Escassas duas horas depois de o primeiro-ministro, António Costa, ter anunciado que o Governo se demite caso a contabilização total do tempo de serviço dos professores for aprovada em votação final no parlamento, Assunção Cristas criticou-o em termos duros.

“Um primeiro-ministro que não se demite quando morrem 116 pessoas nos incêndios [em 2017] é o mesmo primeiro-ministro que empurra o país para uma crise política a propósito, apenas, da obrigação de negociar com os professores”, afirmou.

Depois, contestou argumentos usados por António Costa na sua comunicação ao país e disse que “é mentira” que as medidas aprovadas na comissão parlamentar de Educação por PSD, CDS-PP, PCP e BE representem “mais despesa”, “compromissos novos para o futuro” e que ponham “em causa as contas públicas”.

E começou aí a crítica cerrada a António Costa, acusando-o de lançar Portugal “para uma crise de forma irresponsável, afetando a credibilidade externa”, “apenas para retirar hipotéticas vantagens eleitorais”.

Quem quer “virar as costas ao país é um primeiro-ministro sem credibilidade”, acrescentou.

Além disso, Assunção Cristas fez uma comparação com José Sócrates.

“O primeiro-ministro que ameaça hoje demitir, tal qual José Sócrates em vésperas de votação do PEC [Programa de Estabilidade e Crescimento], é o mesmo que, há semanas, negava esta hipótese”, afirmou ainda.

Após recordar que o CDS-PP já apresentou duas moções de censura ao Governo, ambas chumbadas, Assunção Cristas afirmou que, pelo seu partido, o Governo “já tinha terminado há muito”.

“Se o Governo perdeu a sua maioria, então não tem como governar”, concluiu, antes de anunciar que os centristas tinha pedido uma audiência ao Presidente da República.

A presidente dos centristas devolveu a Costa as acusações de incoerência, lembrando que o PS - ao contrário do CDS-PP, que se absteve, com o PSD - aprovou no parlamento, em 2017, um projeto de resolução que recomendava ao Governo que, "em diálogo com os sindicatos” garantisse que, nas carreiras cuja progressão depende também do serviço prestado, fosse “contado todo o tempo, para efeitos de progressão na carreira e correspondente valorização remuneratória".

O parlamento aprovou na quinta-feira uma alteração ao decreto do Governo, com os votos contra do PS e o apoio de todas as outras forças políticas, estipulando que o tempo de serviço a recuperar são os nove anos, quatro meses e dois dias reivindicados pelos sindicatos docentes.

Não ficou estabelecido qualquer calendário de recuperação do tempo de serviço, rejeitando as propostas do PCP e Bloco de Esquerda nesse sentido, mas foi aprovado, ainda assim, que os dois anos, nove meses e 18 dias devem ser recuperados com efeitos a janeiro de 2019.

Após uma reunião extraordinária do 'núcleo duro' do Governo, de manhã, e uma audiência com o Presidente da República, à tarde, o primeiro-ministro, António Costa anunciou que comunicou a Marcelo Rebelo de Sousa que o Governo se demite caso a contabilização total do tempo de serviço dos professores for aprovada em votação final global.