Chama-se SYSVent OM1 e trata-se de “um ventilador desenvolvido especificamente para cuidados intensivos”, lê-se no comunicado da Ordem dos Médicos (OM).

O Conselho Regional do Norte da Ordem dos Médicos apresentou hoje o equipamento, após ter sido submetido a testes, em abril. Na mesma nota da OM, confirma-se o cumprimento dos requisitos para obter certificação, de acordo com a Diretiva de Dispositivos Médicos Europeia, “nomeadamente administração e controle de mistura de oxigénio, controle por pressão e volume, quer em modo de controlo mandatório quer em modo assistido”. Ou seja, o ventilador permite, a quem o operar, controlar vários parâmetros no doente.

O ventilador é da autoria da empresa SYSADVANCE, que é atualmente a única empresa portuguesa que ostenta o nível de certificação para desenvolvimento e produção de Dispositivos Médicos da Classe IIb – Suporte de Vida e foi desenvolvido por “engenheiros altamente diferenciados” em parceria com equipa especializada em cuidados intensivos da Ordem dos Médicos. A empresa é especializada no desenvolvimento e produção de sistemas de geração de Oxigénio Medicinal in situ,", ou seja, produzido no local, "sendo certificada pela SGS Bélgica de acordo com a ISO 13485 – Sistema de Gestão da Qualidade para Dispositivos Médicos.

Ainda sobre o facto de ser a SYADVANCE a parceira na produção do ventilador agora apresentado, Miguel Guimarães, bastonário da OM, sublinha que é muito importante ter “um ventilador que garanta segurança aos doentes”. E acrescentou, na conferência que teve lugar hoje, que “este ventilador foi pensado para responder e comparar com o ventilador de referência de mercado”.

“No fundo, é um ventilador exclusivamente preparado para cuidados intensivos, para poder de facto exercer a sua função, juntamente com quem o manipula, naturalmente, para dar uma resposta que serve para qualquer doente”, acrescenta.

Miguel Guimarães acrescentou ainda que o ventilador estará disponível quando o equipamento “tiver a marca CE”. A marca CE é um indicativo de conformidade obrigatória para produtos comercializados no espaço económico europeu.

O próximo passo é ver cumprido o objetivo inicial: reforçar os hospitais de todo o país. A expectativa dos responsáveis é de que a certificação do SYSVent OM1 fique concluída em novembro, já incluindo a fase de auditorias e testes, e que o ventilador esteja disponível no mercado até final do ano.

"Estamos a mobilizar esforços grandes para ter certificado até novembro e produzi-lo até final do ano", disse o administrador José Vale Machado, acrescentando já ter tido contactos internacionais e manifestações de interesse do Brasil, Arábia Saudita e Peru, entre outros países.

Parte dos ventiladores têm como destino o reforço do Serviço Nacional de Saúde (SNS). O protocolo assinado entre o fundo “Todos Por Quem Cuida” e a SYSADVANCE, esta manhã, descreve isso mesmo. “Trinta unidades [são] exclusivamente para oferecer ao SNS”, diz Miguel Guimarães. “O nosso objetivo é que cada hospital português, que tenha cuidados intensivos, tenha um ventilador destes”

Os 30 ventiladores vão custar cerca de 210 mil euros ao fundo “Todos Por Quem Cuida”, criado pela Ordem dos Médicos e Ordem dos Farmacêuticos, com o apoio da Associação Portuguesa da Indústria Farmacêutica (Apifarma) e de várias organizações da sociedade civil.

O valor corresponde a cerca de 7 mil euros por cada unidade. Sobre este preço, José Vale Machado referiu que este é "um custo significativamente inferior, menos de metade, ao do equipamento líder de mercado".

"A primeira unidade foi feita em duas semanas, depois foram feitos aperfeiçoamentos para cumprir os requisitos da equipa da OM no que diz respeito à precisão e à fiabilidade do equipamento e hoje temos um equipamento que é mais preciso e mais fiável que o líder do mercado. Este não é um equipamento pandémico, é um equipamento para utilização massiva em cuidados intensivos", descreveu José Vale Machado, diretor geral e presidente do conselho de administração da SYSADVANCE.

O médico intensivista que liderou a equipa médica que acompanhou o desenvolvimento deste ventilador, António Carneiro, descreveu que "os ventiladores de cuidados intensivos são os mais diferenciados e exigentes" e que o que se pretendeu foi fazer um equipamento "não apenas para a pandemia".

Outra função destacada é a capacidade do SYSVent OM1 ser controlado remotamente, o que em ambiente pandémico ou de infetocontagiosas é considerado muito importante pela comunidade médica, uma vez que permite aos profissionais de saúde trabalhar com maior distanciamento.

O membro do OM, Miguel Guimarães, diz que o ventilador é “uma mais-valia para o país, para o nosso Serviço Nacional e Saúde, e sobretudo para os nossos doentes e empresas.” O setor privado também poderá adquirir os ventiladores, assim que possível.

“Termos capacidade e autonomia, não estando dependentes de outros países, para ter acesso a equipamentos fundamentais numa crise sanitária é muito importante para o país”, diz Miguel Guimarães, acrescentando que estas características são válidas não só na área da saúde.