Este domingo a Madeira vai a eleições para a assembleia legislativa regional. O país está com os olhos postos na região autónoma como nunca antes aconteceu por dois grandes motivos: primeiro, as sondagens sugerem a ideia de que, pela primeira vez, em 43 anos de democracia o Partido Social Democrata pode não vencer o sufrágio com maioria absoluta; segundo, a proximidade deste ato eleitoral com as eleições legislativas do próximo dia 6 de outubro.

Os números não enganam. A sondagem de terça-feira, 17 de setembro, feita pela Universidade Católica Portuguesa para a RTP revela um cenário nunca antes visto na ilha da Madeira: um partido pode vencer sem maioria absoluta. Sendo que quando se diz um partido, pode ler-se PSD, que governa a região autónoma desde que há eleições livres.

A sondagem avança que os sociais-democratas deverão ter uma votação a rondar os 38%, seguidos pelo Partido Socialista com 29%, o Bloco de Esquerda e o CDS seguem-se aos socialistas com 5% das intenções de voto cada, o Juntos Pelo Povo (JPP) com 4% aparece em quinto lugar, a CDU, que há quatro anos esteve a três horas de roubar a maioria absoluta ao PSD, com 3%, o PAN com 2% e o Aliança com 1,5%.

Vamos então perceber o quadro que as percentagens traçam: para um partido ter maioria absoluta na assembleia legislativa da Madeira, necessita de conquistar 24 mandatos, ou seja, ter 24 deputados. As percentagens da sondagem acima referida produzem o seguinte cenário: PSD com 19 a 23 deputados, PS com 14 a 18, BE entre dois a três, tal como CDS e JPP, CDU um a dois deputados, PAN um deputado e o Aliança fica entre a possibilidade de eleger 1 ou nenhum deputado.

Com estas previsões, todos os cenários estão em cima da mesa e a matemática que sair das urnas no dia 22 de setembro poderá ditar uma mudança histórica ao nível governativo na Madeira. Ou não. Em conversa com o SAPO24, José Prada, secretário-geral do PSD Madeira, diz que resultados como os dos sociais-democratas nas eleições europeias, o fazem não comentar sondagens.

O comentário não existe, mas o exemplo das Europeias merece ser olhado. Nas eleições para o Parlamento Europeu, o PSD conseguiu 37,15% dos votos, nada mais nada menos do que um total de 36.928 votos na região autónoma da Madeira. Um número bastante superior ao número de votos conquistados pelos socialistas (25.657), gigante quando comparado com a votação do CDS, a principal força da oposição da Madeira nos últimos quatro anos (8033). Todos os outros números parecem igualmente pequenos quando comparados com os do Partido Social Democrata. O BE conseguiu 5257 votos, PAN 3681 votos, CDU 2950 votos e o Aliança 1607 votos.

Foi, aliás, dias após as eleições europeias - com a diferença de mais de 10 mil votos para o PSD - que Paulo Cafôfo abandonou a Câmara Municipal do Funchal, da qual era presidente, para se focar nestas eleições em que concorre a líder do Governo Regional pelo Partido Socialista. O PS sente que este é a oportunidade de uma vida para fazer história e assim conseguir pintar todo o mapa português de cor-de-rosa, juntando a Madeira aos Açores e ao governo nacional.

Espelho disso é o orçamento que os socialistas canalizaram para a campanha de Cafôfo, o maior entre todas as listas. O PS, com 370 mil euros, fica acima do PSD que reduziu, em relação à última eleição, o orçamento de 761 mil euros para 360 mil.

Independentemente do que aconteça no domingo, o facto de os vários partidos da oposição sentirem que existe uma possibilidade de mudança animou a campanha e colocou o país atento ao que vai acontecer na Madeira. Com o tabuleiro de xadrez em aberto, o SAPO24 foi falar com os principais partidos que se acredita que podem mexer com a assembleia regional para, a poucos dias das eleições, perceber como cada um vê este ato eleitoral e o que pode retirar dele.

PSD, o guardião da autonomia sem medo de perder o ‘trono’

Para José Prada, secretário-geral do PSD Madeira, estas eleições são fundamentais para a ilha da Madeira. Porquê? “Porque depois de 43 anos de governação, alguém quer vender a autonomia a Lisboa. Os madeirenses e portossantenses sabem o que querem, sabem escolher e não vão em conversas de perdas de poder”, garante.

Há um trabalho feito, afirma José Prada - “criou-se uma região de investimento, há mais emprego, mais saúde, mais proteção social, mais rendimento para as famílias e menos impostos”. Para o social-democrata é nítido que, para continuar, apenas haja, naturalmente, uma solução: o Partido Social Democrata.

