Seja na forma como entramos num provador sem ter de contar as peças ou num simples pagamento automático, os hábitos de compra estão a mudar. A inteligência artificial está a transformar padrões de consumo de uma forma irreversível.

Por um lado, a pandemia afastou muitos clientes das lojas físicas, levando-os a preferir o comércio online, considerado mais prático e acessível. No entanto, os últimos anos mostraram que o retalho físico está mais forte do que nunca e que as inovações tecnológicas nos diferentes espaços estão a melhorar a experiência de cada de cliente.

“A experiência do retalho físico é uma experiência humana. Aquilo que nós vemos é que até as lojas que funcionavam apenas com comércio online estão a abrir lojas físicas. Constata-se que o ser humano quer fazer compras físicas. Vai haver produtos que nós não nos importamos de mandar vir online mas há sempre alguns que nós queremos comprar, tocar e ver e queremos fazer essa compra em família e ter do outro lado humanos e não máquinas”, sublinha Paulo Carreira (Chief Scientist Officer da Sensei).

Tocar num produto, sentir o cheiro, avaliar a textura — continua a ser importante, sobretudo quando falamos de alimentos e supermercados. Mas não só. Se, por exemplo, a experiência de comprar roupa se tornar mais fluida e simples, muitos consumidores podem voltar a procurar centros comerciais.

E se tudo isto for mais rápido e cómodo, sair de casa volta a ser uma escolha atraente.

Além disso, a simplificação do processo, com a ajuda de novas tecnologias, é fundamental para os retalhistas organizarem melhor os seus espaços e aumentarem a eficiência.

“Tudo o que vemos numa grande superfície nada está por acaso. Tudo foi pensado e cada vez mais com recurso a tecnologias de IA, computer vision aplicadas ao retalho. A recolha de dados em tempo real, de  mapas calor sobre a superfície consegue dar informações aos gestores de loja muito pertinente sobre o tipo de percurso que as pessoas fazem em loja”, exemplifica Eduardo Barroso da Silva (Senior Manager na PwC Portugal)

O que é a loja ideal, o que é uma loja do futuro?

Para tentarmos responder a esta pergunta fomos conhecer aquela que é considerada como a maior loja inteligente do mundo que fica em Portugal, mais concretamente em Leiria.

A loja do Continente é o resultado de uma parceria entre a MC Sonae e a Sensei, que procurou implementar uma série de tecnologias para tornar as compras mais simples mas de uma forma súbtil.

Tudo começa logo à entrada: ao entrarmos, o supermercado parece normal, mas no tecto vemos câmaras que acompanham o nosso percurso dentro da loja.

“A inovação começa logo à entrada. Assim que entramos, as câmaras identificam-nos e criam um avatar que representa quem somos na loja — mas sem saberem os nossos dados pessoais”, explica Marlos Silva, area leader de R&D & Innovation na Sonae.

A loja está organizada em várias áreas: as de peso fixo (produtos embalados) e as de peso variável (padaria, peixaria, frutas e legumes).

“No caso dos produtos frescos, eles precisam de ser arranjados e preparados. Temos os nossos colaboradores que ajudam os clientes. As pessoas continuam a ser necessárias”, sublinha Marlos.

Quando o preço é fixo, os produtos estão expostos em prateleiras que parecem iguais às de qualquer supermercado. Mas, na verdade, estas prateleiras são inteligentes.

“Na maioria dos produtos deste supermercado, a experiência é a mais simples possível: tiramos da prateleira, colocamos no saco e já está registado no carrinho virtual”, explica o responsável pela loja.

Isto acontece porque as prateleiras têm sensores que comunicam com as câmaras e sabem exatamente o que tirámos ou devolvemos.

Estas tecnologias permitem que, no final, o checkout seja muito mais rápido: chegamos à caixa e aparece automaticamente uma lista com todas as compras que fizémos — até mesmo do café e do pastel de nata que consumimos na cafetaria antes de começarmos as compras.

“Estamos a assistir a uma transformação enorme no retalho e na experiência de compra. O que acontece é que a pessoa entra, escolhe bem e, quando sai, não precisa de ficar numa fila. É uma mudança total na forma como vamos às lojas. Por isso se fala na loja do futuro. Mas eu acho que a loja do futuro já é daqui a meia dúzia de meses”, antecipa Miguel Fernandes, partner da PwC.

Como funciona afinal uma loja inteligente? E como estão os nossos hábitos de compra a mudar com a ajuda da inteligência artificial?

Conheça melhor a loja do Continente de Leiria neste novo novo episódio.