Este senador por Ohio, de 39 anos, ex-soldado e autor de "bestsellers", estabeleceu um perfil eclético e nunca deixou de defender no Congresso as principais causas do ex-presidente republicano (2017-2021), como o combate à imigração e a defesa do protecionismo económico.

"Tenho boa memória. Se hoje estiverem a lutar politicamente contra Trump e os candidatos que ele apoia, não venham pedir a minha ajuda dentro de um ano para aprovar vossa legislação ou os projetos que vocês valorizam", advertiu o congressista no início do ano.

Os seus adversários gozaram com os seus comentários e correram para assinalar a ironia da situação: antes de defender Trump com unhas e dentes, Vance não se continha ao criticar o bilionário. Uma vez chegou mesmo a considerar-se "um tipo que nunca estará a favor de Trump" e também descreveu o magnata como "idiota" e "nocivo", chegando a preocupar-se que ele pudesse ser "o Hitler dos Estados Unidos".

Após a tentativa de assassinato do ex-presidente no sábado, o republicano apontou o dedo à "campanha de [o presidente Joe] Biden", que apresenta Trump como "um fascista autoritário que deve ser detido a todo custo". "Tal retórica levou diretamente à tentativa de assassinato do presidente Trump", acusou.

Antes de entrar nas altas esferas da política em Washington, o passado de Vance foi, no mínimo, atípico. Cresceu no seio de uma modesta família monoparental no "Rust Belt", uma região do nordeste dos Estados Unidos profundamente marcada pelo declínio industrial, e depois alistou-se no exército.

Estudou Direito numa das universidades mais prestigiadas do país, antes de embarcar numa carreira em Silicon Valley. Mas foi um livro, "Hillbilly Elegy" — publicado em 2016 e editado em Portugal pela Dom Quixote em 2017 com o título "Lamento de Uma América em Ruínas" — , que colocou-o no mapa. Neste relato autobiográfico, que se tornou um best-seller e foi adaptado para o cinema por Ron Howard, Vance narra a sua infância caótica numa América branca marcada pelo desemprego e pelos vícios, e dá voz a uma classe trabalhadora desiludida e "degradada", cheia de ressentimentos.

Apenas mais tarde Vance aproximou-se do movimento trumpista. O seu livro atraiu a atenção do filho mais velho do ex-presidente, Donald Trump Jr., de quem se tornou amigo íntimo. Diz-se que este último desempenhou um papel importante na sua nomeação para o posto de vice-presidente.

Vance adotou os principais temas de Trump, bem como o seu tom combativo e o seu discurso populista, e ganhou o apoio do bilionário na sua campanha para o Senado em 2022.

"O governo de Biden quer ver Trump morrer na prisão e arruinar a sua família. É o maior ataque à democracia da história", criticou no X em março. E continuou: "Se és covarde demais para falar, não estás preparado para este momento da política americana".

Este pai de três filhos tornou-se uma figura popular na televisão, onde é um enérgico e leal defensor do candidato republicano às presidenciais de novembro.

Embora esteja perfeitamente alinhado com as posições do seu chefe em matéria de migração e economia, Vance parece estar mais à direita em outras questões, como o aborto. Ele manifestou-se contra as exceções à proibição, mesmo em casos de violação ou incesto.

Vance tornou-se até mesmo num rosto do movimento da "Nova Direita", jovens conservadores que tentam levar o movimento isolacionista e anti-imigração de Trump numa direção mais radical, descreveu o Politico em março.

"Ao contrário dos apoiantes republicanos mais convencionais de Trump, a corte da Nova Direita de Vance vê Trump apenas como o primeiro passo de uma revolução populista-nacionalista mais ampla que já está a remodelar a direita americana", dizia o artigo. "E, se conseguirem o que querem, em breve remodelarão os Estados Unidos como um todo", concluiu.