As sondagens não dizem nada na perspectiva dos sociais-democratas. “Basta ver os resultados das europeias. Uma vitória estrondosa do PSD em 9 dos 11 concelhos”, diz o dirigente sublinhando que o partido não quer “invenções aqui na Madeira”.”Já sabemos os maus exemplos da geringonça a nível nacional e nunca queremos copiar maus exemplos”, sublinha.

“Se o PSD não ganha com maioria não há estabilidade na Madeira. Basta ver o que a geringonça fez ao país, mais impostos, menos educação, nunca vi tanta greve a nível nacional, nunca vi tanta reivindicação... Se isto fosse num governo do PSD, a comunicação já tinha dado cabo de não sei quantos ministros e primeiro-ministros”, comenta.

“As minhas sondagens são o contacto diário com a população que começou no dia a seguir às europeias”, reforça, dizendo que “as pessoas têm notado que as nossas medidas foram cumpridas durante os quatro anos. Tudo o que foi prometido foi cumprido. Fizemos um caderno de encargos em que mostramos isso mesmo à sociedade”.

Aqui o debate é intenso, mas o PSD garante que não faz “promessas da boca para fora, só para campanha”.

Perguntamos o porquê da redução para cerca de metade no orçamento de campanha e a resposta é rápida: “ao contrário de outros, o PSD tem cuidado com as contas. Basta ver o que nós fizemos às contas da Região Autónoma nestes quatro anos, não são precisos gastos elevados para transmitir a nossa mensagem”.

créditos: HOMEM DE GOUVEIA/LUSA

No ar paira um termo fundado por décadas de governação: o jardinismo. O termo viria a ser utilizado pela oposição, afirmando que Miguel Albuquerque tinha ficado distante e sido incapaz de arcar com a herança deixada por Alberto João Jardim, presidente do governo regional da Madeira entre 1978 e 2015.

“Não se pode comparar a governação de Alberto João Jardim com a de Miguel Albuquerque. São dois grandes homens, dois grandes presidentes e dois grandes sociais democratas. Ambos, no seu tempo, lutaram pela Madeira, pela autonomia e pelo bem-estar dos madeirenses. O dr. Alberto João nos seus anos e o doutor Miguel Albuquerque nos últimos quatro anos. Juntos, são a cara dos sociais-democratas nestes 43 anos e juntos são o exemplo de uma boa governação na Madeira”, diz.

No dia 22 de setembro, os madeirenses vão votar ou no autarca que quando governou o Funchal tem obra feita, dr. Miguel Albuquerque, ou no autarca que desgovernou o Funchal durante cinco anos, que não tem nenhuma obra

Assunto arrumado em relação a Jardim. Partimos para o outro fantasma: Paulo Cafôfo, principal adversário, segundo as sondagens, de Miguel Albuquerque nestas eleições e nome que faz a conversa subir de tom: “Claro que os madeirenses conhecem o pouco ou nenhum trabalho que Paulo Cafôfo fez e não vão na sua conversa. No dia 22 de setembro, os madeirenses vão votar ou no autarca que quando governou o Funchal tem obra feita, dr. Miguel Albuquerque, ou no autarca que desgovernou o Funchal durante cinco anos, que não tem nenhuma obra”.

Para José Prada, a distância entre ambos é tal que, afirma, se se perguntasse a 200 pessoas no Funchal, aleatoriamente, nenhuma seria capaz de dizer uma grande obra feita por Paulo Cafôfo. “Mas se perguntar quando era o tempo do dr. Miguel Albuquerque enquanto presidente da Câmara…”

“Um primeiro a Madeira, outro primeiro Lisboa. Um defende o madeirense e a Madeira, o outro é uma barriga de aluguer de Lisboa. Um defende a autonomia e o outro quer vender a autonomia a Lisboa para ter todo o Terreiro do Paço a fazer a festa rosa em Monchique”, sintetiza.

PS e a possibilidade de se fazer história

João Pedro Vieira, secretário-geral do PS Madeira é taxativo: “Aquilo que os madeirenses sentem, infelizmente, é que ao fim de 43 anos de governação do mesmo partido agravaram-se alguns problemas estruturais da região. Continuamos a ser a região uma das maiores taxas de risco de pobreza do país, uma das maiores taxas de abandono escolar precoce, uma das maiores taxas de emprego e desemprego jovem, uma das maiores taxas de emigração... 2

