Estes seniores, que se autointitulam de jovens, há muito que integram o programa "Vivências Seniores" desenvolvido pela Junta de Freguesia de Matosinhos - Leça da Palmeira, no distrito do Porto, que lhes dá a oportunidade de praticar ioga, artes decorativas, ginástica ou teatro, oportunidade essa que, graças à transmissão das aulas via Facebook, continua possível num tempo em que é exigido às pessoas ficarem em casa para evitar a propagação do novo coronavírus.

Os tempos são de isolamento obrigatório, mas sem infringir as regras, nem se colocar em risco, Ana Josefina, de 76 anos, continua ativa, a ir às aulas e a sair do sofá, mas sem sair de casa, melhor dizendo, da sala.

A viver sozinha, há 15 dias que Ana Josefina não sai de casa porque tem vários problemas de saúde e quer evitar uma infeção, por isso, mantém-se "infelizmente em clausura", mas a fazer ginástica ou pintura, sobretudo esta última porque é das atividades que mais gosta.

Com um computador à frente, no qual aprendeu a trabalhar aos 68 anos, Ana Josefina segue, diariamente às 11:00 pelo Facebook da junta, a transmissão em direto das aulas e transforma a sua sala de estar numa de aula.

"Há interrupções e algumas falhas de vez em quando, mas temos de ser compreensivos porque as pessoas a assistir são muitas", disse à agência Lusa.

Para motivar os colegas a participarem, a mulher criou grupos de `Whatsapp´ para partilhar ideias de entretenimento, fazer videochamadas, publicar trabalhos seus e anedotas porque "rir é bom e faz falta", referiu.

Temos de nos ir motivando uns aos outros, comentou, acrescentando que "quando esta guerra" terminar vai sugerir a realização de um piquenique com muita comida, bebida e música, claro está.

Menos expansiva, mas igualmente ativa, está Maria Adelaide de 84 anos que só acede aos conteúdos `online´ com a ajuda da filha porque ela "não percebe lá muito de internet".

À Lusa, Maria Adelaide dizia que este programa de "Vivências Seniores" é sinónimo de qualidade de vida porque falam, riem, estimulam o cérebro e saem do sofá e das novelas.

Aconselhando todos os que possam a inscrever-se nestas atividades, os mais e menos doentes, porque quem não consegue fazer de uma maneira faz da outra, Maria Adelaide comentava que algumas das suas amigas, que sempre recusaram participar, agora não se mexem porque "ou tem problemas nas pernas ou depressões".

E, ela, está uma jovem, como fez questão de realçar, dizendo que vai pondo em prática o que vai aprendendo para se distrair e por uma questão de saúde.

Falando numa experiência diferente, mas a possível face ao momento que o país atravessa, Ida Mota assumiu não ter qualquer dificuldade de acesso às aulas.

"Claro que nos falta o convívio, mas para nossa segurança foi uma boa ideia. Tudo isto há de passar, espero que o mais rápido possível", desabafou.

As aulas começam às 11:00, mas às 10:30 os professores fazem "a chamada" através de um vídeo publicado no Facebook, apelando à participação de todos.

Ainda faltava um minuto para a hora marcada e já a professora de pintura, Janine Costa, dizia bom dia e anunciava que a aula passava pela criação de um diário de desenho, livro onde os alunos poderão, ao longo dos dias, desenhar o que gostam e observam, desde flores, gatos, cães ou fruta.

Ao longo de mais de uma hora, a docente foi mostrando materiais, técnicas e sugestões para cada um, nas suas casas, fazer o seu trabalho.

"A aula correu muito bem, a ideia de fazer a sua transmissão à distância foi excelente. No final fui recebendo telefonemas dos que participaram a dizer que gostaram muito e a dar sugestões", revelou.

Janine ia interagindo com os alunos pelo `chat´, possibilitando-lhe dar dicas ou endereços de blogs para fazerem consultas.

Confessando estar nervosa por ser a primeira vez que dava uma aula `online´, Carla Moreira, professora de técnicas de relaxamento, pedia "energia, movimento, diversão e sala cheia".

"Gosto de ter a sala cheia, vocês já sabem. Vá, vamos lá, inspira e expira, levanta o braço esquerdo, pé direito à frente, boa, isso mesmo", pedia, ao som da música "Você partiu meu coração".

Enquanto pedia movimentos para a esquerda, direita, cima e baixo, Carla Moreira alertava para a necessidade de manterem a postura e a respiração correta.

"O objetivo é mantê-los motivados, animados e, claro, ativos", vincou.

O programa "Vivências Seniores" é dirigido aos idosos, mas numa fase de isolamento obrigatório todos são convidados, pela Junta de Freguesia de Matosinhos - Leça da Palmeira, a participar, a assistir e, sobretudo, a rir.