Em declarações à Lusa, o presidente da Cruz Vermelha Portuguesa (CVP), Francisco George, disse hoje que saiu da reunião do conselho de administração da instituição “um consenso que junta todos os médicos do hospital” na divisão em duas fases da abordagem ao acolhimento e tratamento de doentes covid-19.

A oposição dos médicos do Hospital da Cruz Vermelha a acolher e tratar doentes covid-19 foi noticiada no domingo pelo jornal Público, que citava uma ata de uma reunião na qual os clínicos que apontavam falta de condições para o efeito, como a inexistência de quartos de isolamento ou de pressão negativa e a impossibilidade de se criarem zonas de separação entre doentes covid-19 e os restantes.

Para já, nesta primeira fase, o hospital mantém-se apenas a tratar doentes que não estejam infetados com covid-19 e só numa segunda fase, se se chegar a uma situação de pressão sobre o sistema de saúde como a que se vive em Espanha e Itália, o Hospital da Cruz Vermelha passará a ser usado, “na totalidade” para tratar doentes infetados com o novo coronavírus.

Os habituais utentes deste hospital serão nessa fase encaminhados para outras unidades de saúde.

Para despistar nesta fase possíveis casos de doentes covid-19, o Hospital da Cruz Vermelha começa na terça-feira a aplicar um sistema de triagem em duas fases, completamente assente em tecnologia portuguesa.

Todos os utentes que se dirijam a este hospital vão ter que passar por uma “triagem inteligente”, que começa pela realização de uma análise de sangue a parâmetros bioquímicos, na qual se pretende detetar “indicadores de um sinal de infeção” e que apresenta resultados em sete minutos.

Se o resultado desta análise, criada pela Biosurfit, uma empresa de cientistas portugueses, for positivo, ou seja, se houver indicação de alteração compatível com infeção, será feita uma zaragatoa para despiste da covid-19, aplicando-se o teste desenvolvido pelo Instituto de Medicina Molecular, pela equipa da cientista Maria Mota.

Se o teste covid-19 tiver um resultado positivo os doentes serão, nesta fase, encaminhados para unidades de saúde que tenham neste momento ativo o protocolo para tratamento destes casos.

O Hospital da Cruz Vermelha só passará a estar completamente dedicado ao tratamento de doentes covid-19 se a pressão sobre o sistema de saúde a isso obrigar, explicou Francisco George.

O hospital apresenta na terça-feira o novo modelo de triagem na presença do ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, Manuel Heitor, e da ministra do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social, Ana Mendes Godinho.

O novo coronavírus, responsável pela pandemia da covid-19, já infetou mais de 727 mil pessoas em todo o mundo, das quais morreram perto de 35 mil. Dos casos de infeção, pelo menos 142.300 são considerados curados.

Em Portugal, segundo o balanço feito hoje pela Direção-Geral da Saúde, registaram-se 140 mortes, mais 21 do que na véspera (+17,6%), e 6.408 casos de infeções confirmadas, o que representa um aumento de 446 em relação a domingo (+7,5%).