António Costa assumiu esta posição no discurso que proferiu na cerimónia de encerramento do Dia Mundial da Língua Portuguesa, no Museu Nacional do Teatro e da Dança, em Lisboa, em que também esteve presente o ministro dos Negócios Estrangeiros, João Gomes Cravinho.

Tendo a ouvi-lo embaixadores e representantes diplomáticos de Estados-membros da Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP), António Costa abordou sobretudo as questões da dimensão “universal” da língua e das suas perspetivas de futuro em termos de número falantes.

O primeiro-ministro salientou então “a importância do ensino da língua portuguesa nos países estrangeiros, onde existem comunidades de falantes, mas em que há sobretudo um interesse crescente por esta língua”.

“Esse interesse vai ser cada vez maior, não apenas por sermos a língua mais falada do hemisfério sul, a quarta mais falada a nível mundial e a quinta na internet, mas também por ser uma língua que terá um crescimento demográfico muito significativo. Hoje somos 260 milhões, brevemente seremos 400 milhões e no final do século tudo indica que serão 500 milhões a falar português”, apontou.

Pegando nestes indicadores, António Costa defendeu que a língua portuguesa “está em crescimento, em desenvolvimento e será cada vez mais relevante em todos os domínios”, desde a ciência, passando pela atividade económica, até à cultura.

Perante os representantes diplomáticos da CPLP, António Costa deixou uma mensagem de caráter histórico e político, apontando que este é o ano em que em Portugal a duração da democracia ultrapassou em longevidade o anterior período de ditadura.

“Estas línguas falam hoje todas em liberdade e há 49 anos nenhuma delas falava em liberdade. Portugal estava em ditadura, o Brasil vivia em ditadura e todos os outros povos estavam privados da liberdade pelo colonialismo. Portugal libertou-se [com o 25 de Abril de 1974], o colonialismo acabou, o Brasil restaurou a democracia”, completou.

Após este contexto, António Costa concluiu: “Em todos estes países expressamo-nos numa língua livre e onde se pode expressar e viver em democracia”.

“Acho que essa é uma grande vitória. Significa que essa liberdade é o que ajudará a enriquecer cada vez mais a nossa língua. A língua enriquece-se, constrói-se no exercício livre da palavra e da forma como a utilizamos”, sustentou

No início da sua intervenção, o líder do executivo referiu também que neste momento em Luanda estão reunidos os ministros da Cultura da CPLP e que o presidente da Assembleia da República se encontra em visita oficial ao Brasil, assinalando o Dia Mundial da Língua Portuguesa.

“Quero também sublinhar o esforço que o Brasil fez na reconstrução do Museu da Língua Portuguesa em São Paulo, após o trágico incêndio que o destruiu. Na inauguração esteve o nosso Presidente da República [Marcelo Rebelo de Sousa]”, assinalou.

Antes, o primeiro-ministro inaugurou no Museu Nacional do Teatro e da Dança uma exposição intitulada “Mulheres saramaguianas” no âmbito das comemorações do centenário do nascimento de José Saramago.

Na cerimónia, aberta com um breve discurso do presidente do Camões, o embaixador João Ribeiro de Almeida, durante o qual destacou os progressos do português enquanto língua de ciência, comunicação e cultura, o ministro dos Negócios Estrangeiros considerou que o português “é uma língua cada vez mais mundial”, salientando o crescimento que tem na América Latina e África.

Tendo a escutá-lo o seu secretário de Estado dos Negócios e Cooperação, Francisco André, João Gomes Cravinho identificou como principal desafio “procurar alavancar as enormes potencialidades” da língua portuguesa.

“A título de exemplo, temos em países de língua portuguesa 3,6% da riqueza do mundo, 5,45% do tamanho global das plataformas marítimas e 16% da disponibilidade mundial de reservas de água doce. Se temos na base da língua portuguesa esta riqueza, é importante que a nossa língua seja também de negócios e de influência económica internacional”, acentuou.

O ministro dos Negócios Estrangeiros considerou ainda que, na área da ciência, a língua portuguesa “tem conseguido criar espaços próprios de publicação, através de revistas, colóquios ou portais”.

“É preciso promover a língua portuguesa como língua de comunicação científica. Se a nossa língua for projetada, os nossos países que falam portugueses também serão projetados”, advogou perante uma plateia em que estavam diplomatas de países da CPLP.

No final da sua intervenção, João Gomes Cravinho destacou que também se “está a celebrar “o regresso da revista Camões, criada em 1998, após um interregno de sete anos. Este ano teremos ainda um segundo número da revista dedicado a José Saramago”, acrescentou.