Os dois reclusos, que estavam no Estabelecimento Prisional de Angra do Heroísmo, na ilha Terceira, foram libertados ao abrigo do perdão de penas, no dia 15 de abril, e transportados para a ilha de São Miguel, onde residiam.
À chegada, foram encaminhados para uma unidade hoteleira em Ponta Delgada, onde ficaram em confinamento obrigatório, mas terão tido autorização para visitar a família em Rabo de Peixe, no concelho da Ribeira Grande, apesar de os dois concelhos terem cerco sanitário.
No dia 18, foram testados por infeção pelo novo coronavírus, no âmbito de um rastreio feito a todos os ex-reclusos libertados recentemente, e tiveram resultado positivo.
Confrontado pelos jornalistas, no ponto de situação diário sobre a evolução do surto de covid-19 na região, o responsável da Autoridade de Saúde Regional dos Açores, Tiago Lopes, disse que ocorreu um “erro de comunicação” entre as delegações de saúde e a Polícia de Segurança Pública, mas que a situação “já está a ser acompanhada e irá ser devidamente acautelada no futuro”.
“É uma situação que foi acompanhada por parte tanto da Delegação de Saúde de Ponta Delgada, como da Delegação de Saúde da Ribeira Grande, que foi rapidamente detetada, em articulação com a Polícia de Segurança Pública, que nalguma falha de comunicação que terá existido com as delegações de saúde não se terá apercebido de que estes dois casos teriam de ser transportados em viatura que a própria PSP designou para o efeito”, adiantou.
O responsável salientou, por outro lado, que os agentes da autoridade que acompanharam os reclusos de regresso à unidade hoteleira já foram identificados e serão testados e que a viatura será “submetida a todos os processos de limpeza e desinfeção para acautelar qualquer tipo de contágio”.
A Autoridade de Saúde Regional já tinha confirmado que um outro ex-recluso (neste caso com teste negativo à covid-19) tinha tentado fugir duas vezes do hotel em Ponta Delgada, tendo sido “novamente capturado e conduzido à unidade hoteleira", por agentes da PSP que vigiam o espaço.
A origem da infeção dos dois ex-reclusos com teste positivo ainda não está identificada, mas as autoridades de saúde vão testar todos os reclusos e guardas prisionais da cadeia de Angra do Heroísmo, bem com os passageiros que viajaram no mesmo voo para a ilha de São Miguel e o motorista que transportou os ex-reclusos para a unidade hoteleira.
Segundo Tiago Lopes, foram identificados “cerca de 300 contactos” próximos, por isso, os resultados deverão ser conhecidos dentro de alguns dias.
“Iremos fazer investigação epidemiológica no interior do estabelecimento prisional e no exterior, porque estamos a falar de guardas prisionais que entram e saem do estabelecimento, de forma a se perceber de que modo é que estes dois casos positivaram por covid-19”, apontou.
As atenções das autoridades estão concentradas no Estabelecimento Prisional de Angra do Heroísmo, mas o responsável da Autoridade de Saúde Regional ressalvou que “nada apontaria para que eles pudessem estar infetados”.
“É uma situação que nos causa alguma reflexão, porque o próprio estabelecimento prisional nunca deu a entender que tivesse algum foco infeccioso dentro das suas instalações. As próprias unidades de saúde da ilha não reportaram deslocações acima do normal ao serviço de urgência. Nada aponta para que houvesse um volume fora do habitual de motivos de origem do foro respiratório. É uma situação que temos de averiguar”, frisou.
Tiago Lopes assegurou que foi feito um “acompanhamento” dos ex-reclusos até ao aeroporto na ilha Terceira e que a viagem decorreu “de acordo com as recomendações relativas ao distanciamento social”.
Questionado sobre o cumprimento do plano de contingência do estabelecimento prisional, devido à covid-19, o responsável realçou que as cadeias existentes nos Açores “não são tutelados por nenhum organismo na região”, mas disse presumir que estivesse a ser aplicado.
Desde o início do surto foram confirmados 131 casos de covid-19 nos Açores, 109 dos quais ativos, tendo ocorrido 15 recuperações (seis na Terceira, quatro em São Miguel, quatro em São Jorge e uma no Pico) e sete mortes (em São Miguel).
A ilha de São Miguel é a que regista mais casos até ao momento (93), seguindo-se Terceira (11), Pico (10), São Jorge (sete), Faial (cinco) e Graciosa (cinco).
A nível global, segundo um balanço da AFP, a pandemia de covid-19 já provocou mais de 172.500 mortos e infetou mais de 2,5 milhões de pessoas em 193 países e territórios.
Em Portugal, morreram 762 pessoas das 21.379 registadas como infetadas, de acordo com a Direção-Geral da Saúde.
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