Em comparação com os dados de segunda-feira, em que se registavam 1.485 mortes, hoje constatou-se um aumento de óbitos de 0,5%. Já os casos e infeção subiram 1,2%.
Na região de Lisboa e Vale do Tejo (13.608), onde se tem registado maior número de surtos, há mais 386 casos de infeção (+2,9%).
António Lacerda Sales referiu, em conferência de imprensa, que estes números são justificados pelos "rastreios massivos a funcionários de empresas com risco associado" que têm sido feitos, referindo ainda que não são conhecidos "os resultados de todos os testes, mas dados preliminares mostram uma taxa positiva de 4,5% do total de efetuados".
O secretário de Estado da Saúde referiu que esta foi "uma medida de saúde pública acertada, que permitiu identificar casos, muitos dos quais assintomáticos, isolar pessoas e quebrar cadeias de transmissão".
"O vírus circula na comunidade, não desapareceu, e, portanto, teremos sempre de ir lidando com novos casos. É importante que as pessoas não desvalorizem sintomas ligeiros e continuem a entrar em contacto com o SNS24 — que, aliás, recebe em média 6.500 chamadas por dia —, de forma a serem testadas e cumprirem o isolamento obrigatório, de forma a evitar contaminar terceiros", alertou.
Lacerda Sales deu ainda "uma boa notícia" na conferência de hoje: 75% dos profissionais de saúde infetados estão já recuperados, o que corresponde a 2.727 pessoas.
A situação em Lisboa
"Este vírus atinge toda a gente, muito embora as faixas mais vulneráveis sejam faixas mais expostas. Dos 14 mil testes efetuados [na região de Lisboa e Vale do Tejo], estão processados 12.225, com 555 positivos, o que dá a tal taxa de 4,5", explicou.
O secretário de Estado da Saúde referiu que, numa primeira fase, os testes massivos foram feitos em empresas de construção civil e de trabalho temporário. Agora, a estratégia é dar seguimento aos casos ativos e em vigilância, embora não se deixe de procurar novos casos, "principalmente onde possam vir a surgir novos focos".
Graça Freitas, diretora-geral da Saúde, referiu que "é uma situação mista", onde se têm verificado "focos, focos mais pequenos que são unidades familiares e casos dispersos", lembrando que a situação no Norte começou com "casos importados de Itália que, estando com sintomas muito ligeiros, deram depois origem a muitos casos, as tais cadeias de transmissão".
"Nenhuma epidemia é uniforme em todo o país", referiu. "Já testámos, já encontrámos [casos]. Agora está na fase de isolar, acompanhar e [é necessário] que as pessoas colaborem neste isolamento", referiu, indicando que os cinco concelhos da região mais atingidos são "Lisboa, Loures, Amadora, Odivelas e Sintra".
Sobre a situação na Azambuja, Graça Freitas referiu que "o foco, que já teve muitos casos ativos, neste momento é um foco que está em resolução", pelo que não se pode "criar um estigma e dizer que a Azambuja continua a ser o foco". A justificação apresentada é o facto dos infetados pertencerem a uma "população jovem, saudável e com doença muito ligeira, pelo que tendem a recuperar rapidamente".
Os casos agora em curso na região "estão dispersos, associados a grandes obras, e alguns mais pequenos estão no Oeste, associados a empresas de trabalho temporário que colhem fruta". Foi ainda referido que existem pequenos focos em lares. "São múltiplos focos ligados a múltiplas atividades, que estão identificados e controlados", garantiu Graça Freitas.
A reabertura dos centros comerciais em Lisboa
Quanto à reabertura dos centros comerciais, hoje anunciada depois do Conselho de Ministros, a diretora-geral da Saúde referiu que considera "estarem reunidas as condições para que possam abrir".
"Já dissemos que a grande maioria dos casos positivos em Lisboa e Vale do Tejo estão identificados. As autarquias, as autoridades locais, a segurança social e as forças de segurança têm trabalhado com estas pessoas no sentido de as fazer entender o risco que podem constituir para a propagação da doença", afirmou, garantindo que é uma questão de "civismo" conseguir manter o isolamento.
"Este movimento local que acontece junto das populações resultará num maior confinamento das pessoas infetadas", disse.
Além disso, foi referido que os centros comerciais vão abrir com "regras muito estritas de circulação de pessoas", de forma a garantir a segurança de todos.