As críticas não ficam por aqui: "Existem um conjunto de problemas estruturais que são também o resultado natural do desgaste de 43 anos de governação do mesmo partido e que passou a promover um conjunto de comportamentos e atitudes relacionadas com o mundo dos negócios, com um certo clientelismo, com monopólios que depois acabam por condicionar a governação. Tudo isso justifica que exista claramente uma mudança do paradigma de governação que só será possível no dia em que o PSD deixar de ser poder e essa experiência já aconteceu em autarquias que em 2013 passaram a ser lideradas pela primeira vez por outros partidos e daí resultaram benefícios para toda a população com mais transparência, mais rigor nas contas públicas, mais apoios sociais para aqueles que mais precisam e julgo que é isso que a Madeira mais precisa numa altura em que partimos para aquela que já é quase a terceira geração de militantes do Partido Social Democrata a governar a região, até porque muitos deles acabam por ir lá parar sem qualquer competência para que vão exercer essas funções, apenas lá vão como resultado de 43 anos de vitórias consecutivas”.

a verdade é que é esta é a primeira vez, pelo menos em largos anos, que o PS Madeira tem uma possibilidade real e efetiva de ganhar estas eleições

O discurso é duro perante a longa governação do PSD, mas outro registo não seria de esperar. Ao fim de contas, “a verdade é que é esta é a primeira vez, pelo menos em largos anos, que o PS Madeira tem uma possibilidade real e efetiva de ganhar estas eleições”, diz o dirigente socialista.

“Vencer estas eleições é a concretização do que para nós e qualquer partido da oposição é fundamental: existir alternância no poder que permita às instituições funcionar melhor e que as do Estado voltem a cumprir as suas funções de serviço público”, sublinha.

créditos: GREGÓRIO CUNHA/LUSA

Sobre o dia 22 de setembro, não há futurologia. As sondagens já colocaram os socialistas à frente e atrás do PSD, o que dá motivação aos socialistas, mas que, ao mesmo tempo, os obriga a ter os pés na terra.

“Para já não existe nenhum acordo de coligação anterior às eleições. Depois das eleições estaremos naturalmente disponíveis para conversar com os diversos partidos, sempre com o pressuposto que é, efetivamente, mudar a região autónoma da Madeira. Aquilo que nós sabemos é que é fundamental que exista, seja com que partido for ou com que partidos forem, um conjunto de bases programáticas devidamente consolidadas e que nos permitam ao fim de 43 anos ter um governo que não seja do PSD e aí há uns partidos que se têm pronunciado, uns mais a favor da continuidade do PSD, outros que se têm mostrado mais disponíveis para promover essa alteração na governação e, até agora, os partidos de esquerda têm-se posicionado mais nesse espectro”, explica.

A mudança que o PS oferece vem sob o nome de Paulo Cafôfo, antigo presidente da Câmara Municipal do Funchal, o primeiro a conquistar a autarquia ao PSD.

“A candidatura do Paulo Cafôfo resulta precisamente como um resultado de um apoio da população para que essa candidatura existisse, os próprios dados que foram publicados diziam que os madeirenses preferem Cafôfo como presidente do Governo Regional do que Miguel Albuquerque e isso é o resultado de seis anos de governação em que nós efetivamente temos mudanças estruturais, não só no funcionamento democrático do nosso município, mas também dos programas que aplicámos”, sublinha.

Foi na autarquia daquela cidade madeirense que o PS teve a experiência de governar em coligação com pequenos partidos que não tinham representação parlamentar como o Nós, Cidadãos, o PSR, a JPP e o BE. “Aquilo que nós encaramos como possível é que, efetivamente, no dia 23 se não existir uma maioria absoluta que possam existir conversações. A verdade é que até agora, nenhum partido, nem à esquerda, nem à direita, exclui uma possibilidade de entendimento com o Partido Socialista e também não seremos nós a excluir essa possibilidade”, comenta.

CDS, um partido para quem o poder partilhado é mais “higiénico”

Rui Barreto, cabeça de lista do CDS nestas eleições regionais, afirma que este ato eleitoral é muito importante porque “os madeirenses já perceberam que as maiorias absolutas se transformam em arrogâncias absolutas e que de facto o poder partilhado é um poder que serve melhor o interesse geral das populações”. “É, se me permite, mais higiénico”, diz.

Desde 2015 que o CDS é a segunda maior força política na Madeira fazendo-se representar por sete deputados na Assembleia Legislativa Regional. “As pessoas já perceberam, também, que a negociação, a concertação e o bom senso fica mais bem garantido com um poder que não é absoluto, por isso aquilo que eu prevejo é que pela primeira vez na história da democracia da Madeira não haja uma maioria absoluta de um único partido, o que por si só será um momento histórico”, sublinha.

