Desde março a oferecer ‘kits’ de alimentação aos sem-abrigo da zona da Boavista após perceber que o confinamento obrigatório devido à covid-19 os deixou ainda mais desprotegidos, Mariana Castro Moura, promotora do evento, vai dedicar o dia do seu 45.º aniversário a apoiar os mais necessitados.

“Isto é a concretização de um sonho, porque eu gosto de partilhar, inclusive com os sem-abrigo, datas importantes para mim”, explicou à Lusa Mariana Castro Moura, que reuniu “em donativos 80 euros para pagar as refeições na Churrasqueira da Boavista”.

Ao mesmo tempo, prosseguiu, “poder ter o auxílio de quem está também a passar dificuldades tem ainda mais valor”, numa alusão aos comerciantes que aderiram ao seu projeto pessoal “sem visar o lucro”.

“Quando falei com o senhor João Nogueira [gerente da churrasqueira] senti nele a vontade de ajudar e que seria, também, bom para alertar para os problemas de uma casa que tem 20 funcionários e que vive uma crise enorme”, testemunhou Mariana.

A refeição, com início previsto para as 12:00, “inclui sopa, meio frango, batatas fritas, arroz, uma sêmea e ainda fruta e o bolo de aniversário”, disse, frisando que “o bolo não terá velas devido à covid-19 e porque todos usarão máscara, e que apenas serão cantados os parabéns”.

À Lusa, João Nogueira, gerente da churrasqueira, explicou um gesto que mostra capacidade para ver muito além do livro de faturas: “o nosso interesse, sinceramente, é poder ajudar os sem-abrigo. É verdade que estamos mal, mas eles estão muito pior do que nós”.

“Punidos fortemente pela chegada do vírus”, a churrasqueira situada na Rotunda da Boavista “mantém os cerca de 20 funcionários, depois de uma parte ter estado em ‘lay-off’ assim que foi anunciada a pandemia, e desde junho estão todos a tentar sobreviver, também, com a aposta no ‘take-away’”, explicou o gerente.

A mesma realidade vive Paula Moreira, dona da Frutaria Hortifrutas Sucesso, situada por detrás do Mercado do Bom Sucesso, onde muitos dos sem-abrigo passam os dias a pedir e as noites a dormir, na rua.

“Ajudar sempre o próximo é bom e também fico grata por terem escolhido o comércio tradicional para estes eventos”, respondeu à pergunta da Lusa sobre o que significava aderir ao evento.

Laranjas, maças, clementinas e bananas são as frutas que vai disponibilizar para o almoço, estimando que perfaçam “aproximadamente 30 quilogramas”.

Do café Expresso Coutinho, que “há muito colabora” com a associação oferecendo as sobras do dia anterior para compor os ‘kits’, Diogo Carvalho disse que “vai ser oferecida sopa necessária e mais solidariedade”.

“É importante termos a noção que, podendo estar mal, há sempre alguém em pior situação do que nós e não é por estarmos a viver um período complicado que devemos deixar de ajudar”, acrescentou.

Previsto para terminar cerca das 13:00, o almoço, sublinhou Mariana Castro Moura, não significará o fim do seu dia solidário, revelando à Lusa que “sairá depois para a rua, até ao final da tarde, para entregar ‘kits’ de alimentação, calçado e roupas aos sem-abrigo da Sé, Boavista, Campo Alegre, e das ruas de Sá da Bandeira e de Santa Catarina”, materializando, dessa forma, a denominação por si escolhida para o dia 12 de dezembro de 2020: “o aniversário é meu, mas a festa é vossa”.

Portugal contabiliza pelo menos 5.373 mortos associados à covid-19 em 340.287 casos confirmados de infeção, segundo o último boletim da Direção-Geral da Saúde (DGS).

O país está em estado de emergência desde 09 de novembro e até 23 de dezembro, período durante o qual há recolher obrigatório nos concelhos de risco de contágio mais elevado.

Durante a semana, o recolher obrigatório tem de ser respeitado entre as 23:00 e as 05:00, enquanto nos fins de semana e feriados a circulação está limitada entre as 13:00 de sábado e as 05:00 de domingo, e entre as 13:00 de domingo e as 05:00 de segunda-feira.