Há, no entanto, “outros fatores que parecem influenciar a frequência destes sintomas”, sublinha a UC, numa nota enviada hoje à agência Lusa.
Publicado na revista científica BMC Psychiatry, o estudo foi realizado por uma equipa multidisciplinar da UC, das universidades de Lisboa e Fernando Pessoa (Porto), e do Instituto Politécnico de Viseu para “explorar os fatores associados a sintomas de ansiedade, depressão e stress nas crianças portuguesas em idade escolar, dos 7,5 aos 11,5 anos, uma vez que existem poucos dados sobre a magnitude e causas dos problemas de saúde mental mais comuns em idades tão jovens”.
Participaram na investigação 1.022 crianças – 481 meninos e 541 meninas – de escolas públicas e privadas das cidades de Coimbra, Lisboa e Porto, e os respetivos pais.
Ao analisarem os autorrelatos das crianças, os investigadores concluíram que os rapazes reportam mais frequentemente sintomas de stress e sintomas depressivos do que as raparigas, refere a UC.
As diferenças entre meninos e meninas na expressão destes sintomas podem ser influenciadas pelo contexto cultural – “poderão residir numa maior tendência das meninas para responder de forma socialmente mais desejável ou expectável”, afirma, citado pela UC, Diogo Costa, primeiro autor do artigo.
“As crianças de Lisboa, por comparação com as de Coimbra e Porto, poderão estar expostas a características do ambiente urbano mais prejudiciais que se refletem na frequência destes sintomas”, considera o investigador do Centro de Investigação em Antropologia e Saúde (CIAS) da Faculdade de Ciências e Tecnologia da UC, centro que liderou o estudo.
Aquelas crianças “poderão ter de percorrer maiores distâncias no percurso entre casa e escola e passar mais tempo no trânsito”, exemplifica.
A investigação sugere ainda que os fatores parentais, em particular os sintomas depressivos, de ansiedade e de stress da mãe, interferem de forma negativa na saúde mental das crianças.
De acordo com Diogo Costa, “a influência (negativa) do estado emocional das mães nas emoções das crianças é bastante conhecida, sobretudo para os sintomas depressivos, e pode fazer sentir-se desde cedo”, mas são necessários “estudos longitudinais (que acompanhem as crianças e mães ao longo do tempo) para melhor avaliar outros fatores intervenientes nesta relação, como por exemplo a vinculação entre pais e crianças”.
Considerando que os sintomas de depressão, ansiedade e stress experienciados durante a infância podem ter um impacto negativo no desenvolvimento, a coordenadora do estudo, Cristina Padez, defende que “são imprescindíveis estudos longitudinais” para se conhecer “o impacto destes sintomas no aparecimento da obesidade infantil”.
A obesidade infantil é “um problema com uma grande expressão na generalidade dos países desenvolvidos e em que Portugal também tem taxas muito elevadas”, sublinha Cristina Padez.
O estudo, que faz parte de um projeto de investigação mais alargado – “Desigualdades na obesidade infantil: o impacto da crise socioeconómica em Portugal de 2009 a 2015” – foi cofinanciado pelo COMPETE 2020, Portugal 2020 - Programa Operacional Competitividade e Internacionalização (POCI), União Europeia, através do Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional (FEDER), e Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT).
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