O objetivo, para Rui Barreto, passa por fazer dos centristas cristãos uma força “determinante para influenciar positivamente a próxima legislatura”. Já o fez nas últimas, diz o candidato, reiterando a influência que o partido teve no Orçamento para 2019 em que o CDS fez incluir várias propostas entre as quais a “redução drástica do preço dos passes sociais ou a redução do IRC”.

créditos: HOMEM DE GOUVEIA/LUSA

Para Barreto é claro que o “CDS é uma alternativa ao PSD e ao PS, e é a principal oposição ao PSD”. Sobre o ato eleitoral de domingo, invoca um cenário macro para justificar a necessidade de nenhum partido vencer com maioria absoluta: “numa Europa, onde 24 de 28 estados membros governam com dois ou mais partidos, essa condição pode e deve defender melhor o interesse das populações”.

Acho que há um certo fastio de 43 anos de maiorias absolutas. Há uma nova geração da Madeira que aspira a poder ter uma maior palavra de influência no futuro

No entanto, e apesar de ser o principal partido da oposição, o candidato não deixa de lamentar que haja “uma tentativa de transformar estas eleições numa mesa de xadrez entre PSD e PS.”

“Acho que há um certo fastio de 43 anos de maiorias absolutas. Há uma nova geração da Madeira que aspira a poder ter uma maior palavra de influência no futuro e há uma certa cristalização de um partido que governa com maioria absoluta há 43 anos”, comenta.

JPP, um jacaré a nadar de costas num rio de piranhas

O Juntos Pelo Povo é um partido nascido na Madeira em 2009. É um partido nacional “associado a um património, a uma herança política de um grupo de cidadãos eleitores do segundo maior município da região autónoma da Madeira, que é Santa Cruz”.

O partido cresceu muito nos últimos 10 anos. Nas últimas eleições autárquicas foram a terceira maior força política da Região Autónoma da Madeira com candidatura apenas em três municípios. Nas eleições para a Assembleia Legislativa Regional, em 2015, foram a terceira força política à frente do PS, inclusive, que na altura concorreu coligado com outros partidos.

“Éramos um grupo de cidadãos eleitores que estávamos à mercê da inflexibilidade e da falta de segurança não só da Constituição como da lei natural e decidimos, para preservação da marca, denominação e símbolo, constituir-nos como partido. A Constituição separa o que é a participação dos cidadãos na política autárquica, onde são permitidos grupos de cidadãos, mas quando se trata da participação em órgãos deliberativos de decisão ou de de governo como é o caso da Assembleia Legislativa Regional já corta essa participação enquanto cidadãos independentes, que passam a ter de se juntar a um partido político. Nós não concordamos com isso e a partir daí formámos um partido para a preservação da nossa identidade”, sublinha Élvio Sousa, cabeça de lista do JPP a estas eleições regionais.

créditos: HOMEM DE GOUVEIA/LUSA

Conhecidos como gauleses depois de terem conquistado em 2009 a Junta de Freguesia de Gaula, e foi no município de Santa Cruz, que no mesmo ano, fizeram história ao roubar a maioria absoluta ao PSD. “Pela primeira vez na história da democracia da Região Autónoma da Madeira, na altura era que Alberto João governava, retirámos a maioria absoluta ao PSD numa vereação. Foi a partir de 2009 que foi sendo calcetado... depois ganhamos maioria absoluta em 2013 e desde esse momento que o PSD, o nosso adversário político, não governa Santa Cruz”. Mas este não é um caso único, comenta Élvio, que sublinha que “outros municípios foram caindo para outros partidos e outros grupos de cidadãos eleitores”.

Nascemos pelo falhanço do PSD e do próprio PS, daí que dizemos muitas vezes que estamos cada vez mais distantes dos partidos do arco da governação, seja PSD, seja PS

Para o candidato, o “jardinismo não acautelou alternativa democrática”. “Nós somos um produto de combate ao PSD. O Partido Social Democrata falhou no Estado Social e na alternativa económica de sustentabilidade das contas. Nascemos pelo falhanço do PSD e do próprio PS, daí que dizemos muitas vezes que estamos cada vez mais distantes dos partidos do arco da governação, seja PSD, seja PS”.

Sobre este domingo, não há futurologia: “não sabemos aquilo que vamos valer, o facto de termos tido, com apenas uma candidatura isolada a três municípios no total de 11, a terceira força política regional, não quer dizer nada, porque as pessoas votam de forma distinta para as autarquias e para o governo regional”.

No entanto, conforme o resultado do dia 22 de setembro, não se rejeitam conversas com outras forças políticas à exceção dos sociais-democratas. “O PSD está descartado, sobre o PS... não existem vencedores antecipados pelos estudos de opinião. Basta fazer uma análise dos estudos de opinião de 2015 para cá e confrontá-los com a realidade eleitoral e perceber a fiabilidade deles”.

