Na carta, enviada ao presidente da Administração Regional de Saúde (ARS), José Robalo, e à Ordem dos Médicos (OM), à qual a agência Lusa teve hoje acesso, os subscritores recordam que os médicos e enfermeiros do Agrupamento de Centros de Saúde (ACES) do Alentejo Central foram convocados para apoiar os utentes do lar, onde se verifica um surto de covid-19.
Os coordenadores dizem que a ARS do Alentejo, em reunião em 30 de junho, os informou de que esta prestação de cuidados de saúde no Lar da Fundação Maria Inácia Vogado Perdigão Silva (FMIVPS) “seria feita em equipa de trabalho”, incluindo “dois médicos da área hospitalar”, um deles “de Medicina Interna”.
“Continuamos a questionar a legalidade desta medida, que consideramos arbitrariamente decidida”, pode ler-se na missiva dos 19 coordenadores de unidades de Saúde Familiar (USF) e de Cuidados de Saúde Personalizados (UCSP) do distrito de Évora, datada desta segunda-feira.
Na carta, dizem ter tido conhecimento de que, “pelo menos nos dias 04 e 05 de julho, o médico hospitalar da área da Medicina Interna não esteve presente”, o que contraria “o disposto na deliberação” da ARS, pelo que “é com enorme preocupação” que constatam “este incumprimento”.
“Tememos que o mesmo possa comprometer a qualidade dos cuidados prestados a estes utentes e, em última análise, conduzir a um desfecho mais gravoso”, pode ler-se.
Contactado hoje pela agência Lusa, o presidente da ARS do Alentejo reconheceu hoje que as posições que o organismo assumiu “não foram simpáticas para os profissionais”, mas “foram tomadas de forma consciente” e “porque foram necessárias”.
Os subscritores da carta afirmam que “este tipo de atitude autoritária” do presidente da ARS, com o envio de profissionais para o lar, “vem na linha” de uma decisão anterior do mesmo responsável, “quando deliberou que não haveria direito ao gozo de férias de 01 a 10 de julho”, também devido ao surto.
Decisão essa que, alegam na carta, prejudicou “os funcionários a vários níveis, incluindo o monetário, visto já terem efetuado o pagamento antecipado da residência de férias”.
“Não tenha dúvidas” de “que a solidariedade entre colegas e o sentido e brio profissionais” funcionariam, “não sendo necessária tão impopular medida para conseguir uma escala ‘sem buracos’”, dizem ao presidente da ARS.
José Robalo argumentou à Lusa que “não foi porque apeteceu ao conselho diretivo da ARS” que estão suspensas até sexta-feira as férias dos profissionais de saúde ou foi decidida a mobilização destes para o lar.
“Foram decisões fundamentadas e para que não houvesse ruturas nos serviços, quer em termos de férias, quer em termos de continuidade da prestação de cuidados. São posições legais e só foram tomadas porque fomos informados de que poderia haver essa rutura”, afirmou.
Os utentes do lar “são utentes do Serviço Nacional de Saúde” e têm “o direito de ser devidamente acompanhados em termos de cuidados de vigilância para, se tiverem qualquer alteração, poderem ser reencaminhados e internados no hospital em Évora”, justificou.
Reguengos de Monsaraz, um dos concelhos pertencentes ao ACES Alentejo Central, regista o maior surto de covid-19 no Alentejo, com 15 óbitos e 133 casos ativos.
O Sindicato Independente dos Médicos já criticou a suspensão de férias dos profissionais decidida pela ARS e a presidente da sub-região de Évora da Ordem dos Médicos, Augusta Portas Pereira, considerou “abusiva” e sem “suporte legal” a determinação do envio de clínicos para o lar, que o Sindicato dos Médicos da Zona Sul (SMZS) qualificou como uma “mobilização forçada”.
Na segunda-feira, a diretora executiva do ACES Alentejo Central, Maria Laurência Gemito, revelou à Lusa ter-se demitido do cargo, justificando que vai voltar a lecionar na Universidade de Évora. Devido à sua saída, também saem os quatro elementos por si nomeados no conselho clínico.
Logo nesse dia, o SIM relacionou estas saídas com a “desastrosa gestão que a ARS Alentejo está a fazer” do surto de covid-19 em Reguengos de Monsaraz, tendo hoje o SMZS considerado que a saída da diretora executiva decorre de “medidas arbitrárias” tomadas pela ARS.
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