“Entendemos que, se o nosso país não interromper a operação militar, teremos mais órfãos no nosso país”, disse Leonid Vasyukevich, deputado do Partido Comunista, numa reunião da Assembleia Legislativa regional de Primorsk no porto de Vladivostok, na sexta-feira.

A declaração, dirigida diretamente ao Presidente russo Vladimir Putin, surge num vídeo publicado num canal da plataforma Telegram. O vídeo mostra ainda um outro deputado a apoiar a opinião de Vasyukevich.

Mas o presidente da Assembleia Legislativa regional de Primorsk emitiu mais tarde um comunicado, apelidando as declarações de “provocação política”, não apoiada pela maioria dos deputados.

A declaração de Vasyukevich constitui uma rara – se não inédita – admissão pública do descontentamento entre pela guerra da Rússia na Ucrânia, numa altura em que o Putin tem tentado reprimir dissidência e opiniões contrárias à do Kremlin.

No início de maio, um diplomata russo da delegação da ONU em Genebra, Boris Bondarev, anunciou ter entregado a sua demissão, alegando que nunca teve tanta vergonha do seu país como no dia da invasão da Ucrânia.

Em março, o parlamento russo aprovou, por unanimidade, uma lei que criminaliza a disseminação intencional daquilo que a Rússia considera ser informação falsa.

As autoridades russas têm denunciado várias vezes relatos de reveses militares russos ou mortes de civis na Ucrânia como “informação falsa” e os meios de comunicação estatais referem-se à invasão da Ucrânia pela Rússia como uma “operação militar especial” em vez de uma “guerra” ou “invasão”.

Penas de até três anos ou multas estão previstas para quem divulgar o que as autoridades consideram ser notícias falsas sobre os militares, mas a pena máxima sobe para 15 anos para casos considerados como tendo “graves consequências”.

A guerra na Ucrânia causou já a fuga de mais de 14 milhões de pessoas de suas casas – mais de oito milhões de deslocados internos e mais de 6,6 milhões para os países vizinhos -, de acordo com os mais recentes dados da ONU, que classifica esta crise de refugiados como a pior na Europa desde a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).

Também segundo as Nações Unidas, cerca de 15 milhões de pessoas necessitam de assistência humanitária na Ucrânia.

A invasão russa foi condenada pela generalidade da comunidade internacional, que respondeu com o envio de armamento para a Ucrânia e a imposição à Rússia de sanções que atingem praticamente todos os setores, da banca ao desporto.

A ONU confirmou na quinta-feira que 3.974 civis morreram e 4.654 ficaram feridos, sublinhando que os números reais poderão ser muito superiores e só serão conhecidos quando houver acesso a cidades cercadas ou a zonas até agora sob intensos combates.