Além disso, está ainda na memória recente da JPP a coligação na Câmara Municipal do Funchal em que participou com o PS e a qual abandonou ao fim de um ano. “Havia uma falta de diálogo interno, uma monopolização do PS em função de outros partidos e de uma equidistância com grupos económicos, uma situação que para a JPP foi nova e com que nós não quisemos compactuar porque infelizmente os nossos adversários políticos, estou falar dos partidos do arco da governação, os líderes desses adversários políticos, seja PSD, CDS e PS, são atores a ler um guião que os grandes grupos económicos. É preferível estar a governar e bem um município onde traduzimos a nossa marca do que estar a passar, a difundir de forma rápida e repentina, de forma atabalhoada. Um dos perigos para qualquer partido é crescer de forma exponencial e repentina. Nós, para conseguirmos passar o nosso projeto, temos de o fazer de forma progressiva, cautelosa e com as pessoas à altura do nosso projeto, que bebam dos nossos princípios” sublinha.

“A população está farta do PSD, há uma vontade expressa de mudança e está na hora de dar a volta a isto. Se há uma altura certa é esta. O PSD já tem quatro autarquias no total de 11, falta agora expulsar o PSD e responsabilizar o PSD pelo que fez à Madeira que colocou os madeirenses e portossantenses com uma dívida de mais de duas ou três gerações. E isso em Portugal não se faz”, reitera.

Assumindo como grande projeto as causas sociais, a transparência e o combate à corrupção, o JPP volta a sublinhar que com Alberto João Jardim a Madeira foi levada ao fundo. “Foram feitos investimentos de forma não concertada, não acautelada. Chegámos aos quase seis mil milhões de dívida, de um orçamento regional de mil e quinhentos milhões. Anualmente vão 600 milhões para o serviço da dívida e veja quanto é que isso representa no Orçamento”, comenta.

Perante este cenário, Élvio Sousa invoca um provérbio brasileiro “em rio de piranhas o jacaré nada de costas”, para dizer que neste momento o JPP está de costas para qualquer entendimento. “O PSD já foi logo colocado de parte, é o nosso adversário político e isso não há forma. Agora, não vamos deixar os lobbistas à solta, depois isso logo se verá. Não vou fazer cenários previsionais porque não tenho perfil de bruxo”, diz.

CDU ou quem esteve, há quatros anos, a 12 votos de roubar a maioria absoluta ao PSD

“Não havendo perspectivas de que um partido por si só consiga a maioria absoluta, pela primeira vez, a questão que se coloca é: entre alternância e uma alternativa. Ou seja, o PSD e o PS que diz que pretende contribuir para uma alternância, para um rotativismo. E depois há, como defende a CDU, quem queira uma rotura, uma política alternativa. Estas eleições são de sobremaneira relevantes porque o que está aqui em causa é saber se continuará o rumo certo que tem apregoado o PSD ou o novo rumo como a CDU considera urgente ou imperativo”.

É assim que Edgar Silva, antigo candidato à presidência da República e atual candidato da CDU às eleições regionais, sintetiza a importância destas eleições. Para o comunista “não pode estar no rumo certo uma região que tem os indicadores mais elevados de risco de pobreza”. “A Madeira é, quatro décadas depois deste suposto rumo certo, a região de Portugal que apresenta, segundo os últimos dados, 32% da população em risco de pobreza. Não está no rumo certo uma região que tem vindo a agravar mais e mais os níveis de desigualdade, as assimetrias regionais com as zonas fora do Funchal completamente desequilibradas, mas também não pode estar no rumo certo a região que em todo o país em que as pessoas menos recebem, em que os salários são os mais baixos de Portugal, em que as pensões e as reformas são as mais baixas do país. O salário médio praticado na Madeira é inferior há média nacional em 115 euros, é o mais baixo rendimento do país. Este não pode ser o rumo certo”.

O cenário pós-eleições é uma total incógnita para Edgar Silva que assume que a realidade regional não tem paralelismo com a realidade do país e que, “não havendo condições para que nenhum partido, isoladamente, consiga uma maioria absoluta, ninguém com todo o rigor conseguirá, antecipadamente antever qual é que vai ser essa correlação. Pode acontecer perfeitamente que PSD e CDS por si só não consigam uma maioria absoluta, pode ser que seja necessário, a outro nível, outras correlações”.

Há quatro anos a CDU “teve o terceiro deputado eleito e retirou a maioria absoluta ao PSD, depois houve uma cambalacho e três horas depois o PSD recuperou o deputado, a maioria absoluta

Há quatro anos a CDU “teve o terceiro deputado eleito e retirou a maioria absoluta ao PSD, depois houve uma cambalacho e três horas depois o PSD recuperou o deputado, a maioria absoluta”. “Por 12 votos a CDU não elegeu o terceiro deputado que retirava a maioria absoluta ao PSD e a história teria sido escrita de uma forma completamente diferente”. E é esse cenário que hoje dá confiança ao candidato para que domingo a CDU consiga eleger mais deputados.

