“Temos a noção de que há aqui um problema que se pode converter num problema europeu, porque a Itália não descobriu ainda a fonte, a origem, da cadeia que chega agora a muitas localidades e, não descobrindo, e com a circulação que existe sobretudo para os países vizinhos em termos de fronteiras da Itália, isto acaba por ir parar um pouco a toda a Europa, a uma parte significativa da Europa”, disse o Presidente.

Marcelo Rebelo de Sousa falava aos jornalistas à margem de uma visita à Academia Johnson, em Alfragide, Amadora (distrito de Lisboa), e acrescentou que “tudo o que está a ser feito para preparar a estrutura para um eventual agravamento está a ser feito de forma rápida, mas está a ser bem feito”.

“Isso é impossível, fechar fronteiras. Alguns países acham que é possível fechar fronteiras, o que eles estão a fazer é controlar algumas pessoas na fronteira, e todos nós sabemos que as pessoas circulam de tal maneira na Europa, que há tantos pontos de passagem por terra, não estou a dizer por mar ou por ar, mas por terra, que é muito difícil fechar fronteiras”, considerou.

Na ótica do Presidente, a “solução é preparar para o futuro uma ação conjunta, como se está a fazer agora e estar preparado mesmo para aquilo que ninguém esperaria” e tem de ser uma "realidade mais junta, mais unida do ponto de vista social, de saúde, e isso não acontecia, cada país tinha o seu sistema".

"Havia colaboração entre os sistemas mas não para uma situação destas. Está melhor do que estava há oito dias ou quinze dias, mas precisa de estar muito melhor para o futuro", alertou.

O balanço provisório da epidemia do coronavírus Covid-19 é de 2.707 mortos e cerca de 80.300 pessoas infetadas, de acordo com dados reportados até hoje, por cerca de 30 países.

Além de 2.665 mortos na China, onde o surto começou no final do ano, há registo de vítimas mortais no Irão, Coreia do Sul, Itália, Japão, Filipinas, França e Taiwan.

A Organização Mundial de Saúde declarou o surto do Covid-19 como uma emergência internacional, e alertou para uma eventual pandemia, após um aumento repentino de casos em Itália, Coreia do Sul e Irão, nos últimos dias.

Em Portugal, já houve 15 casos suspeitos, que resultaram negativos após análises, e está ainda em avaliação um homem, hospitalizado hoje, no Porto.

O único caso conhecido de um português infetado pelo novo vírus é o de um tripulante de um navio de cruzeiros que está hospitalizado no Japão.

O Presidente assinalou que “ainda há pouco” falou com a ministra da Saúde, Marta Temido, e congratulou-se por, “mais uma vez”, ter sido “negativo o teste, e tem sido assim sucessivamente, daqueles que nos últimos dias vão chegando de Itália”.

Fazendo uma retrospetiva, Marcelo apontou que, “quando foi a gripe A, soube-se que ela ia chegar muito antes de ela ter chegado”, ao contrário do que aconteceu com o atual Covid-19, que “verdadeiramente só se soube em janeiro, aquilo que está a chegar no final de fevereiro”.

Desde aí, foi preciso “pôr de pé, em todos os países, estruturas para responderem a uma hipótese de agravamento” e "todo o mundo está a ir atrás do prejuízo", advogou, evidenciando que esta situação tem afetado a economia dos países.

“A Europa foi também apanhada de surpresa, ninguém foi prevenido”, apontou, referindo que “a Europa e o mundo foi descobrindo o que se passava e tiveram de pôr de pé uma coordenação”.

Questionado se Portugal está a responder de forma adequada, o Presidente da República assinalou que "as autoridades portuguesas estão a tentar atingir" o equilíbrio entre dizer a verdade sem criar o pânico porque "as pessoas estão um bocadinho 'apanicadas'".

"Estamos todos preocupados porque não sabemos como é que será a evolução próxima na Europa", frisou ainda.