O ex-eurodeputado socialista Francisco Assis considerou que as declarações de Catarina Martins são “um ataque ao carácter” do partido.
Em declarações à agência Lusa, Francisco Assis diz que são "inadmissíveis" as acusações de Catarina Martins, nomeadamente quando diz, em entrevista ao Expresso, que “o PS é permeável aos grandes interesses económicos”.
"O PS tem que defender a sua honradez”, porque é um partido "que sempre colocou o interesse público acima de qualquer interesse particular”, acrescentou o antigo líder parlamentar do PS.
“Considero este ataque violentíssimo, que merece uma resposta pronta, clara e incisiva por parte da direção do PS, por uma questão de respeito e de amor-próprio”, afirmou o político.
"Nós não podemos estar reféns de qualquer parceria política ao ponto de aceitar sermos enxovalhados na praça pública sem esboçarmos a mais ligeira reação. Um partido que age assim não se está a dar ao respeito a si próprio. Isso tem consequências graves a prazo, portanto acho que neste momento é importante que alguém o faça", afirmou.
Sobre o alegado “volte-face” no setor da energia que Catarina Martins referiu, o ex-líder parlamentar socialista defendeu e aprovou a decisão do primeiro-ministro, António Costa.
Reprovou ainda os “ataques que o Bloco de Esquerda tem desferido ao PS, que visam atingir a essência do partido”, considerando que se “pode estar a entrar num processo perigoso, porque pode-se começar a instalar a ideia de uma espécie de superioridade moral da extrema esquerda sobre a esquerda democrática”.
Sobre a renegociação da dívida defendida por Catarina Martins, o ex-eurodeputado descreveu essa retórica como “completamente desfasada da realidade dos compromissos e da integração no espaço europeu, da salvaguarda da nossa imagem internacional”, visto que compete ao governo, não a renegociação da dívida, mas a redução da mesma.
“Essa é uma preocupação do Governo que eu tenho saudado. Neste caso o Governo tem estado bem, cumprindo com os seus compromissos europeus, com uma redução significativa do défice orçamental, o que suscitou o reconhecimento de Mário Centeno para a presidência do Eurogrupo”, continuou.
Para Francisco Assis, o ministro das Finanças a presidir ao Eurogrupo não constituirá razão para mais divergências entre o Governo e o BE e o PCP, porque essas “divergências já estão assinaladas desde o primeiro momento”.
“Não é pelo facto de o ministro Mário Centeno assumir a presidência do Eurogrupo que elas [divergências] se vão agudizar. Eu continuo a pensar que esta solução [da maioria à esquerda] é uma solução débil, porque é assente numa certa desvalorização de divergências insanáveis em áreas centrais da vida política e económica”, explicou.
Assis ressalvou ainda que não quer “provocar nenhuma cisão no PS” porque, apesar de não concordar com a solução à esquerda, reconhece que o primeiro-ministro soube manter a sua posição em alguns temas.
“É a posição maioritária do PS, não é a minha. Ficará para a história que, por mais isolado que tivesse, houve alguém que não concordou nunca com esta solução. Também é verdade que o primeiro-ministro em questões essenciais foi intransigente e isso tenho que salientar e elogiar, nomeadamente em matéria europeia. Tem sido de uma intransigência absoluta e isso é algo que valorizo muito”, explanou.
Relativamente ao futuro socialista com o BE e o PCP, o ex-eurodeputado relembra que tem uma visão crítica deste relacionamento, apesar do “entendimento ter conseguido manter-se”, mas acha que “há limites para tudo”, porque não se deve “permitir que ataques ao PS ultrapassem todos os limites da decência e, se não forem devidamente repelidos, pode instalar-se uma imagem negativa sobre o PS”.
“A seriedade, a conduta política, a preocupação permanente de sobrepor o interesse público aos interesses privados, isso sempre foi uma marca do Partido Socialista. Todos os partidos, ao longa da sua vida, cometem erros, mas o PS não é, nem nunca foi, um partido subjugado a interesses e a negócios”, rematou.
[Artigo atualizado às 20:28]
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