Segundo o relatório, elaborado pelo Instituto de Engenharia de Sistemas e Computadores, Tecnologia e Ciência (INESC TEC), do Porto, e ao qual a Lusa teve hoje acesso, os custos relativos aos internamentos em Portugal ascendem a 1.800 milhões de euros anuais.
Em 2016, avança o relatório, foram registados 819.476 internamentos, com um custo médio de 2.285 euros por internamento.
Com a criação de um internato de especialização em enfermagem, considerando as 1.500 posições para enfermeiros especialistas disponibilizadas atualmente por ano, estima-se que essa medida leve a "um benefício líquido médio de cerca de 18 milhões de euros por ano", que pode ser revertido para o Estado, lê-se no documento.
O investigador do INESC TEC Mário Amorim Lopes explica: os 18 milhões de euros resultam da diferença entre um custo estimado de 63 milhões de euros anuais para os internatos (onde se inclui um acréscimo salarial) e de uma poupança de 81 milhões de euros por ano, resultante de uma redução esperada de 5% nos internamentos.
O relatório aponta ainda que, caso se aumente para 3.000 as vagas de enfermeiros a realizarem formação em regime de internato, em 15 anos seja possível aumentar o número de especialistas para garantir uma cobertura de 90% nos cuidados de saúde primários, de 50% nos diferenciados e de 30% nos continuados integrados.
Em declarações à Lusa, o vice-presidente da Ordem dos Enfermeiros, Luís Barreira, indicou que, através deste relatório, pretende-se mostrar o panorama internacional quanto à especialização em enfermagem e estimar o impacto dessa medida no contexto económico em Portugal, onde existem seis especialidades e onde está já concluído o processo de reconhecimento de seis novas áreas de especialização.
As conclusões deste trabalho, que demorou cerca de seis meses a estar concluído, mostram que a evolução das necessidades em termos de saúde e tecnologia, a par das alterações organizacionais, "exigem uma redefinição na gestão de recursos humanos (ao nível de intervenção, qualificação, número e distribuição)".
"Há uma necessidade de investimento em recursos especializados e não é por caso que existem 52 especialidades médicas. A enfermagem enfrenta os mesmos desafios: populações com doenças crónicas, com comorbilidades, que vivem mais tempo e que requerem cuidados muito especializados", referiu o investigador, Mário Amorim Lopes.
De acordo com o investigador, a introdução das especialidades de enfermagem e de formação avançada é uma tendência internacional, que tem vindo a ser implementada em países como a Bélgica, a Irlanda e a França, sendo que noutros, como os Estados Unidos e o Reino Unido, essa é uma realidade há vários anos.
Mário Amorim Lopes salientou os ganhos que esta medida permite obter em saúde para os clientes (melhoria dos indicadores de saúde), para as instituições (melhoria dos indicadores de gestão e de eficiência) e para os próprios profissionais (melhoria dos índices de satisfação e de retenção).
"Há possibilidade de os profissionais terem uma carreira, coisa de deixou de existir há uns anos. Atualmente, ou são enfermeiros generalistas ou enfermeiros-chefe. A aposta na especialização aumenta claramente a sua satisfação e as taxas de retenção, fazendo com que estes permaneçam nas instituições durante mais tempo", notou.
Luís Barreira, por sua vez, afirmou que, embora as questões relativas à especialização sejam da competência da Ordem dos Enfermeiros, também "têm que existir fatores motivacionais para os enfermeiros".
"Hoje em dia, o enfermeiro tem que pagar a sua especialidade para ter a atribuição do título, o que depois não tem a repercussão em termos de remuneração", disse, reforçando que "é importante haver uma revisão da carreira salarial e a possibilidade de estes profissionais fazerem o seu internato da especialidade no tempo de serviço".
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