Deteção de porcos portadores de doenças, monitorização de sinais de tosse, distribuição de quantidades de alimento em função da fase de crescimento: esta é a visão da “criação suína do futuro”, diz ao New York Times Jackson He, o CEO da Yingzi Technology, uma empresa que está a implementar as tecnologias de reconhecimento facial e de voz ao setor da produção suína.
Jackson He admite que estes serviços não vão eliminar a febre suína, mas podem ajudar a detetar a doença mais cedo e a prevenir a sua expansão.
Para além desta pequena empresa sediada na cidade de Guangzhou, há grandes nomes do mundo dos negócios, como a Alibaba (uma das maiores empresas mundiais de vendas online) e a sua rival JD.com, a acompanhar a aposta no desenvolvimento destas soluções tecnológicas.
Os sistemas de monitorização de porcos criados pela Alibaba, por exemplo, permitem aos produtores acompanhar os animais em tempo real e prescrever um plano para melhorar a saúde de cada exemplar, explicou a empresa num comunicado. Já as tecnologias de reconhecimento facial da JD.com conseguem detetar os porcos que estão doentes e notificar os produtores, que depois podem aplicar o tratamento adequado.
Na China, a revolução digital e as tecnologias de reconhecimento facial têm vindo a expandir-se rapidamente e a chegar a várias áreas da sociedade, incluindo aos sistemas de videovigilância dos cidadãos e à identificação de criminosos pela polícia através da aplicação do software a uns óculos especiais que estão ligados a uma base de dados de suspeitos.
Segundo as empresas que estão a desenvolver a tecnologia no setor da suinicultura, o reconhecimento facial dos porcos funciona da mesma forma que o dos humanos. O software identifica as características faciais - neste caso, os pêlos, o focinho, os olhos e as orelhas - e desta forma mapeia e distingue a “cara” de cada porco.
Mas nem todos dão as boas-vindas - pelo menos para já - à aplicação destas tecnologias à produção suína.
Para Dirk Pfeiffer, um professor de epidemiologia veterinária na City University de Hong Kong, ainda faltam garantias da eficiência destes serviços. “Gosto da ideia, gosto do conceito, mas preciso que me mostrem que funciona. Porque se não funciona é contraprodutivo”, diz em declarações ao New York Times.
Já Wang Wenjun, um produtor chinês de 27 anos, assume desde logo: “Nós não iremos investir nestes serviços”. “Para as produtoras que têm apenas algumas centenas de porcos isto não é útil”, acrescenta.
A febre suína africana, que tem estado a afetar o mercado chinês, não tem cura e é transmitida entre os animais que estão em contacto uns com os outros. Embora não haja indícios de que seja perigosa para os humanos, as pessoas podem ser portadoras da doença.
Sendo a China o maior produtor mundial de carne de porco e um país onde este é um alimento básico, o controlo de doenças nestes animais é visto como uma necessidade e uma oportunidade pelas grandes empresas.
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