Sobre a questão a autonomia, bola de ping pong nos discursos socialistas e sociais democratas, Edgar Silva é sintomático: “não haverá mais e melhor autonomia, se não houver mais e melhor democracia e essa é uma nossa prioridade, mas também não haverá autonomia efetiva se não tivermos afirmação económica, capacidade de saber gerir e criar riqueza e de distribuí-la”.

Bloco de Esquerda, um partido à procura da possibilidade

Para Paulino Assunção, cabeça de lista do Bloco de Esquerda, estas eleições traduzem-se em possibilidade. Pela primeira vez, diz, ao contrário das eleições do passado “em que já se sabia de antemão quem seria o vencedor, finalmente há a possibilidade de a democracia funcionar, de haver mudanças. Foi demasiado tempo o mesmo partido no poder. 43 anos de governação não se vê em democracias saudáveis”, sublinha.

Para o candidato bloquista, “um bom resultado para o partido seria melhorar essa representação de dois deputados” de forma a dar força ao partido para conseguir “impôr mudanças mais profundas seja se for um governo de um só partido ou sem a nossa participação”.

A Madeira nestes 43 anos ficou enredada numa teia de interesses muito densas entre o governo e empresários que lhe são próximos e que fizeram fortuna à sombra do Orçamento Regional,

“A Madeira nestes 43 anos ficou enredada numa teia de interesses muito densas entre o governo e empresários que lhe são próximos e que fizeram fortuna à sombra do Orçamento Regional, à conta de negócios de favor, de conceções de infraestruturas públicas em condições de privilégio, apesar do governo regional ter uma retórica de apoio ao empreendedorismo e da iniciativa privada, a prática desmente completamente esse discurso”, diz.

A falta de perspetiva de futuro é, para Paulino Assunção, um dos maiores problemas da região. “A maior parte dos jovens que acabam a formação superior acabam por emigrar porque aqui não há oportunidades. E isto é um flagelo que apesar deste dito desenvolvimento destes últimos 40 anos, não mudou face ao que era a realidade no tempo da ditadura em que muita gente emigrava. Há aqui uma sina, geração após geração, os madeirenses são obrigados a emigrar. A Madeira não lhes proporciona condições de futuro porque é capturada por uma elite, muito restrita, que comanda tudo o que é relevante aqui na Madeira, esse é o grande propósito do Bloco”, reitera.

Segundo Paulino Conceição, nem CDS, nem PS são alternativa, admitindo no entanto que vai fazer valer o exemplo do continente em que o Bloco, na apelidada geringonça, conseguiu fazer aprovar várias medidas que não estavam no programa eleitoral socialista e tendo Catarina Martins, num comício na Madeira, a afirmar a disponiblidade do Bloco “para todas as soluções exigentes que puxam pela vida das pessoas”.

O PAN quer voltar onde não foi feliz

Para João Henrique de Freitas, candidato do PAN às eleições legislativas na Madeira, estas eleições são “duplamente importantes”. “São importantes porque antecedem umas eleições legislativas e portanto já podem ser um trampolim para os resultados do dia 6 de outubro. E são importantes para os madeirenses porque, pela primeira vez desde há 40 anos para cá, estamos na contingência de ter um governo que não seja maioritário”.

A ambição do PAN nestas eleições passa por conseguir “eleger um grupo parlamentar para poder negociar a balança”. “Pela primeira vez na Madeira podemos ter um partido verde com assento parlamentar, tentando fazer legislação nessas causas e fiscalizando o governo”.

As bandeiras do projeto são aquelas que o partido tem vindo a habituar os portugueses e focam-se, sobretudo, no ambiente. “Aquilo que nós vemos da preocupação com o ambiente e com os animais acontece depois das eleições europeias, vá-se lá saber porquê. O que me faz pensar que essas preocupações possam não ser genuínas, que sejam apenas eleitoralistas. E eleitoralismos esquecem-se depressa”.

“A Madeira sendo uma ilha - e nós sabemos que todas as regiões insulares estão mais suscetíveis às alterações climáticas do que as regiões continentais - está muito dependente de importação de energia, nomeadamente da importação de energia fóssil que é transportada por barcos que, por sua vez, fazem uma pegada ecológica enorme através do combustível que usam".

