Eram umas das principais atrações desta edição digital do Web Summit. Durante seis anos, entre 2008 e 2013, Bryan Cranston e Aaron Paul foram os protagonistas da série “Breaking Bad”, considerada por muitos críticos como uma das melhores coisas a passar pelo nosso pequeno ecrã nas últimas décadas. Cranston representou Walter White, um professor que tem uma crise de meia-idade, depois de um diagnóstico de cancro do pulmão, que o leva entrar na produção e tráfico de metanfetaminas. Paul deu vida a Jesse Pinkman, um antigo aluno de Walter, que lhe dá os contactos para entrar no negócio e que se torna seu parceiro.

Depois de vários prémios e reconhecimento, a série terminou e cada um seguiu o seu caminho em projetos a solo, como uma banda que se separou após um conjunto de álbuns bem-sucedidos. Só que neste caso, não houve quezílias e os dois continuaram bons amigos e fizeram promessas de voltar a trabalhar juntos.

“Há dois anos, o Bryan deu-me a ideia de voltarmos a trabalhar juntos num projeto, mas tinha medo que fosse demasiado cedo pós-Breaking Bad”, refere Paul. Não podendo ainda aparecer num ecrã juntos, Aaron Paul sugeriu outra hipótese: “Ele (Cranston) é dos meus melhores amigos, e se não podemos estar num programa juntos, pensei que podíamos criar um negócio. Quando o Bryan me perguntou qual, eu sugeri o mercado de bebidas alcoólicas, ele riu-se e eu disse que estava a falar a sério que que queria criar uma marca de mezcal”.

It’s mezcal, bitch

É muito ao estilo da sua personagem de “Breaking Bad” que imaginamos Aaron Paul a introduzir esta bebida a Bryan Cranston. Mezcal é uma bebida tipicamente mexicana, muito parecida com a tequila na maneira como é produzida, mas com um sabor mais rústico por ser destilada menos vezes. “Para mim, o mezcal era conhecido como uma bebida barata e quase de castigo. Cheguei a ter uma má experiência com esta bebida e a parte complicada destas bebidas espirituosas, é que é difícil o teu cérebro desligar e não a associar a algo mau”, partilha Cranston ao contar a sua reação à proposta do amigo. Paul, por outro lado, era um grande fã, e depois de receber o “ok” do Bryan num restaurante de sushi, em Nova Iorque, prometeu educá-lo sobre a bebida e mostrar-lhe o seu potencial.

“O Bryan gosta de bebidas o mais suaves possível e não gosta de beber algo que seja complicado de gerir e isso acabou por ser bom, porque como eu estou no espectro completamente oposto, levou-nos a ir à procura de um meio termo com o qual ambos pudéssemos ficar satisfeitos”, esclarece Paul. Como o mezcal é produzido no México, o próximo passo foi muito óbvio para os dois: tinham de fazer as malas e atravessar a fronteira à procura de um produtor com o qual pudessem desenvolver o produto que ambicionavam e que queriam lançar para o mercado. Onde estava o “ouro”? Na cidade mexicana de Oaxaca.

“Eu disse para irmos uma semana e tentarmos mesmo encontrar algo que os dois gostássemos porque não tinha interesse nenhum em pôr o meu nome em algo só porque sim”, afirma Cranston. A viagem não foi fácil e até encontrarem algo que os satisfizesse, Bryan e Aaron, tiveram de provar muito mezcal e falar com vários produtores.

O que procuravam, acabou por estar num lugar estranhamente familiar nas palavras de Aaron Paul: “Isto vai soar ótimo e eu não estou a brincar, mas cruzámo-nos com uma operação no meio de uma floresta que parecia um laboratório de metanfetaminas e digo isto no bom sentido porque pensei que tinha de ser ali. Então, eu e o Bryan tivemos uma espécie de momento de romance em que depois de provarmos, olhámos um para o outro e soubemos que tínhamos encontrado o que queríamos”. De seguida, os dois atores convidaram o produtor local a entrar no negócio com eles, não sem antes conhecerem a sua família. Quando saíram de Oaxaca, foi a primeira vez que se começaram a sentir nervosos.

Dois homens a levar um produto para a frente

Depois de decidirem o nome da marca – Dos Hombres –, agora começava a parte mais difícil que era fazer chegar o seu produto ao mercado. “Tudo isto era completamente estranho para nós e não fazíamos ideia de como construir um negócio”, confidencia Paul. Logotipo e embalagem foram grandes desafios e, segundo Bryan Cranston, não foram deixados ao acaso: “tens o design da garrafa, o tipo de cortiça que vais usar, ou seja, existem vários passos e nós queríamos ser cuidadosos, pois sentíamos que cada elemento que ia estar na garrafa ia ser importante. Não foi só escolher uma cor qualquer. Tirámos mesmo tempo para fazer algo elegante e simples”.

Com o design do seu mezcal artesanal fechado, faltava mesmo só uma distribuidora que pudesse fazer chegar a Dos Hombres a lojas espalhadas por todo o país. Após várias chamadas não atendidas, Paul conseguiu uma reunião com a maior distribuidora de bebidas alcoólicas da Califórnia que, depois de conhecer o produto, decidiu dar-lhe uma oportunidade. Mas Paul não ficou por aqui e conta ainda que “sabia que tinha que ter o nosso produto em várias lojas de bebidas alcoólicas, por isso uma das coisas que fiz foi entrar em lojas aleatórias e dar a conhecer a Dos Hombres e foi assim que começámos a crescer”.

Uma tendência e um mercado com futuro

A Dos Hombres é uma uma marca que vem no seguimento de diversos investimentos que celebridades têm feito neste setor e do qual tem colhido diversos frutos. George Clooney vendeu há uns anos a sua marca de tequila Casamigos por mil milhões de dólares à Diageo. Ryan Reynolds vendeu a sua Aviation Gin (marca de gin, como o nome indica) por 610 milhões de dólares à mesma empresa. É certamente este o caminho que Bryan e Aaron querem percorrer. “Espero que as pessoas comprem por ser algo que eu e o Bryan criámos, mas também por nos respeitarem, por confiarem nas nossas escolhas e por quererem fazer parte desta caminhada”, remata Paul.

A Dos Hombres vem num formato de 75ml, tem 42% de álcool e custa 62,99 dólares num mercado que se espera que cresça significativamente nos próximos anos. As estimativas apontam para que o mercado de mezcal nos EUA chegue aos 733 milhões de dólares em 2027, com um crescimento de 14% ao ano. Para serem bem-sucedidos, Bryan Cranston acredita que ele e Aaron tem de olhar para o seu produto como olhariam para a sua carreira: “Há semelhanças entre produzir uma peça de arte que queremos que seja visível, seja em televisão ou nos filmes, e produzir uma peça de arte que queremos que seja consumida literalmente. Nós olhamos para a Dos Hombres como olharíamos para um pitch de uma série ou de um filme, porque é algo do qual estamos mesmo orgulhosos e que tem sido uma viagem divertida até agora”.

*as intervenções de Bryan Cranston e Aaron sofreram algumas adaptações para dar mais fluidez ao discurso.