Richard Mihigo, responsável pelo programa de imunização e desenvolvimento de vacinas da direção regional da OMS em África, foi o primeiro participante da conferência virtual sobre “Vacinação em África: Capacidade de Investigação, Advocacia, Fabrico e Distribuição”, no âmbito da primeira Conferência Internacional sobre Saúde Pública neste continente.

O especialista começou por lamentar a velocidade da vacinação nesta região, onde estão vacinadas 1,018 milhões de pessoas, dos 1,2 mil milhões que ali residem.

A distribuição das vacinas no continente também revela significativas desigualdades, com a África Central a ser a mais vermelha das regiões e que é, até ao momento, a que está a ser mais deixada para trás.

Mihigo avisou que, a continuar neste ritmo, os objetivos de 40% e 70% da população vacinada em 2022 só serão alcançados em 2023, existindo, por isso, “um longo caminho a percorrer”.

Mas enalteceu alguns avanços, nomeadamente após ser ultrapassada a falta de vacinas em consequência de os países ricos as terem importado.

“A questão é saber como podemos fazer chegar as vacinas às pessoas”, o que passa por combater muitos “boatos e desinformação” que leva alguns cidadãos a recusarem a vacinação.

Mas também por evitar que as pessoas tenham de percorrer vários quilómetros para se vacinarem e depois esperarem horas para receberem a vacina num centro de vacinação.

Richard Mihigo alertou para a necessidade de as vacinas que chegam a África não terem uma data de validade tão próxima que obrigue à sua destruição, como aconteceu neste continente, assim como em outros, como nos Estados Unidos e na Europa, com a agravante que a região africana é a que tem mais pessoas por vacinar.

“Sim, África destruiu vacinas, mas apenas porque foram enviadas com datas próximas do fim da validade, e por isso não se deve atribuir a culpa aos países que foram, neste caso, as vítimas”, referiu.

Mihigo revelou que já foram dados alertas para que as vacinas cheguem com uma validade de pelo menos dez semanas desde a data de chegada e que os países destinatários sejam avisados com alguma antecedência para poderem preparar os meios logísticos.

Nesta conferência virtual, participou igualmente Ernest Aryeetey, secretário-geral da Aliança das Universidades Africanas de Investigação e Consórcio Africano de Investigação Económica, que sublinhou a importância do investimento no conhecimento técnico que conduza ao desenvolvimento de vacinas no continente.

“Estamos a construir capacidade de investigação em vacinas. Queremos que os governos nos digam como podemos ajudar, mas estes também devem começar a pensar no investimento”, disse.

Para Ernest Aryeetey, a única forma de estancar a “fuga de cérebros” é criar em África “um ambiente de trabalho que seja um sonho”, com laboratórios de primeira linha e incentivos.

Petro Terblanche, diretora-geral da Afrigen Biologics, uma empresa de biotecnologia na Cidade do Cabo, dirigida, apoiada e capitalizada pela Avacare Healthcare Group e pela Industrial Development Corporation (IDC) da África do Sul, também defendeu a importância de as pessoas que se graduarem serem absorvidas pelo mercado de trabalho.

E afirmou que a capacidade de África na produção de vacinas é hoje maior do que há cinco anos.

“A covid-19 aumentou a visibilidade da capacidade do continente. Agora, precisamos de passar à produção” e, nesse sentido, defendeu um investimento na “transferência da tecnologia” para o continente.

No debate foi igualmente abordada a questão da propriedade intelectual, com a diretora-executiva da ONUSIDA (programa das Nações Unidas para a luta contra o VIH/Sida), Winnie Byanyima, a defender a suspensão da propriedade intelectual em cenários como o da pandemia que se vive.

Esta suspensão, explicou, “iria permitir que os países pudessem fabricar as suas vacinas”. “Não podemos deixar que só meia dúzia tenha acesso a um produto que salva vidas”, defendeu.