Em declarações à Rádio Renascença, o cardeal patriarca, Manuel Clemente, disse também que a prioridade no momento é o combate à pandemia.

“Era uma notícia previsível desde que a pandemia se manifestou com esta intensidade e sabendo nós que ainda vamos ter de esperar um tempo longo, mais longo do que nós prevíamos, para que haja uma vacinação disponível e universal que possa evitar essa pandemia, era previsível que tudo se adiasse”, disse o cardeal patriarca de Lisboa.

À Lusa, o bispo Américo Aguiar, que coordena a organização da Jornada Mundial da Juventude em Lisboa, disse que desde o início da pandemia que o possível adiamento era tema de conversa, e declarou “total solidariedade” com a decisão do Papa Francisco, que, sublinhou, reflete uma preocupação com a segurança dos jovens e das suas famílias e com a sua participação num evento de multidões num contexto de pandemia, mas também com as suas condições económico-financeiras, que se podem refletir também na sua capacidade de viajar.

A prioridade, disse, é recuperar “a normalidade anormal que vem depois” de ultrapassada esta pandemia.

“Se estávamos muito preocupados com aquilo que pudesse ser o ambiente em torno da Jornada em 2022, confesso que estamos mais descansados e esperançados naquilo que possa ser já a normalidade do verão de 2023, para aquilo que significa uma mega concentração de jovens no mundo inteiro, da facilidade de se viajar e também da possibilidade económica disso acontecer para muitos jovens e muitas famílias do mundo inteiro”, disse o bispo.

Para o bispo Américo Aguiar, este ano de adiamento é “oxigénio e esperança” para se preparar tudo com mais calma e permitir uma participação dos jovens em 2023, “em paz, sem receios, sem medo”, fazendo de Lisboa o ponto de encontro e acolhimento da “humanidade vencedora da pandemia”.

“Estou convencido que em 2023 o Papa começará por dizer o quanto ansiava, o quanto esperou, o quando desejou poder abraçar a juventude do mundo inteiro em Lisboa. Esperemos que já não haja “contraindicações” nem distanciamentos sociais para que tudo possa acontecer na simplicidade do encontro dos jovens do mundo inteiro com o Papa Francisco”, disse o bispo.

Em termos de preparação e de trabalho, o adiamento não é necessariamente negativo, disse o bispo Américo Aguiar, que referiu que as equipas vinham trabalhando “discretamente” não só na pastoral do encontro, mas também em áreas de programação menos visíveis, ficando agora com mais tempo para preparar o evento.

No que diz respeito às estruturas necessárias para a concretização do encontro é um trabalho que está ainda “em fase de preparação e de estudo” com o Governo, as autarquias de Lisboa e Loures, que dividem o acolhimento da Jornada Mundial da Juventude, e com o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa.

“Desde há umas semanas para cá que o comité organizador das jornadas tem suspendido muitas das suas atividades, de maneira a todos podermos estar na linha da frente naquilo que somos chamados e podemos fazer”, disse o bispo que coordena a organização do evento.

Com os trabalhos parados, a equipa que trabalha na Jornada Mundial da Juventude decidiu que algumas das suas ferramentas podiam neste momento ser mais úteis a outros.

“Tínhamos computadores portáteis que tinham sido oferecidos à organização da Jornada para trabalharmos e decidimos que esses computadores eram mais úteis a jovens que neste tempo de telescola e de aulas através das plataformas de videoconferência. Por isso oferecemos os computadores aos jovens que possam precisar deles com mais urgência”, disse.

A próxima jornada Mundial da Juventude, que se deveria realizar em Lisboa em 2022, foi adiada para agosto de 2023 devido à pandemia de covid-19, anunciou hoje o Vaticano.

"Devido à atual situação de saúde e suas consequências no movimento e agregação de jovens e famílias, o Santo Padre, juntamente com o Dicastério para Leigos, Família e Vida, decidiu adiar o próximo Encontro Mundial da Família por um ano, agendado para Roma, em junho de 2021, e a próxima Jornada Mundial da Juventude, agendada em Lisboa em agosto de 2022, respetivamente em junho de 2022 e agosto de 2023", diz o Vaticano em comunicado.

O maior evento organizado pela Igreja Católica estava agendado para 2022, em Lisboa, com a presença do Papa Francisco e com o tema "Maria levantou-se e partiu apressadamente", seria um acontecimento nunca visto em Portugal com um custo acima de 50 milhões de euros.

A nível global, segundo um balanço da AFP, a pandemia de covid-19 já provocou mais de 165 mil mortos e infetou quase 2,5 milhões de pessoas em 193 países e territórios.

Em Portugal, morreram 735 pessoas das 20.863 registadas como infetadas, de acordo com a Direção-Geral da Saúde.

A doença é transmitida por um novo coronavírus detetado no final de dezembro, em Wuhan, uma cidade do centro da China.