As propostas do PAN vão no sentido de criar alternativas. "O que pretendemos é que o governo faça um investimento muito maior nas energias renováveis e que permita aos cidadãos, aquilo que já foi permitido e que depois deixou de ser permitido por causa de um monopólio de uma empresa privada, que possam comprar, de forma subsidiada, os painéis solares e assim produzir a sua própria energia e, inclusivamente, vender a restante à rede e assim abater um bocadinho na sua conta da eletricidade e conseguir amortizar o investimento a médio e longo prazo. Aqui não é possível, não é possível tornar as casas e condomínios independentes a nível energético porque se protegeu um monopólio da empresa de eletricidade da Madeira. Com incremento das energias renováveis, com a possibilidade de privados e empresas produzirem parte da sua energia, evidentemente que do ponto de vista verde vamos dar um salto em termos de sustentabilidade”, sublinha.

créditos: HOMEM DE GOUVEIA/LUSA

O candidato recorda que o partido Pessoas, Animais e Natureza “estava dissolvido” na Madeira desde 2017, depois de ter conseguido eleger um deputado para a Assembleia Legislativa da região em 2011 depois de um desentendimento entre a delegação do partido na Madeira e da estrutura nacional.

nós não participaremos em qualquer governo, se formos eleitos, não faremos coligação pós-eleitoral com qualquer governo

“Esses quatro anos de ausência causam alguma mossa porque são quatro anos de esquecimento, não é? Por acaso, felizmente tivemos a ajuda do excelente trabalho que foi feito no continente”,recorda.

Sobre os possíveis resultados eleitorais é perentório: “nós não participaremos em qualquer governo, se formos eleitos, não faremos coligação pós-eleitoral com qualquer governo, admitimos viabilizar o Orçamento perante algumas cedências que são as nossas causas, como é óbvio”.

Aliança, o estreante

O partido Aliança, estreante nestas eleições, assume o mesmo discurso de oportunidade: “ao fim de 43 anos de vitória de um único partido, aparentemente em 2019 assistiremos, ou poderemos assistir, finalmente, a um mudar de ciclo que se iniciou há quatro anos quando o dr. Alberto João Jardim saiu e um dos delfins assumiu o poder. Mas na realidade, temos hoje ao nível do Estado, membros da classe política local cujos cargos passam de pai para filho quase numa espécie dinástica que se vai mantendo quando há esta questão de termos o mesmo partido ao longo de quase meio século no poder. E aquilo que inicialmente foi novidade e libertou, trouxe água, trouxe luz e os caminhos às diferentes casas, nesta fase já é limitadora das liberdades individuais dos cidadãos e castradora do desenvolvimento”.

“Nós somos um partido que, desde o seu Congresso fundador, tem seis meses. Efetivamente aparecemos num contexto, se calhar na sequência do que se assiste na Europa, que é a emergência de novos modelos políticos. Há um certo cansaço dos partidos do arco da governação, do regime, tradicionais e o partido Aliança é um partido que ao fim de seis meses concorre a todas as eleições em todos os círculos nacionais e que procura trazer para a vida pública portuguesa e regional em particular um conjunto de pessoas com vida profissional, com vida pessoal, mas que não tenham uma carreira política. Nós somos cidadãos, nós participamos na vida pública, mas temos vida e profissão para além da política. É um conceito de cidadania e não de continuidade profissional”, sublinha

O objetivo é claro: ganhar. Mas Joaquim Sousa não cai em ilusões, sabe que esse é um cenário muito difícil e por isso define como meta a conquista de um grupo parlamentar, ou seja, de pelo menos dois deputados.

créditos: GREGÓRIO CUNHA/LUSA

“O partido Aliança é um partido afeto do desenvolvimento sustentável, com grandes preocupações com as gerações vindouras, é um partido que aposta na dimensão social, da educação para todos e da saúde como um acesso para todos que é algo que hoje não assistimos. O nosso SNS foi à data revolucionário, mas hoje está estratificado. Então na Madeira, o serviço regional de saúde mais ainda. Quem tem dinheiro apanha o avião e vai ao continente, ou vai à medicina privada, quem não tem amarga nas listas de espera. Aguenta se há medicação no hospital, se não há, vê centros de saúde e hospitais com uma desatualização tecnológica preocupante e estamos a falar daquele que é o bem mais importante de todos nós que é a nossa saúde, que é a nossa vida, que é a saúde dos nosso filhos, e não podemos continuar com um paradigma assente na regionalização do SNS, mas depois não conseguimos pagar a sua atualização, não conseguimos pagar a medicação necessária, não conseguimos colocar ao serviço daqueles que mais necessitam uma saúde que lhe dê tranquilidade e garantias”, diz.

aquilo que o ato eleitoral nos diz é que as pessoas estão disponíveis para ouvir uma nova proposta no espectro político português

Coligações pós-eleitorais? “Nunca vamos correr atrás de lugares, simplesmente porque sim. Por isso, é muito difícil fazermos coligações aritméticas simplesmente porque aquele é de um partido tal ou pior ainda, porque aquele nos dá um lugar x e aquele nos dá um lugar y. Nós temos um compromisso que estamos a assumir com as pessoas e é esse compromisso que nós vamos honrar sempre”.