"As coisas estão muito bem organizadas, os circuitos estão muito bem delimitados e, desde que sejam cumpridos estes fluxos e as entradas e saídas sejam respeitadas para não haver ajuntamentos, não me parece que exista um risco muito grande da propagação da doença", garantiu Graça Freitas.
Contudo, é necessário "um mecanismo de auto-responsabilização dos próprios", para não haver ajuntamentos nos espaços, bem como uma gestão por parte das entidades que gerem os centros comerciais para garantir a "supervisão". "Não custa nada ajudar os outros a movimentarem-se melhor", disse.
O regresso dos adeptos ao futebol
A diretora-geral de Saúde negou também que esteja a ser “equacionado o regresso dos adeptos” aos estádios de futebol até ao fim da época, notando que as decisões nesta matéria têm sido tomadas “em diálogo com a federação”.
“Não está a ser equacionado o regresso aos estádios neste momento, nem se perspetiva qualquer alteração [relativamente à decisão de realizar os jogos à porta fechada] nesta época”, afirmou Graça Freitas.
A responsável notou que a evolução da pandemia “depende dos ajuntamentos [de pessoas] e dos seus comportamentos”, sem esclarecer qual a diferença entre a presença de pessoas num estádio e numa sala de espetáculos, como aquela em que foi feita uma apresentação do humorista Bruno Nogueira.
Graça Freitas frisou que, em relação ao futebol, as autoridades têm sido “muito cautelosas” e atuado “em diálogo com a Federação Portuguesa de Futebol”.
"Isto é [a ausência de público nas bancadas dos estádios], de resto, o que se está a passar em outros países", observou.
Utilização do Remdesivir
Quanto à utilização do antiviral Remdesivir em Portugal, depois de a Agência Europeia dos Medicamentos anunciar ter recebido um pedido de autorização de entrada condicional no mercado da União Europeia do medicamento para tratamento da doença covid-19, Graça Freitas confirmou a sua utilização no país.
"Obviamente [foi utilizado] em pessoas internadas com estado grave. Chama-se a isto uma utilização compassiva, é pedida uma autorização especial e o medicamento é utilizado em circunstâncias excecionais, em que a gravidade clínica do doente justifica a sua utilização", explicou.
A retoma das consultas e cirurgias em atraso
Questionado sobre a diminuição da atividade presencial nos hospitais, a nível de consultas marcadas e cirurgias, António Lacerda Sales explicou que "esta é fruto da atividade programada", sendo uma preocupação do Governo e do Ministério da Saúde.
"Queremos fazê-lo de uma forma segura, com um caminho seguro. Portanto, tem de ser uma retoma gradual, proporcional à evolução do surto, mantendo sempre condições de segurança, assegurando circuitos separados" para doentes covid-19 e para os restantes, referiu.
O secretário de Estado da Saúde frisou ainda que é necessário "retomar a atividade com a celeridade possível, mantendo esta segurança", garantindo que cerca de 35% das consultas já estão reagendadas. "É preciso que as pessoas não tenham medo e se dirijam aos serviços", lembrou.
Rede mundial para localizar e contactar passageiros de um voo
“Estão criados mecanismos internacionais de reporte. Integramos uma rede mundial em que estamos obrigados a avisar para onde se dirigiram passageiros que possam ter estado com doentes a bordo de um avião”, descreveu a diretora-geral da Saúde, quanto às políticas a serem seguidas em Portugal em relação à aviação.
A responsável defendeu “a utilização de um cartão preenchido pelo passageiro, que permite a sua localização posterior” para informar de um potencial contacto com o novo coronavírus, no caso de se constatar que, em determinado voo, estava uma ou mais pessoas infetadas.
“Com esse cartão, se formos informados de que alguém doente esteve num voo, conseguimos localizar os passageiros, quem estava nas filas da frente e ao lado e informar”, observou Graça Freitas.
Para a diretora-geral, as atuações de “vigilância de pessoas que adoecem em aeronaves estão bem definidas”. “Temos é de criar mecanismos para identificar passageiros de forma fácil”, defendeu.
Graça Freitas sustentou ainda que os países com maior número de casos deviam “fazer rastreios” à saída. Por outro lado, deve fornecer-se a “passageiros e tripulantes” que se desloquem a Portugal “o máximo de informação” sobre o que fazer se desenvolverem sintomas. “Devem contactar a linha SNS 24, relatando os sintomas e de onde vieram”, especificou.
