O dicionário da Priberam é elucidativo sobre as várias conotações da palavra fantasma. A primeira, remata logo para o que aí vem: "visão quimérica como a que oferece o sonho ou a imaginação exaltada".

Ora, entre os habitantes de Kepuh, na Ilha de Java, houve quem ficasse exaltado pelas aparições fantasmagóricas que andavam na rua a "alertar" para que a população se mantivesse em casa e não propagassem o novo coronavírus.

Claro que estas figuras brancas não têm um aspeto agradável, cortês ou até simpático. Se tivessem os ares do "Fantasminha Brincalhão" do Avô Cantigas ou do desenhado animado de Casper, era provável que a mensagem não chegasse às pessoas. Por isso, as figuras fantasmagóricas estão cobertas em lençóis brancos e têm as caras pintadas com pó — dando o ar de que pessoa está meio macilenta. 

Para ocidentais poderá ser pouco mais do que um disfarce do Dia das Bruxas, mas na cultura indonésia estas "imagens" representam as almas presas dos mortos e são conhecidas como os "pacong".

"Nós queríamos ser diferentes e criar um efeito dissuasivo, porque os pocong são assustadores e medonhos", contou Anjar Pancaningtyas, o orquestrador da iniciativa que, com ajuda dos jovens da vila e da polícia tentou de uma maneira pouco convencional promover o distanciamento social em tempos de covid-19.

Indonésia
Um polícia a utilizar um capacete alusivo à campanha de higiene promovida para alertar os condutores de Mojokerto, na Ilha de Java, para lavarem as mãos. 3 de abril, 2020. créditos: JUNI KRISWANTO / AFP

E o facto é que na aldeia de Kepuh a medida promovida pela "patrulha" dos fantasmas voluntários resultou.

"Desde que os pacong apareceram que os pais e crianças não saem das suas casas. E as pessoas já não se juntam ou ficam na rua após as rezas da tarde", conta o presidente Karno Supdmo, citado pela BBC.

O autarca acrescenta também que os habitantes "querem viver uma vida normal e que é muito difícil para eles seguir as instruções para ficarem em casa".

Na semana passada, o país decretou confinamento obrigatório em algumas cidades limítrofes de Jacarta, a capital e o epicentro dos casos de coronavírus na Indonésia. Segundo a agência Bloomberg, as mais de 15 milhões de pessoas que vivem em Bekasi, Bogor e Depok foram submetidas a regras de afastamento social em larga escala. As medidas rigorosas incluem a proibição de ajuntamentos de mais de cinco pessoas, eventos religiosos ou sociais e o uso obrigatório de máscaras.

Na Indonésia, existem atualmente 6.575 casos confirmados de infeção por covid-19 e 582 mortes, de acordo com o mapa da Universidade de John Hopkins. Mas, segundo a BBC, os especialistas acreditam que a verdadeira escala da disseminação seja muito maior e os números reais sejam piores do que os oficiais.

Apesar de pouco convencional, os jovens de Kepuh não estão sozinhos na procura de formas criativas de sensibilizar a população. Na Índia, a polícia anda na rua com capacetes com a forma do vírus para enfatizar os riscos.

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