Num comunicado enviado às redações, o bastonário da Ordem dos Médicos, Miguel Guimarães, apelou à Direção-Geral da Saúde (DGS) para avançar rapidamente com a revisão da norma, considerando que já existe “evidência científica suficiente” para se perceber que “o risco de reinfeção é real e que mesmo em quem teve formas graves da doença é possível acontecer uma nova infeção em prazos” não determináveis.
“É urgente que se reveja a norma para podermos incluir todas as pessoas que já tiveram covid-19 nas fases de vacinação que lhes estariam por natureza destinadas. No caso dos médicos e outros profissionais de saúde, a situação torna-se ainda mais urgente pois, por inerência do seu trabalho, estão expostos ao risco e lidam com doentes frágeis que ficam também desprotegidos”, pode ler-se na nota divulgada.
O relatório do ECDC sobre as estratégias de vacinação na Europa, publicado na segunda-feira, indicou que “há algumas provas de que, para os indivíduos que já foram anteriormente infetados pela SARS-CoV-2, para as vacinas atualmente disponíveis que requerem uma programação de duas doses, uma única dose pode fornecer imunidade suficiente”.
A agência europeia notou que a maioria dos países (Bélgica, Croácia, Chipre, Dinamarca, Finlândia, Alemanha, Irlanda, Letónia, Lituânia, Luxemburgo, Malta, Polónia, Roménia e Suécia) recomenda o programa completo de vacinação aos indivíduos anteriormente infetados, enquanto sete países (Áustria, Estónia, França, Itália, Espanha, Eslováquia e Noruega) preconizam apenas uma dose de vacina (em vacinas com duas doses).
Com a ressalva de a Letónia defender que a vacinação não é recomendada nos 90 dias após a infeção, o relatório do ECDC acaba por deixar como exceções neste processo a Islândia, que não recomenda a vacinação de todo para os indivíduos previamente infetados, e Portugal, sobre o qual refere apenas que o tema ainda está em discussão.
De acordo com a norma 002/2021 da DGS, “enquanto a disponibilidade das vacinas for limitada, designadamente na Fase 1, a vacinação é priorizada para quem mais dela beneficia, pelo que não devem ser priorizadas para vacinação as pessoas que recuperaram da infeção por SARS-CoV-2”.
A Ordem dos Médicos sublinhou ainda a relevância do risco de reinfeção colocado pelas novas variantes do SARS-CoV-2, com especial relevo para as variantes identificadas no Reino Unido, no Brasil e na África do Sul. A este nível, o ECDC revela que apenas seis (Áustria, Alemanha, Espanha, Malta, Noruega e Polónia) dos 24 países que participaram no estudo procederam a alterações nas suas estratégias de vacinação face à circulação de novas variantes.
Em Portugal, morreram 16.843 pessoas dos 820.716 casos de infeção confirmados, de acordo com o boletim mais recente da Direção-Geral da Saúde.
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