"Só vamos saber que estávamos no pico quando estivermos a descer", explicou hoje a diretora-geral da Saúde. Graça Freitas disse que ainda estamos numa curva ascendente de casos, sendo a prioridade diferir as infeções ao longo do tempo — o que acabará por empurrar o pico para diante. Assim, não é possível prever quando ocorrerá o ponto máximo dos casos, antes de os números começarem a cair.
“Nós só saberemos que estivemos no pico quando começarmos a descer. E mesmo assim, não é nos primeiros dias de descida, porque às vezes, a seguir a uma aparente descida, volta a haver uma subida”, referiu Graça Freitas na conferência sobre a progressão da pandemia em Portugal.
A responsável referiu que a curva epidémica em Portugal ainda está “em franca ascendência”, mas não de forma “exponencial e abrupta”.
“Temos tido uma subida relativamente aplanada, mas não sabemos quando é que vai ser o pico com certeza”, referiu, reiterando que será mais “um planalto” e que “estes dados relacionados com o pico têm que ser muito cautelosos”.
A diretora geral salientou que, mais do que número diário, o que interessa às autoridades de saúde é, sobretudo, “o número de doentes por semana” para que o sistema consiga responder.
“Esse é o grande objetivo dos serviços e do sistema de saúde: conseguir ter numa unidade de tempo, uma semana, por exemplo, um número suficientemente controlável de doentes para respondermos bem e em segurança, mesmo se para isso tenhamos que andar mais semanas até atingir o pico e depois começar a descer a curva”, afirmou.
As mais recentes previsões das autoridades de saúde sobre a fase mais aguda da doença em Portugal apontavam para o mês de maio.
O novo coronavírus (SARS-CoV-2) já infetou 1.124 profissionais de saúde em Portugal, entre os quais 206 médicos e 282 enfermeiros, disse Lacerda Sales.
Entre os profissionais infetados estão também 636 de áreas como assistentes técnicos, assistentes operacionais e técnicos de diagnóstico e terapêutica, adiantou Lacerda Sales na conferência de imprensa diária para atualização de informação sobre a pandemia de covid-19 em Portugal.
O secretário de Estado referiu também números de ontem, quarta-feira, quando se contabilizavam sete médicos e um enfermeiro internados em cuidados intensivos.
Duplicar o número de ventiladores
O governante disse que todos os dias estão a ser feitos esforços para reforçar os stocks de testes, equipamentos de proteção e ventiladores. No caso da capacidade de ventilação, a capacidade do país vai ser duplicada, graças a 400 ventiladores oferecidos, e mais de uma centena emprestada. O Sistema Nacional de Saúde comprou mais 900, muitos dos quais já em Portugal.
“Entre ofertas, compras e empréstimos, estaremos em condições de duplicar a nossa capacidade de ventilação: Foram oferecidos 400 ventiladores invasivos, muitos dos quais já chegaram aos hospitais e outros com previsões de entrega muito em breve”, afirmou António Lacerda Sales durante a conferência de imprensa da Direção-Geral de Saúde (DGS) sobre a evolução da pandemia em Portugal.
“Estamos a reforçar a nossa capacidade de ventilação”, garantiu, lembrando que as situações mais graves da covid-19 obrigam a cuidados intensivos e que muitos dos doentes internados nos hospitais “precisam de ventiladores na sua luta pela vida”.
Neste momento há 240 pessoas em cuidados intensivos, segundo os dados divulgados hoje pela DGS, que apontam para mais de nove mil pessoas infetadas com a cov-19, das quais 1.042 estão internadas em hospitais.
António Lacerda Sales lembrou ainda os ventiladores não invasivos cedidos a título de empréstimo e os 900 ventiladores adquiridos pela Administração Central do Sistema de Saúde: Alguns destes últimos já estão em Portugal e outros “144 chegarão este fim-de-semana ao país”, acrescentou.