Graça Freitas recusou comentar casos concretos de viagens, mas deu estes esclarecimentos depois de ter sido questionada sobre declarações do vice-presidente da bancada do PSD, Ricardo Baptista Leite, que disse ter recebido um relato de um cidadão vindo do Brasil que só passado alguns dias de aterrar em Portugal foi avisado pelo seu país de origem que teria de entrar em contacto "com urgência" com o Ministério da Saúde, uma vez que tinham sido detetados casos positivos no avião em que viajou.
Batista Leite considerou indispensável que, "no mínimo", Portugal recolha os dados sobre as pessoas que entram no país pela via do transporte aéreo, apontando casos de outros países que ou impõem uma quarentena ou até proíbem entradas no país, como a Grécia.
Os assintomáticos
Questionada sobre um estudo que indica ser raro que pessoas assintomáticas transmitam a doença covid-19, Graça Freitas disse ser necessário “olhar com cautela” para a investigação.
“Será uma boa notícia, sobretudo para a próxima onda pandémica, se se vier a confirmar em estudos subsequentes”, referiu.
O boletim em detalhe
A região Norte continua a registar o maior número de infeções, totalizando 16.967, seguida pela região de Lisboa e Vale do Tejo, com 13.608, da região Centro, com 3.837, do Algarve (389) e do Alentejo (273).
Os Açores registam 142 casos de covid-19 e a Madeira contabiliza 90 casos confirmados, de acordo com o boletim hoje divulgado.
A região Norte continua também a ser a que regista o maior número de mortos (809), seguida da região de Lisboa e Vale do Tejo (408), do Centro (244), do Algarve e dos Açores (ambos com 15) e do Alentejo, que regista um óbito, adianta o relatório da situação epidemiológica, com dados atualizados até às 24:00 de segunda-feira, mantendo-se a Região Autónoma da Madeira sem registo de óbitos.
Segundo os dados da Direção-Geral da Saúde, 755 vítimas mortais são mulheres e 737 são homens.
Das mortes registadas, 1.009 tinham mais de 80 anos, 284 tinham entre os 70 e os 79 anos, 131 tinham entre os 60 e 69 anos, 48 entre 50 e 59, 17 entre os 40 e os 49. Há duas mortes registadas entre os 20 e os 29 anos e uma na faixa etária entre os 30 e os 39 anos.
A caracterização clínica dos casos confirmados indica que 394 doentes estão internados em hospitais, mais 28 do que na segunda-feira (+7,7%), dos quais 65 em Unidades de Cuidados Intensivos (mais 10, +18,2%).
Os dados da DGS precisam que o concelho de Lisboa é o que regista o maior número de casos de infeção pelo novo coronavírus (2.700), seguido por Vila Nova de Gaia (1.592), Sintra (1.701), Porto (1.414), Matosinhos (1.292), Loures (1.288) e Braga (1.256).
Desde o dia 01 de janeiro, registaram-se 342.060 casos suspeitos, dos quais 1.618 aguardam resultado dos testes.
Há 305.136 casos em que o resultado dos testes foi negativo, refere a DGS, adiantando que o número de doentes recuperados subiu para 21.339 (mais 183).
A DGS regista também 30.176 contactos em vigilância pelas autoridades de saúde.
Do total de infetados, 20.045 são mulheres e 15.261 são homens.
A faixa etária mais afetada pela doença é a dos 40 aos 49 anos (5.929), seguida da faixa dos 50 aos 59 anos (5.753) e das pessoas com idades entre os 30 e os 39 anos (5.459).
Há ainda 4.874 doentes entre os 20 e os 29 anos, 4.699 com mais de 80 anos, 3.771 entre os 60 e 69 anos, e 2.724 entre 70 e 79 anos.
A DGS regista igualmente 827 casos de crianças até aos nove anos e 1.234 jovens com idades entre os 10 e os 19 anos.
De acordo com a DGS, 39% dos doentes positivos ao novo coronavírus apresentam como sintomas tosse, 29% febre, 21% dores musculares, 20% cefaleia, 15% fraqueza generalizada e 11% dificuldade respiratória.
A pandemia de covid-19 já provocou a morte a pelo menos 406.466 pessoas e infetou mais de 7,1 milhões em todo o mundo.
Mais de 3,1 milhões foram considerados curados pelas autoridades de saúde.
A doença é transmitida por um novo coronavírus detetado no final de dezembro, em Wuhan, uma cidade do centro da China.
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