A confiança na estreia na Madeira é grande, em parte devido ao resultado nas eleições europeias. “Mas lá está, tenho uma certa dificuldade, se calhar é por não ser político e não ter aquela visão que os políticos por norma têm, de transportar de umas eleições para as outras, apoios eleitorais. Portanto, aquilo que o ato eleitoral nos diz é que as pessoas estão disponíveis para ouvir uma nova proposta no espectro político português”.

Iniciativa Liberal, o liberalismo chegou à Madeira

Outro estreante nestas eleições é a Iniciativa Liberal. O partido existe há dois anos, mas só está implantado na Madeira há um. “Temos as dificuldades que todos os partidos têm quando começam por falta de meios, por falta de pessoas, por falta de estrutura de se implantarem no terreno. Por isso o nosso objetivo neste momento é: atenção, estamos aqui, temos ideias, temos propostas, queremos que vocês as vejam, que entendam aquilo que nós estamos a dizer. Se conseguirmos vamos ter um bom resultado, se não conseguirmos é porque falhámos em algum lado”.

Portanto, o objetivo? “A seguir ao excelente resultado que seria ganhar as eleições, será também um bom resultado eleger um ou dois deputados”.

Para Nuno Morna “é sempre importante revitalizar a democracia”. “As alternâncias são muito importantes. O PSD Madeira, que tem sido governo até agora, teria sido perfeitamente inusitado que não tivesse vícios de poder. Há compadrio, há uma pequena corrupção associada a tudo isto, há um modo de fazer as coisas com uma certa arrogância e tudo isso sustentado naquilo que tem sido o mandato do povo quando vota”.

Para se darem a conhecer, Morna diz que o partido faz o “discurso pela positiva”. “Primeiro, de uma forma muito clara, dizendo que não temos nada a ver com aqueles senhores. A Iniciativa Liberal é um partido situado no centro com uma forte, uma fortíssima tendência para a direita, pelo menos na vertente que são os militantes aqui na Madeira. E quando olhamos para o panorama e vemos a alternância entre o mesmo e mais do mesmo... são dois partidos socialistas que andam à cabeçada um com o outro. Por isso de um lado temos sociais-democratas, do outro temos socialistas. Não reconhecemos grandes diferenças de forma entre uns e outros, por isso o nosso espaço político é o nosso espaço político. Eles olham para a direita como se fosse a origem dos pecados do mundo. Nós estamos aqui situados, muito bem situados, e tentando fazer ver algumas franjas do PSD que acham que o PSD é um partido de direita que não é, aliás a prática política do PSD nestes últimos anos de governo tem sido profundamente estatista e estatismo, como é óbvio, é esquerda, não é direita”.

créditos: HOMEM DE GOUVEIA/LUSA

“As pessoas habituaram-se a viver numa coisa em que tínhamos os estatistoconservadores do CDS e os ditos sociais democratas do PSD, os ditos socialistas do PS, depois tínhamos os comunistas, os da extrema-esquerda e não sei que mais. E no meio deste folclore todo, aparecer agora alguém a dizer que é liberal e a assumir a necessidade de existir uma estrutura partidária que agregue as várias correntes do liberalismo, porque o Iniciativa Liberal é isso mesmo, não é um partido de uma corrente do liberalismo, é aqui que nós gostávamos que fosse a casa comum de todos os liberais, porque o liberalismo sempre esteve presente na política e nos partidos portugueses. Há liberais no PS, há liberais no CDS, há liberais no PSD e se calhar com jeitinho há algumas pessoas que, não sendo militantes, se dizem do BE que são muito mais liberais do que aquilo que pensam”.

Há liberais no PS, há liberais no CDS, há liberais no PSD e se calhar com jeitinho há algumas pessoas que, não sendo militantes, se dizem do BE que são muito mais liberais do que aquilo que pensam

A Madeira não é exceção, “Aqui, o liberalismo está vivo, feliz e recomenda-se”, conclui.

Sobre o que será a Madeira depois do dia 22 de setembro, seja qual for o resultado eleitoral, Nuno Morna diz que não vê a Iniciativa Liberal “a participar num governo com socialistas, sejam eles do PSD ou socialistas do PS”. “Agora, vemo-nos a viabilizar propostas que tenhamos o entendimento delas como sendo propostas com alguma estrutura liberal, vemo-nos a trocar o nosso voto numa ou outra proposta que não seja tão liberal, mas que tenha a possibilidade ainda de, na sua regulamentação, de introduzir esquemas que sejam mais liberais, de fazer uma troca disso por outras propostas que nós tenhamos. Sejam elas de quem for”.