Num comunicado conjunto, a Sociedade Portuguesa de Reumatologia (SPR) e o Colégio de Reumatologia da Ordem dos Médicos manifestam a sua preocupação com o facto de se poder assistir, “no contexto de expectativas infundadas no âmbito da pandemia de covid-19, a uma prescrição indiscriminada e exagerada destes fármacos, sem quaisquer critérios clinicamente definidos, a qual irá comprometer a assistência aos doentes reumáticos”.

As duas organizações referem-se sobretudo à hidroxicloroquina e à cloroquina, medicamentos validados para casos de malária e que têm estado a ser usados nesta pandemia em doentes internados com covid-19.

Lembram que a hidroxicloroquina é atualmente utilizada em diversas doenças reumáticas inflamatórias sistémicas, nomeadamente no Lúpus Eritematoso Sistémico (LES), Síndrome de Sjögren, Artrite Reumatoide, entre outras, e que é “essencial no controle destas doenças graves, incapacitantes e potencialmente fatais se não forem atempada e adequadamente tratadas”

“A manutenção regular da medicação é essencial para que não se verifiquem agudizações da doença subjacente, pelo que deverá ser garantido a estes doentes o acesso a esta terapêutica”, consideram.

Sublinham a necessidade de redimensionar as embalagens deste medicamento, dos 10 comprimidos atuais, para embalagens de 30 ou 60 comprimidos, pois dizem ser “mais compatíveis com a sua utilização em patologias crónicas”.

“A existência de tais apresentações, teria minimizado de forma radical a atual conjuntura de acesso limitado e de rotura de stocks deste medicamento, reduzindo a possibilidade de os doentes reumáticos a ele não terem acesso”, acrescentam.

As duas estruturas recordam que a Agência Europeia do Medicamento defendeu no início deste mês que a utilização da hidroxicloroquina e de cloroquina no contexto da pandemia deveria ser limitada a ensaios clínicos ou protocolos nacionais validados e reforçou “a necessidade da manutenção da utilização destes fármacos nos doentes crónicos que deles necessitam, sublinhando a exigência de que a sua prescrição não deve ser aumentada (em termos de número de embalagens) para além do estritamente necessário em cada momento clínico”.

Para evitar que os medicamentos necessários a estes doentes deixem de estar disponíveis, a SPR e o colégio de reumatologia da Ordem dos Médicos defendem que se deve bloquear temporariamente a disponibilização da hidroxicloroquina na farmácia comunitária a doentes que não o utilizavam anteriormente, mantendo a sua disponibilidade a quem já o tomava de forma crónica (mediante prova de receita prévia).

Dizem ainda que se deve dispensar a cada doente “o número de embalagens ajustadas para esta situação temporal e os constrangimentos da regra do isolamento social (ex: 2 meses de tratamento)”.

Ambas as estruturas defendem que se deve restringir a utilização da hidroxicloroquina no contexto da pandemia “dentro de critérios e recomendações estritas e precisas”, potenciando a utilização “por quem dele realmente necessita – os doentes reumáticos e potencialmente alguns doentes infetados pela covid-19 (mediante critérios clínicos)”.

Defendem ainda que se deve aumentar a disponibilidade deste fármaco no mercado nacional, promovendo ações que visem potenciar o stock.

Para futuro, sublinham a necessidade de “rever e incrementar o dimensionamento da embalagem de apresentação terapêutica”, tendo em conta que se trata de doenças crónicas e visando “gerar uma reserva estratégica que melhor defenda todos os doentes que dele necessitam”.

Segundo os critérios de abordagem terapêutica definidos pela Direção-Geral da Saúde (DGS) numa norma publicada no final de março, os doentes internados em enfermarias que apresentem insuficiência respiratória ou evidência radiológica de pneumonia podem ser tratados com hidroxicloroquina ou cloroquina durante pelo menos sete dias.

Os últimos dados divulgados hoje pela DGS registam 345 mortos associados à covid-19 em Portugal e 12.442 casos de infeção.

Detetado em dezembro de 2019, na China, o novo coronavírus, que provoca a doença covid-19, já infetou mais de 1,3 milhões de pessoas em todo o mundo, das quais morreram mais de 75 mil.

Dos casos de infeção, cerca de 290 mil são considerados curados.