Uma carta assinada por um grupo de cinco médicos, que não querem ser identificados, tem sido divulgada pela comunicação social, que dá conta de que os mesmos se dirigem à direção da Unidade Local de Saúde (ULS) do Nordeste e outras entidades a denunciar falta de condições no edifício satélite para atendimento de doentes covid-19, instalado em Bragança.
A diretora clínica dos cuidados hospitalares, Eugénia Parreira, afirmou hoje aos jornalistas que “as notícias que saíram não correspondem à verdade” e explicou que além dos serviços já disponibilizados, o plano de contingência contempla um reforço de respostas para doentes com diferentes níveis de gravidade.
“A ULS do Nordeste foi das primeiras instituições do país que organizou e que fez circuitos para doentes covid e não covid, que treinou profissionais, que fez simulação para ver se os circuitos funcionavam, que fez reforço das equipas de saúde”, afirmou a diretora.
Em causa está o chamado edifício satélite de Bragança com 23 camas destinadas a doentes covid de nível 1, os menos graves, e sobre o qual o grupo de médicos que assinou a carta afirma não ter circuitos para evitar contágios, nem condições para tratar doentes, nomeadamente a chamada pressão negativa, tecnologia que evita a propagação de doenças infeciosas.
A diretora reconhece que o edifício é antigo, de 1973, e tem “alguns obstáculos”, mas garantiu que “os circuitos de entrada de doentes e de pessoal e não doentes não se cruzam” e que não tem pressão negativa “porque não está preconizado que em todos os sítios haja pressão negativa”.
Indicou, contudo, que “a partir de amanhã [terça-feira] já vão ter extração de ar”.
Eugénia Parreira frisou que este edifício é a resposta aos doentes de nível 1 e que localmente existem respostas para as diferentes fases da doença mais exigentes, como 13 camas de cuidados intensivos e uma sala de emergência só para doentes covid.
“Provavelmente não vai chegar”, admitiu, indicando que o plano de contingência “tem a possibilidade de aumentar para mais 20 camas de cuidados intensivos”, a instalar no piso 2 do hospital, e adequado à condição de doentes covid de nível 2 e 3, que necessitam de cuidados intensivos.
Ao todo, o plano contempla um reforço de 163 camas nos três hospitais da região, nomeadamente Bragança, Macedo de Cavaleiros e Mirandela, que têm atualmente um total de cerca de 500 camas.
O edifício satélite de resposta à covid-19 partilha as instalações onde funciona a hemodiálise e onde foram confirmados quatro casos de infeção pelo novo coronavírus.
A diretora clínica afirmou que os circuitos dos dois serviços não se cruzam e que é intenção da direção manter ali em tratamento apenas os doentes em hemodialise diagnosticados com covid-19 e passar a tratar os restantes em unidades privadas.
A ULS do Nordeste tem 25 profissionais que testaram positivo para covid-19 e que representam um terço dos 75 casos confirmados no distrito de Bragança.
“Para tranquilizar as pessoas, os primeiros profissionais que testaram positivos não foi transmissão no serviço, foi transmissão comunitária. O primeiro doente internado foi dia 18 (de março) e os primeiros profissionais, uma enfermeira, testou positivo três dias antes”, indicou.
A diretora clínica reconheceu que os serviços erraram ao dar alta, recentemente, a um paciente de um lar de Bragança sem saber o resultado do teste à covid-19, e que acabou por dar positivo.
“Não devia ter acontecido”, admitiu, acrescentando que, por coincidência o paciente acabou por não constituir perigo para os restantes utentes, já que teve alta com indicação de isolamento devido ao quadro clínico alheio à covid-19.
Segundo o balanço oficial de hoje, Portugal regista 140 mortes e 6.408 casos de infeções confirmadas da doença.
Dos infetados, 571 estão internados, 164 dos quais em unidades de cuidados intensivos, e há 43 doentes que já recuperaram.
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