Em declarações a partir da sede da Jornada Mundial da Juventude, D. Américo Aguiar começou por dizer que "é muito importante o escrutínio" realizado a propósito das contas da JMJ, nomeadamente por parte dos meios de comunicação social.

"Desse escrutínio, para nós é muito importante recolher as opiniões, as ideias, os conselhos, os pareceres que vamos recebendo ao longo deste tempo de preparação da Jornada. Ainda mais quando são opiniões construtivas", acentuou.

Relativamente à polémica com o altar-palco, D. Américo Aguiar frisou que "a primeira reação é agradecer o escrutínio e as opiniões", bem como o facto de os cidadãos se sentirem "livres de se pronunciar e manifestar sobre que acontece no espaço público, sobre o que acontece na sociedade".

"Para nós, é muito importante que o cidadão comum e os cidadãos com maiores responsabilidades sintam a Jornada Mundial da Juventude como algo importante e daí agradecermos muito estes apontamentos", lembrou.

Um caminho com "percalços" — e a dúvida dos números

D. Américo Aguiar recorda que "desde meados de 2019" que se faz um caminho de preparação para a JMJ, que "teve muitos percalços".

"Por um lado, a questão da pandemia, por outro também uma questão de readaptação aos novos órgãos autárquicos que resultaram das eleições que aconteceram entretanto", evidenciou. "Esse caminho vai sendo feito com todos, sempre. Somos uma estrutura não-profissional que vai recolhendo aquilo que são as colaborações mais diversas, das mais diversas áreas, para fazermos bem. O nosso objetivo é fazer bem".

"Neste objetivo de fazermos bem temos tido a graça de uma colaboração muito estreita com a organização da Jornada Mundial da Juventude do Panamá, nestes quatro anos", acrescentou, realçando que é uma relação que permite "não repetir erros".

"Cometer erros, todos podemos cometer. Agora repetir erros a que chamaram a atenção, isso não seria muito inteligente da nossa parte", notou.

O presidente da Fundação JMJ afirmou ainda que têm tido "acesso aos relatórios das jornadas mais antigas", como Cracóvia, Madrid e Rio de Janeiro.

"Nenhum de nós, alguma vez, se sentiu ou sente preparado para organizar uma Jornada Mundial da Juventude", salientou D. Américo, assumindo que uma das "falhas" na relação "com os portugueses em geral e de um modo especial com aqueles que estão mais atentos e acompanham o dia a dia da comunidade" está relacionada "com a dimensão do acontecimento".

"Nunca, no nosso país, tivemos um acontecimento como o que vai ser a Jornada Mundial da Juventude. Nem juntando Web Summit, nem festivais de verão ou outras coisas que possam imaginar. Nada disso tem comparação com aquilo que é a Jornada Mundial da Juventude na sua dimensão, na sua escala e naquilo que são as suas exigências logísticas para que tudo corra da melhor forma", explicou.

Assumindo que a Fundação ainda está a tentar fechar o orçamento de 2023 e que isso "não é fácil", D. Américo lembrou que "não é fazer prever e lidar com a incerteza daquilo que significa a participação de 'X' centenas de milhares de peregrinos, de mais ou de menos. Isso não é fácil nas previsões que temos de fazer nas mais diversas áreas, em que a responsabilidade é nossa, seja da alimentação, dos transportes, dos seguros, de tudo aquilo que também é da nossa responsabilidade, a área pastoral".

D. Américo evidenciou, assim, que esta "grandeza de números" tem "esmagado" a organização. "Sempre que pensamos em organizar alguma coisa, temos uma escala da nossa paróquia, da nossa diocese, da nossa cidade, e podemos ter, por exemplo do Santuário de Fátima. Mas mesmo o Santuário de Fátima, numa grande peregrinação, é um bocadinho daquilo que é efetivamente a Jornada Mundial da Juventude", disse.

"Acho que até à data não fomos capazes de partilhar com todos esta grandeza, esta dimensão daquilo que estamos a falar acerca da Jornada", assumiu o presidente da Fundação JMJ, justificando que é por isso que também não têm sido assumidos números concretos, embora se fale num milhão de peregrinos no país.

Nesse sentido, a Fundação JMJ também ainda não divulgou contas dos gastos com a JMJ, uma vez que nesta fase ainda poderiam ter de ser corrigidos. Contudo, D. Américo Aguiar apontou que só com a alimentação podem ser gastos 30 milhões de euros. No total, estima que possam ser atingidos os 80 milhões.

