Vítor Ennes viajou de Lisboa, a cerca de 200 quilómetros de Portalegre, para visitar o pai, José Alberto, depois de não se verem durante "um longo período", apenas “cortado” por alguns instantes, no início deste mês, quando lhe “cantou à distância” os parabéns pelos 81 anos.
Emocionado, no final da visita, com recurso a máscara e viseira e também "com a devida distância social", Vítor Ennes confessa à agência Lusa que deu para “matar” saudades, mas que faltou dar “aquele abraço” ao pai.
“Dá para matar [saudades] de uma forma diferente, não podemos dar aquele abraço que tanto gostamos. É o que é possível neste momento e o importante é que estejamos todos seguros e que isto seja só uma fase passageira”, diz.
“Falta um abraço que eu gostaria muito de lhe dar. Ainda por cima, estamos a passar uma fase um bocado sensível, a minha mãe faleceu há seis meses, gostava de lhe dar um abraço”, desabafa.
O pai, José Alberto, também está feliz pelo reencontro com o filho, mas diz que seria “um bocadinho melhor” as pessoas estarem mais próximas.
O período de afastamento dos familiares “passou”, relata o idoso, devido à companhia dos outros residentes na casa de repouso, que ajudaram a “esquecer um bocado” as saudades que guardava.
Um pouco antes de Vítor Ennes, foi a vez de Arlanda Gouveia, também emocionada, visitar a mãe, prestes a completar 100 anos e a mais velha da instituição.
“É muito complicado estar tanto tempo sem abraço, sem festinha, mas não há outra hipótese e, sobretudo, para uma pessoa desta idade, tão vulnerável, teve mesmo de ser. Nós temos falado muitas vezes ao telefone, eu tenho visto diários [nas redes sociais da instituição], sei que está bem entregue e que está bem, mas de qualquer maneira, sobretudo para eles que estão aqui, deve ter sido um período muito comprido e muito duro, faltou o tal abraço”, diz.
Apesar dos tempos difíceis que o país atravessa devido à pandemia, Arlanda Gouveia espera poder ser possível no dia 21 de agosto assinalar o 100.º aniversário da mãe fora da instituição, acompanhadas da restante família.
João Casqueira, um dos responsáveis da Casa de Repouso Senhora da Penha, instituição que está em funcionamento há 19 anos na cidade alentejana de Portalegre e que acolhe 38 residentes, assistidos por 27 funcionários, garante à Lusa que as condições de segurança durante as visitas estão asseguradas.
“Não estamos a receber visitas no interior da casa e estipulamos um horário para cada familiar, ou seja, cada família pode vir ver o pai ou a mãe num dia e numa hora e com essa logística conseguimos encaixar duas visitas por semana com o espaço de 30 minutos”, explica.
As visitas, previamente marcadas, são efetuadas no alpendre da instituição, com mesas e cadeiras, a “uma distância segura”, diz.
O Governo aprovou na passada sexta-feira o calendário da segunda fase de levantamento das medidas de confinamento, no âmbito da pandemia de covid-19, prorrogando também até 31 de maio a declaração de situação de calamidade.
Em lares estão autorizadas visitas de uma pessoa por utente, uma vez por semana (máximo de 90 minutos) com marcação prévia.
Durante as visitas deve ser mantido o distanciamento físico, utilização de máscara e observadas as regras de higienização.
*Por Hugo Teixeira (texto) e Nuno Veiga (fotos), da agência Lusa
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