais a carvão”, não preparou “minimamente a requalificação e as novas oportunidades de trabalho e de prosseguir a vida para os trabalhadores que iriam perder os seus postos de trabalho”.

“E, em terceiro lugar, não revelou a menor consciência de responsabilidade que qualquer empresa – e em particular uma empresa daquela dimensão – tem para com o território onde está instalada, onde deixa um enorme passivo ambiental de solos contaminados, não dialogando previamente com a Câmara nem com o Estado sobre o que é que pretende fazer depois de encerrar aquela refinaria aqui em Matosinhos”, afirmou.

António Costa reconheceu que é necessário fazer uma transição energética e trabalhar para a descarbonização da economia, mas afirmou que é preciso fazê-lo com consciência social e responsabilidade.

“E é para isso que o Fundo de Transição justa tem de ser ativado, para trabalharmos em conjunto com o município de Matosinhos para garantir que, em primeiro lugar, aqueles que perdem aqui o seu posto de trabalho têm novas oportunidades para prosseguirem com dignidade a sua vida”, referiu.

António Costa salientou também que pretende trabalhar com o município para garantir que o território antes ocupado pela refinaria não será agora utilizado pela Galp como “lhe der na real gana”, mas antes para desenvolver “a economia e para o progresso do território de Matosinhos”.

Dirigindo-se diretamente à cabeça de lista socialista no concelho, que o ouvia na plateia, António Costa apelou para que Luísa Salgueiro utilize “todos os mecanismos legais que as leis do ordenamento do território colocam nas mãos do município para garantir que naqueles terrenos só se fará o que o município de Matosinhos autorizar e só autorizará o que for para bem do progresso desta região”.

“Eu quero deixar claro: nada tenho contra a empresa. Agora, há algo que eu tenho: é que, neste início de processo de transição, este processo tem de ser exemplar. E quem se porta assim tem de levar uma lição. Tem de levar uma lição para que esta lição seja exemplar para todas as outras empresas que vão ter de enfrentar processos semelhantes, neste processo de transição energética”, frisou.

A Galp desligou a última unidade de produção da refinaria de Matosinhos em 30 de abril, na sequência da decisão de concentrar as operações em Sines.

A petrolífera justificou a “decisão complexa” de encerramento da refinaria com base numa avaliação do contexto europeu e mundial da refinação, bem como nos desafios de sustentabilidade, a que se juntaram as características das instalações.

O encerramento da refinaria de Matosinhos, em abril, representa perdas de 5% do PIB em Matosinhos e de 1% na Área Metropolitana do Porto, segundo um estudo socioeconómico a que a Lusa teve acesso.

O estudo, encomendado pela Câmara Municipal de Matosinhos à Universidade do Porto para avaliar os impactos socioeconómicos do fecho do complexo petroquímico no concelho, traça um “cenário particularmente grave” para a região Norte e para o país, caso não seja dado qualquer destino àquela instalação industrial.

O Estado é um dos acionistas da Galp, com uma participação de 7%, através da Parpública.

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