Sublinhou, no entanto, que “a Igreja em Portugal nunca teria a possibilidade de organizar a JMJ sem a colaboração do Estado” e que outras jornadas tiveram também financiamento dos Estados nos respetivos países onde aconteceram.

Sobre o retorno expectável do evento, D. Américo Aguiar disse ainda que foi formalizado na quarta-feira um protocolo com o Instituto Superior de Economia e Gestão (ISEG) da Universidade de Lisboa para contabilizar esse retorno, estando o trabalho a ser coordenado pelo economista João Duque.

E o palco? O valor "magoa todos"

Referindo que "nunca nenhuma Jornada Mundial da Juventude teve a oportunidade de legar para as gerações futuras um parque verde, um parque ecológico", como aquele que vai ser o Parque-Tejo, D. Américo Aguiar começou por lembrar que a JMJ vai também servir para reabilitar aquela zona de Lisboa e Loures.

Segundo presidente da Fundação JMJ, para o altar-palco "havia uma ideia que depois evoluiu", sendo sempre "uma estrutura que correspondesse de imediato às necessidades da JMJ".

"Os famosos requisitos são mais ou menos chapa-21 de jornadas anteriores, não há aqui novidade especial, há requisitos do terreno", lembrou. "Sabíamos desde o início que o facto de a estrutura do palco ser construída em cima do antigo aterro tinha exigências".

"Entretanto a situação evolui e a Câmara Municipal — a meu ver, bem — pensa que a estrutura pode ficar também para utilização futura. Ou seja, que toda aquela engenharia e arquitetura que foi construída para o palco pode ficar", acentua.

Sobre o altar-palco, D. Américo Aguiar garantiu que apenas soube dos custos — mais de cinco milhões de euros — através da comunicação social.

"Confesso também que o número me magoou, e magoou-nos a todos", afirmou, realçando o contexto das "dificuldades" económicas "das famílias".

"É um número que magoa porque todos vivemos num tempo em que sentimos as dificuldades. E a Igreja, de um modo muito especial e particular, vive o dia a dia das comunidades e das famílias, portanto é óbvio que nos magoou", garantiu.

O bispo-auxiliar de Lisboa referiu que, "nos próximos dias", a organização da JMJ vai reunir-se com "as equipas responsáveis pelo projeto" do altar-palco para aferir, "com um microscópio, qual é a razão deste valor".

"Parcelas que tiverem coisas do nosso pedido e que puderem ser eliminadas, por não serem essenciais, da nossa parte pediremos para serem eliminadas", frisou. "Não podemos deixar de ter presente que o Papa nos pede uma reflexão sobre a nova economia, sobre aquilo que significa o respeito pelos bens materiais", nota.

Questionado sobre se conhecia o valor do palco, o bispo frisou que há um circuito para a adjudicação da obra que é externo à Fundação e à Igreja, pelo que disse não se sentir “na obrigação de saber” o valor.

“Eu não sabia, o senhor Presidente da República não sabia e não é verdade que o senhor Presidente da República soubesse. O que é que nós sabíamos? Sabíamos o global”, disse, precisando desconhecer os valores de cada elemento que compõe a obra, que não estão na “atenção direta” da Igreja, uma vez que são responsabilidade da Câmara Municipal da Lisboa.

No entanto, afirmou que “hoje faria diferente”. Até ao fecho dos requisitos para a realização da obra, referiu o bispo, a Igreja “não sentiu” que fosse sua “responsabilidade acompanhar o caderno de encargos, os concursos, a adjudicação”, porque isso “era uma responsabilidade da SRU”.

“Cometer erros novos é humano, repetir erros é burrice. Naquilo que nos diz respeito, temos que ter procedimentos diferentes para evitar que aconteçam coisas deste género. Agiremos em conformidade, acompanhando mais de perto, pedindo para acompanhar mais de perto aquilo que sejam assuntos relacionados com os requisitos que nós tenhamos apresentado”, disse o responsável.

D. Américo Aguiar adiantou ainda que a conceção do altar-palco "foi trabalhada com a Santa Sé", mas que esta ainda não a validou a 100%, e "corresponde aos requisitos de segurança".

Nesse sentido, o bispo adiantou que "a Igreja assume a responsabilidade disto tudo", assegurando os "prejuízos" se existirem no final do evento. Por outro lado, "se existirem lucros" da Fundação JMJ, a intenção é que "sejam entregues, através da Câmara de Lisboa e da Câmara de Loures, para projetos da juventude destes dois municípios".