A informação foi corroborada por João Gouveia, presidente da Sociedade Portuguesa de Cuidados Intensivos e também coordenador da equipa da DGS na área dos cuidados intensivos para planeamento e operacionalização destes recursos.
O responsável pela equipa da DGS explicou que o material que vai chegar durante a semana será distribuído pelos diferentes hospitais de acordo com critérios específicos, tendo em conta as necessidades, a urgência e critérios de segurança “para que os doentes sejam tratados da melhor maneira possível”.
Além da aquisição de novos materiais, João Gouveia sublinhou durante a conferência de imprensa, que decorreu em Lisboa, que tem sido feito um trabalho de recuperação de material que estava a necessitar de alguns arranjos.
Houve “um crescer significativo da capacidade instalada” da medicina intensiva, com mais profissionais a trabalhar com medicina intensiva. “Mas é obvio que também é necessário material”, lembrou João Gouveia.
Também haverá um aumento de testes que, segundo o secretário de Estado da Saúde, serão distribuídos de forma a garantir um “equilíbrio entre locais com carência e locais com maior disponibilidade”.
“Hoje mesmo serão distribuídas seis mil zaragatoas e estão ainda encomendadas outras 400 mil”, anunciou o governante, explicando que 80 mil chegam na sexta-feira e as restantes irão ser entregues “nas próximas semanas”, numa tentativa de responder aos “constrangimentos de elevada procura”.
Também na próxima semana deverão chegar “mais 200 mil testes a Portugal”: “Todos os dias os serviços partilhados da saúde estão a trabalhar para que sejam repostos os kits de testagem e material de proteção individual”, sublinhou.
Além das respostas do sistema de saúde, o responsável pelo Ministério da Saúde voltou a chamar a tenção para a importância de manter as regras de isolamento social, como forma de tentar conter a disseminação do novo coronavírus.
“Numa altura em que se renova o estado de emergência, importa manter a malha apertada ao novo coronavírus, quer através da contenção social, quer robustecendo os mecanismos de respostas do sistema de saúde, capacitando-o para as novas fases da epidemia”, defendeu o secretário de estado.
"O mercado é o mercado", explica Lacerda Sales, questionado sobre os preços a que o Estado está a comprar material para fazer face à pandemia.
No dia em que assinala um mês desde que o primeiro caso da doença foi detetado em Portugal, o relatório da situação epidemiológica, com dados atualizados até às 24:00 de quarta-feira, indica que a região Norte é a que regista o maior número de mortes (107), seguida da região Centro (55), da região de Lisboa e Vale do Tejo (44) e do Algarve, que hoje regista três mortos.
Relativamente a quarta-feira, em que se registavam 187 mortes, hoje observou-se um aumento de 11,8% (mais 22). Segundo os dados da DGS, há 9.034 casos confirmados, mais 783, um aumento de 9,5% face a quarta-feira.
O presidente da República decidiu ontem o prolongamento do estado de emergência. A medida foi acatada pelo governo e esta manhã discutida e aprovada pelos deputados na Assembleia da República.
Pessoas a sair de casa sem testes?
“Nós continuamos obviamente a considerar que o padrão melhor de boas práticas é ter dois testes negativos, será a certeza de que, de facto aquela pessoa já está negativa e, à partida, não estará a contagiar outras”, afirmou Graça Freitas .
A diretora-geral da saúde manifestou-se “absolutamente certa” de que os médicos da região Norte que deram os doentes como curados e os mandaram para casa sem fazer um segundo teste, como noticiou hoje o Jornal de Notícias, “o fizeram com base em critérios clínicos” e que disseram às pessoas que, “por precaução, continuassem a manter-se em isolamento”.
“O ideal, de facto, é fazer os dois testes, mas na ausência dos dois testes, é avaliada a condição clínica destas pessoas, se estão assintomáticas”, indicou. A decisão dos clínicos baseou-se, portanto, na ausência de sintomas e na “garantia de que aquele doente vai continuar em distanciamento social e isolamento”, considerou.
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