No primeiro domingo de cada mês, um grupo de homens, católicos fundamentalistas, junta-se na Praça Ban Jelacic, em Zagreb. Depois, liderados por um padre, rezam em conjunto para que as mulheres tenham menos direitos e a primazia masculina seja mais forte. O site Total Croatia News, falou com alguns destes homens que oram pelo fim do sexo antes do casamento e pela obrigatoriedade das mulheres andarem mais tapadas.

O padre Bozider Nagy é o pároco da Basílica do Coração de Jesus, e atribui os pecados e os crimes da população masculina à forma "imoral" como as mulheres se vestem. "Muitas mulheres não têm noção que quando se vestem de forma provocadora, isso causa muitos inconvenientes à população masculina. As mulheres deviam garantir que não fazem os homens pecar por causa dos seus comportamentos e roupas". Em conversa com o jornalista croata, o padre deixa bem claro que quer tenham consciência, ou não, as mulheres, as suas roupas e comportamentos, serão sempre os principais culpados dos comportamentos dos homens.

Estes homens fazem parte de um movimentos que começou na Polónia e que, segundo os próprios, se está a alastrar ao resto do mundo. Dizem apenas querer repor os mandamentos de Deus que, segundo o líder espiritual, "nunca passam de moda" e que, acredita, terem servido de inspiração à Carta Universal dos Direitos Humanos. Este movimento de oração teve início na Fundação Oros Iuris, cuja delegação croata foi criada há quatro anos pelo croata John Vice Batarelo e a sua Fundação Vigilare.

Embora achem que "os países muçulmanos" foram longe demais, olham para eles como exemplo, porque "quando uma mulher se veste de forma decente, não é provocadora quando está coberta, está tudo bem". O padre acrescenta, lembrando o Santo croata Ivan Merz, "ele disse que as mulheres tapadas no Islão eram, afinal, uma coisa boa."

O padre garante que não é nada contra as mulheres, mas o que é certo é que na lista das preces encontram-se vários direitos a ser-lhe retirados. Segundo o site católico Christian Network Europe, os homens são pro-vida, rezam pelo fim do aborto, pela paz e conversão croata e por um papel mais preponderante do pai na família. O site católico não falou com nenhum dos homens presentes, mas referiu a manifestação "pacífica" que algumas mulheres fizeram à hora da oração, na mesma praça.

Estas mulheres decidiram manifestar-se contra o movimento "Sê Masculino", que estes homens apregoam entre orações, por acreditarem que "o pedido de restaurar a sua autoridade na família é retrógrado, inconstitucional e anti-civilisacional", explicaram ao jornal N1.

Durante uma hora homens rezaram de um lado, e as mulheres protestaram do outro. Tudo correu de forma pacífica. As mulheres tinham como mote a luta contra a submissão, não quererem ver a sua vida sexual, ou forma como se vestem a ser controladas por terceiros. No meio de gritos de força, algumas mulheres negras tinham o cabelo tapado por turbantes e num gesto de revolta atiraram-nos ao chão. O site noticioso conta, também, que uma bandeira Lgbti era exibida pelas mulheres, o que apressou os seguranças dos homens a por-se numa posição que a tapasse, para que o grupo masculino não a visse.

A artista Arijana Lekic-Fridrich explicou que por trás da associação Vigilare, organizadora das preces dominicais, está a associação polaca Ordo Iuris, responsável por banir o aborto na Polónia. Importa lembrar que neste momento, na Croácia, as mulheres podem abortar livremente até às 10 semanas de gestação. A artista explica que quer que esta realidade permaneça, "o cenário polaco não vai acontecer na Croácia, e vamos lutar pelos direitos conseguidos pelas nossas mães e avós". Pedrag Matic, deputado europeu eleito pelo Partido Social Democrata Croata, juntou-se aos protestos das mulheres. Explicou ao N1 a sua perplexidade, "com todas as mulheres que são mortas e espancadas diariamente, a maior preocupação é forma como as mulheres croatas se vestem."