O prémio que Francisco Mota Saraiva recebeu foi "instituído para celebrar a atribuição do Prémio Nobel de Literatura de 1998 a José Saramago e pensado como instrumento para a defesa da língua, através do estímulo ao surgimento de jovens escritores, o Prémio Literário José Saramago reconheceu muitos daqueles que se tornaram nos mais destacados autores de língua portuguesa das últimas duas décadas", pode ler-se no site.
O Prémio José Saramago tem uma periodicidade bienal, mas em 2021 a pandemia obrigou ao adiamento da entrega do prémio para 2022, ano em que foi distinguido o escritor brasileiro Rafael Gallo, com “Dor fantasma”.
A nova obra de Francisco Mota Saraiva chegará às livrarias em 2025, e vai ser editada também no Brasil pela Globo Livros e terá distribuição em todos os países da lusofonia.
Promovido pela Fundação Círculo de Leitores, com o apoio da Fundação José Saramago, da Porto Editora e da Globo Livros, o prémio foi entregue durante uma cerimónia no grande auditório do Centro Cultural de Belém (CCB), sala onde o Estado Português recebeu e homenageou José Saramago, em 1998, ano em que foi distinguido com o Prémio Nobel da Literatura
Adriana Lisboa fez o elogio da obra vencedora, e Lídia Jorge foi responsável pelo discurso de encerramento, numa reflexão sobre a importância da literatura, perante uma plateia de cerca de 1000 pessoas, onde se encontrava o vencedor da edição anterior, Rafael Gallo. Destacou ainda o facto de o livro possuir "uma qualidade quase musical" e "um estilo muito próprio, quase um idioma particular", que constroem "um romance impiedoso" e "corajoso".
Em 2021, foi concedida a Francisco Mota Saraiva uma bolsa de criação literária, pela Direção-Geral do Livro, Arquivos e Bibliotecas, e, em 2023, uma residência literária pela Fundação Eça de Queiroz.
O primeiro romance do autor já tinha sido premiado, e conta “a saga de uma família que a história portuguesa do século XX fez existir entre três continentes, Ásia – Índia, África — Moçambique, Europa — Portugal”.
O lançamento do livro "Aqui onde canto e ardo", que mereceu o Prémio Revelação Agustina Bessa Luís 2023, foi feito no fim de outubro na Livraria Bucholz, por Gonçalo M Tavares e por Luísa Mellid Monteiro.
Por altura deste prémio o júri referiu que “a diversidade imaginária desses três mundos é dada através de narrativas da memória de algumas das principais figuras da família. Nelas se recordam diferenças promotoras de violências diversas, das dores e angústias do poder sobre todas as suas formas”, segundo informação da Estoril Sol enviada à agência Lusa.
Destacou também “a riqueza vocabular e os cruzamentos como figuras da cultura literária ocidental, que dão ao texto uma maturidade estilística com assinalável alcance literário”.
Francisco Mota Saraiva é o nome literário de Francisco Saraiva, nascido em 1988, em Coimbra, tendo vivido sempre entre Cascais e Lisboa, segundo informação da mesma fonte.
O autor é licenciado em Direito, pela Universidade Nova de Lisboa, e tem um Mestrado em Direito e Gestão, pela Nova School of Business and Economics. Tem trabalhado como jurista e consultor. Em 2021, foi-lhe concedida pela DGLAB uma bolsa de criação literária, na categoria de prosa e narrativa, durante a qual escreveu grande parte do original que venceu este galardão.
Em comunicado, por altura do Prémio Agustina Bessa Luís, Francisco Saraiva afirmou que o romance, “passado entre Tete, em Moçambique, Lisboa e Serpa, com vagas referências aos períodos pré e pós-colonial, pretende ser um conjunto de diversas narrativas que, entrelaçadas umas nas outras, e através de um coro de oito vozes, de algum modo se unem para contarem a história do absurdo da morte, tanto através da imagística como do quotidiano mais corriqueiro”.
“Apesar das diversas narrativas se construírem quase como contos isolados, há toda uma amálgama de pormenores e detalhes que vão surgindo aos olhos do leitor como aparentemente supérfluos e secundários, mas que servem para afinal contar a história única da fragilidade e do desconcerto do ser humano perante a sua condição fatal. A par disto, há relações proibidas ou devastadas pela cor da pele, pela falta de dinheiro, pelo passado, por aquilo que nos torna inevitavelmente mais frágeis. Depois disto, há o luto e mais nada sobra”, conclui Francisco Mota Saraiva.
Sobre o seu percurso, o autor recordou as histórias que o pai lhe leu na infância, antes de adormecer, e desde então nunca mais largou os livros.
“Por volta dos meus 14 anos, inspirado pela leitura dos primeiros ditos clássicos, os quais achava tão difíceis quanto belos, comecei a escrever pequenos contos e narrativas; uma necessidade já decorrente da fraca poesia que punha no papel desde muito cedo”, conta o escritor.
Como suas referências citou autores como Agustina Bessa-Luís, António Lobo Antunes, Eça de Queirós, Ferreira de Castro e Gonçalo M. Tavares, entre os autores nacionais; quanto aos estrangeiros, enumera García Márquez, Dostoievski, Jorge Luis Borges, Proust, Louis-Ferdinand Céline, Lispector e Dickens, citando também referências cinematográficas, como os realizadores Stanley Kubrick, Ingmar Bergman e os irmãos Coen, e na pintura, como Paula Rego, Graça Morais, Goya e Rembrandt. “A arte é um multiplicador”, atesta o autor.
Sobre a sua escrita declarou: “Um estilo confuso e enigmático, porém, creio, digno. A linguagem hoje não é a mesma. Amanhã não será. E, no entanto, as palavras, a frase escrita, permanecem”.
*Com Lusa
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