Há 76 depositadas no Banco de Itália, as joias da coroa italiana estão a ser reclamadas pelos descendentes de Umberto II e Maria José, os últimos reis italianos, antes do país se tornar numa república.

Segundo o The Guardian, tratam-se de mais de 6000 diamantes e 2000 pérolas colocadas em broches e colares usados por várias rainhas e princesas italianas, e quem reclama este espólio são os filhos do casal: Vítor Emanuel (Príncipe de Nápoles),  Maria Gabriela, Maria Pia e Maria Beatriz de Sabóia.

As joias depositadas no Banco de Itália três dias depois de, a 2 de junho de 1946, os italianos terem votado num referendo a abolição da monarquia e consagração da república, pondo termo ao breve reinado de Humberto II e da Casa de Sabóia, de apenas 34 dias.

No entanto, esta parte do espólio real é alegadamente a única a não ter sido confiscada pelo estado italiano, mantendo-se intocada no seu local de depósito. Os descendentes do casal real fizeram agora um pedido formal para reaver as joias pela primeira vez em 76 anos.

A seu favor está uma mensagem deixada com as joias onde se lê que estas devem ser "deixadas ao cuidado do encarregado de caixa" do banco e "mantidas ao dispor daqueles que têm direito sobre as mesmas". É com esta nota que alegam poder reclamar o espólio, defendendo que o estado italiano não pode reclamá-las.

O advogado da família, Sergio Orlandi, disse ao jornal italiano Corriere della Sera que "os Sabóias vão ter as suas joias de volta". A primeira reunião de mediação entre o advogado e representantes do Banco de Itália e do governo italiano teve data marcada para hoje. Não havendo um acordo, a família já fez saber que vai levar o estado a tribunal — isto, quando em novembro foi feito um pedido informal pelas joias, rejeitado pelo banco.

Humberto II era filho de Víctor Emanuel III (1900-1946), apoiante do regime de Benito Mussolini que, após o fim da II Guerra Mundial, abdicou em favor do filho numa tentativa de salvar a monarquia.

O último rei italiano viajou então para Portugal, escolhendo a vila de Cascais para passar os últimos anos da sua vida. De facto, só em 1983, cerca de um mês antes da sua morte, Humberto II de Sabóia deixou o nosso país com destino a Genebra, onde morreria a 15 de Março de 1983. Foi na cidade suíça que morreu também Maria José de Sabóia, a 27 de janeiro de 2001, aos 94 anos.

O último casal real italiano os quatro filhos acima mencionados, que vivem todos no exílio na Suíça.

A Constituição italiana estipulou durante décadas que “os ex-reis de Sabóia, seus consortes e descendentes do sexo masculino não podem entrar ou pernoitar em território nacional” e que os seus bens devem ser geridos pelo Estado.

No entanto, a partir de 2002 passou a ser possível os descendentes regressarem a Itália. Vítor Emanuel disse, aquando do seu regresso ao país em 2003, que não tinha interesse em ficar com as joias, mas que gostaria que passassem a ser expostas publicamente.

É por este difícil histórico que os descendentes estiverem tantos anos renitentes em reclamar formalmente as joias, avaliadas algures entre 18 milhões e 300 milhões de euros.

No entanto, em 2007, Victor Emanuel reclamou 170 milhões de euros e o seu filho, Emanuel Philibert, 90 milhões de euros ao estado italiano por danos morais causados pelo exílio sofrido durante 56 anos, noticiou à época, a agência noticiosa italiana ANSA.

A família real exigiu igualmente a restituição dos bens que foram confiscados pelo Estado italiano durante o seu exílio forçado, de acordo com a Ansa, que não adiantou que tipo de bens e qual o seu eventual valor — não se sabendo, assim, se as joias estavam incluídas nesta reclamação.

O pedido de indemnização foi entregue pelos advogados dos Sabóia ao então presidente da República, Giorgio Napolitano, e ao primeiro-ministro, Romano Prodi. Carlo Malinconico, secretário-geral da presidência do Conselho de Ministros, sustentou à época que o governo não devia nada aos Sabóia e que ponderava apresentar um queixa contra a família devido à sua responsabilidade na aplicação das leis raciais no país. Victor Emanuel III co-assinou e promulgou, em 1938, as leis raciais do regime de Mussolini que facilitaram, nomeadamente, a deportação de cerca de oito mil judeus italianos a partir de 1943.

Este caso não teve resolução conhecida publicamente.

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