Meses antes das legislativas de há três anos - ganhas pelo PSD e CDS-PP, em que o PS ficou em segundo, mas os partidos de esquerda ficaram em maioria - socialistas, comunistas e bloquistas esgrimiam críticas, de lado a lado.
Prostes da Fonseca, jornalista e autor de vários livros de investigação histórica, colecionou frases dos líderes do PS (António Costa), do PCP (Jerónimo de Sousa) e do BE (Catarina Martins), de 1991 até hoje, umas críticas outras de aproximação, como pode ler-se na obra editada pela Desassossego – Livros para Pensar.
Se o PCP defendia as “convergências de esquerda” desde antes da Revolução dos Cravos, embora com significados diferentes, Francisco Louçã, então no PSR, também fez a defesa da construção de “uma alternativa na esquerda”, mas sem “favores do PS e do PCP”.
Em 2001, Jerónimo de Sousa reconhecia existir “um sentido de concorrência” do Bloco quanto ao PCP, contra a “política do cuco”, que faz “copianço” das iniciativas comunistas, “apresentando-as como grande novidade”.
No mesmo ano, António Costa olhava “uma alternativa governativa” com “enorme dificuldade”, dado que não era claro, para si, “a base programática do BE”.
E, passados oito anos, em 2009, sobre a formação de executivos afirmou que os “portugueses conquistaram um direito”, que “os governos resultem da vontade expressa, maioritária, clara e inequívoca do voto de todos e de cada um dos portugueses”.
Já a semanas das legislativas de 2015, Catarina Martins ainda dizia que o programa do PS “é provavelmente o mais à direita de sempre” e Jerónimo de Sousa acusava os socialistas de não terem “uma vontade de rutura com o caminho ruinoso” do PS, PSD e CDS-PP.
Assinado o acordo de apoio parlamentar ao Governo minoritário do PS, a crispação à esquerda foi baixando, mas PCP e BE continuam, ciclicamente, a criticar em matéria laboral, por exemplo, o PS e o executivo.
O livro de Pedro Prostes da Fonseca analisa as posições de grande número de políticos desde 1974, de Álvaro Cunhal, líder histórico do PCP, a Marcelo Rebelo de Sousa, atual Presidente da República, de António Costa a Durão Barroso, antigo primeiro-ministro e ex-presidente da Comissão Europeia, de Zita Seabra, a ex-comunista que foi deputada do PSD, a António Guterres, chefe do executivo (1995-2005).
O autor concluiu que foi durante o período revolucionário que “mais se viveu a máxima que o que é verdade hoje amanhã pode bem não ser” e que os ziguezagues podem “ter afrouxado, mas nunca desaparecem” por que “são o órgão vital do organismo da política”.
Da frase de Marcelo “nem que Cristo desça à Terra” sobre a possibilidade de vir a candidatar-se a presidente do PSD, à reviravolta do ex-jornalista e dirigente do CDS Paulo Portas de nunca entrar na política, o livro analisa as “mudanças de opinião” de políticos como Mário Soares ou Cavaco Silva e destaca frases sobre o fenómeno.
Ao deixar de ser primeira-ministra, em 1980, após seis meses no cargo, Maria de Lourdes Pintassilgo foi questionada sobre a imagem que tinha dos políticos: “Excesso de quadrilha… ‘promenade, change your pair’… um bailado.”
Outra frase lapidar é atribuída ao ex-líder do PSD e antigo autarca de Gaia, Luís Filipe Menezes, quando disse, em 1991, que “um político pode e deve ser hipócrita desde que nunca ponha em causa, no essencial, aquilo que são valores referenciais que estão na sua consciência”.
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