Vários estudantes e professores contactados pela agência Lusa dizem terem sido aconselhados a regressarem a casa por período indefinido. "Por favor, regresse a casa, pode voltar assim que a guerra contra o surto acabar", lê-se numa das mensagens a que a Lusa teve acesso.

Professores de línguas estrangeiras em escolas de ensino primário ao secundário, ou treinadores de futebol no ensino básico - ocupação de cerca de cem portugueses na China - estão ainda a ser notificados de que os seus salários serão reduzidos, em alguns casos para o equivalente ao salário mínimo por lei da cidade onde trabalham.

Em Pequim, por exemplo, o salário mínimo está fixado nos 2.200 yuan (290 euros), um valor que não cobre metade da renda mensal de um quarto na área metropolitana do município. Nas províncias mais pobres do país, o salário mínimo ronda os 1.500 yuan (200 euros).

Milhões de trabalhadores deveriam ter já regressado das suas terras natais, mas a rápida propagação do vírus levou as autoridades a prolongar o feriado nacional e a recomendar às empresas que deixem os funcionários trabalharem a partir de casa.

Várias universidades suspenderam o início do semestre por um período indefinido. Outras apontam para maio, a seguir ao feriado do Dia do Trabalhador.

A decisão das universidades pode afetar uma aposta estratégica de Pequim, que tem, nos últimos anos, procurado atrair estudantes de todo o mundo, parte da sua ambição por maior influência global.

O país asiático é já o terceiro maior destino para estudantes estrangeiros, superado apenas pelos Estados Unidos e Reino Unido. O país asiático tinha como meta receber meio milhão de estudantes oriundos de diferentes partes do mundo este ano.

A China é também o segundo maior destino para estudantes africanos, a seguir a França, atraindo centenas de estudantes oriundos dos países africanos de língua oficial portuguesa.

Todos os anos, o ministério chinês da Educação oferece seis bolsas de estudo a estudantes portugueses e destinadas a cursos livres, gerais ou avançados, em todas as áreas.

O Instituto Confúcio, organismo patrocinado por Pequim para assegurar o ensino de chinês, e que está presente em cinco universidades portuguesas - Aveiro, Coimbra, Lisboa, Minho e Porto -, oferece também programas de intercâmbio na China.

Os do curso de Tradução e Interpretação Português/Chinês - Chinês/Português, do Instituto Politécnico de Leiria (IPL), cumprem também um ano letivo na Universidade de Línguas Estrangeiras de Pequim.

Na Universidade de Estudos Estrangeiros de Tianjin, cidade a 120 quilómetros de Pequim e que tem um protocolo com o Instituto Confúcio de Lisboa, os alunos e professores que optarem por ficar estão proibidos de sair do ‘campus'. Uma aluna e dois professores oriundos de Portugal permanecem na universidade.

O surto do Covid-19 matou, até à data, mais de 1.300 pessoas e infetou quase 60.000 pessoas em toda a China, levando a um corte temporário nos laços entre o país e a comunidade global. Várias companhias aéreas suspenderam voos de e para a China. Os países vizinhos Vietname, Coreia do Norte ou Rússia encerraram também as fronteiras terrestres com o país.

O isolamento surge numa altura em que Pequim assume uma política externa mais assertiva, visando converter a China numa superpotência global até meados deste século, e que se reflete na iniciativa ‘uma faixa, uma rota'.

Lançada em 2013, pelo Presidente chinês, Xi Jinping, aquela iniciativa, que foi já inscrita na Constituição chinesa, inclui a construção de linhas ferroviárias, aeroportos, centrais elétricas ou zonas de comércio livre, visando abrir novas vias comerciais e redesenhar o mapa da economia mundial.

O país asiático é também o maior emissor de estudantes estrangeiros - mais de 662.000 chineses estudam fora do país, a maioria nos Estados Unidos e Reino Unido.

A decisão de Washington e da Austrália de proibir a entrada a quem esteve na China nos últimos 14 dias está também a afetar milhares de estudantes chineses matriculados em universidades norte-americanas, e agora impedidos de regressarem às aulas.

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