“Têm [os profissionais de saúde] de ter muita disponibilidade e há muita gente que não se adapta. Têm de ter estômago. Ao virem para cá, têm de ter consciência de que vão apanhar de tudo um pouco. Hoje um doente está muito bem, mas amanhã pode estar mais frágil. São pessoas que foram caçadas por um vírus e já antes eram vulneráveis ou viviam em condições difíceis”, referiu a responsável pelos auxiliares de ação médica daquele centro, Stephanie Leitão.
Depois de acompanhar uma vista às instalações reservada aos repórteres de imagem, Stephanie Leitão contou aos jornalistas que “alguns profissionais” recrutados pela Segurança Social, através da Cruz Vermelha, “não chegaram a ficar e tiveram de ser substituídos”.
Sem querer comprometer-se com apelos ou pedidos à tutela e elogiando os profissionais que “aceitaram o desafio” de trabalhar nestas estruturas de retaguarda, Stephanie Leitão admitiu que “é precisa mais formação” e uma “componente psicológica forte”.
“O início foi complicado, por causa da adaptação ao espaço. [Agora] estamos mais estáveis e a gerir melhor as coisas. As pessoas [os profissionais de saúde] vêm para cá um pouco sem noção que vêm para uma área que requer muitos cuidados da nossa parte. Trabalhamos com doentes que precisam muito do nosso apoio”, acrescentou.
A responsável falava aos jornalistas no exterior do pavilhão 04 do Seminário do Bom Pastor, em Ermesinde, concelho de Valongo, onde foi montado o primeiro Centro Distrital de Retaguarda covid-19 do Porto.
Anunciado a 19 de outubro, após uma reunião na Administração Regional de Saúde do Norte (ARS-N), este Centro Distrital de Retaguarda covid-19 começou a receber doentes “há cerca de três semanas”.
No entanto, anunciado como centro de retaguarda com capacidade instalada para 50 doentes e a possibilidade de alargar a 80, o espaço no Seminário do Bom Pastor “de imediato” só pode acolher 25, como esclareceu esta manhã o presidente da Comissão Distrital de Proteção Civil e da Câmara de Gondomar, Marco Martins.
“Neste momento estão sete doentes e em simultâneo estiveram no máximo 10. Nestas três semanas tivemos 10 utentes internados em média com grande taxa de rotatividade. A capacidade imediata é para 25 utentes”, disse.
De acordo com o autarca, este centro já acolheu doentes do Centro Hospitalar de Vila Nova de Gaia/Espinho (CHVNG/E), Hospital de São João e Hospital de Santo António, ambos do Porto, bem como do Centro Hospitalar do Tâmega e Sousa (CHTS), unidade que sozinha chegou a registar na semana passada 10% dos internamentos a nível nacional.
O espaço serve para receber doentes em condições de continuar a recuperação fora dos hospitais, mas que não tenham retaguarda ou condições em casa ou nas instituições onde vivem.
Marco Martins explicou aos jornalistas que a capacidade de acolhimento está tanto dependente das necessidades e procura dos hospitais, como dos recursos humanos que estão a ser disponibilizados quer pela Segurança Social, quer por entidades ligadas à saúde.
Atualmente o Centro Distrital de Retaguarda covid-19 instalado em Ermesinde tem mais de 20 profissionais, entre os quais dois médicos, estando um em permanência, sete enfermeiros, uma diretora técnica e mais de uma dezena de auxiliares.
“A manhã é o pior período do dia por causa dos banhos e da administração de medicação. A escala de funcionários vai sendo adaptada à medida das necessidades”, contou Stephanie Leitão, enquanto esperava a chegada do secretário de Estado Adjunto e da Saúde, António Lacerda Sales, e do Secretário de Estado da Mobilidade, Eduardo Pinheiro, que hoje visitam o distrito do Porto no âmbito do acompanhamento da situação epidemiológica na região.
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