Depois de ela própria ter estado infetada com o vírus responsável pela covid-19, a diretora-geral da Saúde regressou esta terça-feira às conferências de imprensa de atualização dos dados da pandemia em Portugal. Graça Freitas, que esteve ausente cerca de três semanas, revela ter tido cura clínica e sem fazer novo teste.
“Felizmente, tive doença ligeira, cumpri à risca as normas da Direção-Geral da Saúde e tive alta ao 20.º dia com cura clínica. Não precisei de fazer teste e estou a trabalhar normalmente”, explicou, assegurando ter “observado todas as medidas de segurança” desde o início da pandemia: “Todos temos de tomar precauções, ser cuidadosos, observar uma série de regras e mesmo assim não há risco zero”.
A diretora-geral da Saúde, Graça Freitas, alertou ainda para os riscos dos convívios familiares no Natal na transmissão do SARS-CoV-2 e lembrou aos portugueses a “responsabilidade” de não se quebrar a tendência decrescente da pandemia.
“Nesta época festiva, o convívio seja entre coabitantes ou núcleos familiares diferentes pode assumir um grande relevo na transmissão do vírus. Assim, os afetos devem ser transmitidos, mantendo-se a distância física. É uma doença que sofre flutuações, temos levado muitas semanas para inverter a tendência crescente e, portanto, temos uma responsabilidade acrescida de não retroceder no número de casos”, afirmou.
Graça Freitas pediu às pessoas isoladas para não verem ou contactarem outras pessoas durante o período de isolamento, assumindo que “custa um bocadinho”, mas notando que “devem manter-se sempre nos próximos meses as regras básicas” de combate à pandemia, independentemente da chegada da vacina.
“Nestes tempos em que o cumprimento das medidas é a principal forma de controlo, há uma esperança. Neste Natal, a ciência e o conhecimento alimentam a esperança de todos o mundo com a vacinação contra a covid-19. Em relação à vacinação só há três palavras que se aplicam: vacinar, vacinar, vacinar. Quando tivermos vacinas disponíveis, devemos aproveitar”, frisou.
Perante o início iminente da vacinação contra a covid-19 em Portugal a partir de dia 27, Graça Freitas vincou a necessidade de manter a vigilância sobre os comportamentos individuais e coletivos, no sentido de manter a propagação do SARS-CoV-2 sob controlo, e apelou ao cumprimento das normas sanitárias.
“Mesmo observando todas estas regras, pequenas falhas ou omissões fazem a diferença entre ser ou não infetado. A recomendação é que, até que estejamos vacinados e tenhamos imunidade, temos de continuar a observar regras”, reiterou.
Sobre a evolução da pandemia, a diretora-geral da Saúde realçou a descida da incidência cumulativa nos últimos 14 dias por 100 mil habitantes, que baixou de 502 para 490 casos de infeção pelo SARS-CoV-2, sem esquecer de destacar as “assimetrias por concelho e região do país”. Por outro lado, foi igualmente sublinhada a estabilidade da taxa de letalidade em 1,6%, sendo de 10% em doentes acima dos 70 anos.
Portugal contabiliza hoje mais 63 mortes relacionadas com a covid-19 e 2.436 novos casos de infeção com o novo coronavírus, segundo a Direção-Geral da Saúde (DGS).
O boletim epidemiológico da DGS revela que estão internadas 3.095 pessoas, menos 63 do que na segunda-feira, das quais 508 em cuidados intensivos, ou seja, mais seis.
Desde o início da pandemia, Portugal já registou 6.254 mortes e 378.656 casos de infeção pelo vírus SARS-CoV-2, estando hoje ativos 67.577, menos 2.849 do que na segunda-feira.
Vacinas deverão manter pelo menos "alguma eficácia" contra a nova estirpe
As primeiras vacinas contra o novo coronavírus deverão manter pelo menos alguma eficácia contra a nova variante mais contagiosa oriunda do Reino Unido, que ainda não foi encontrada em Portugal, afirmou hoje a Direção-Geral de Saúde (DGS).
“Portugal e a DGS, em articulação com o Instituto Ricardo Jorge, estão a acompanhar de perto, quer do ponto de vista da saúde pública e da vigilância epidemiológica, não sendo ainda neste momento detetada esta estirpe nos dados conhecidos neste momento”, afirmou em conferência de imprensa o diretor do departamento de Qualidade na Saúde, Walter Fonseca.
O responsável da DGS indicou que as amostras respiratórias que estão a ser analisadas foram recolhidas em novembro.
Em relação à eficácia das vacinas para esta estirpe, que se transmite mais facilmente e não parece para já aumentar a taxa de hospitalizações ou letalidade, Walter Fonseca foi cauteloso, indicando que há “uma incerteza significativa sobre a estirpe e o seu comportamento imunológico”.
Essa incerteza vale para a vacina da Pfizer/BioNTech, a primeira a chegar a Portugal e para as que se sigam, salientou, ressalvando que é expectável, que mantenha, pelo menos “alguma da sua eficácia” para a nova estirpe.
“As vacinas atuam por mais do que um mecanismo. Têm mecanismos redundantes, produzem vários tipos de anticorpos e é possível que em algumas mutações detetadas as vacinas mantenham pelo menos uma parte da sua eficácia”, declarou.
Walter Fonseca indicou que “poderá ser útil vigiar de perto o que vai acontecer em termos de eficácia vacinal”.
Para já, a vigilância faz-se pegando nas amostras de pessoas contagiadas e fazer a sua sequenciação genómica, procurando os marcadores que identificam a variante, que tem uma alteração numa das proteínas que compõem o SARS-CoV-2.
Questionado sobre possíveis efeitos adversos das primeiras vacinas que vão ser administradas em Portugal, indicou a “tumefação ou dor no local da inoculação, dores articulares, dores musculares” e, em alguns casos “febre ligeira durante um ou dois dias”.
Salientando que são “relativamente raros e ligeiros”, estes efeitos “parecem muito semelhantes aos das restantes vacinas utilizadas em Portugal há muito tempo”, referiu.
Serão “informados às pessoas antes e depois do ato vacinal através da pessoa que presta o ato mas também pela utilização dos meios de comunicação social e entrega de folhetos informativos”.
“Todas as vacinas que foram testadas nestes ensaios demonstraram elevadíssimos níveis de segurança”, afirmou Walter Fonseca.
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