O governo chinês, que considera Taiwan uma ilha rebelde, reagiu com fúria à visita de Nancy Pelosi, presidente da Câmara de Representantes dos Estados Unidos, a Taipé, no início do mês.

Em resposta, o exército chinês executou manobras militares em larga escala, com aviões, mísseis e navios de guerra ao redor da ilha. Uma forma de protesto, a dos exercícios militares, que a China repetiu esta segunda-feira, por ocasião da visita de cinco congressistas americanos à ilha autónoma.

No caso da visita de Pelosi, durante os exercícios, as redes sociais foram dominadas por informações falsas sobre a política americana e os seus anfitriões taiwaneses.

Charles Yeh, diretor de redação do portal taiwanês de verificação MyGoPen, disse que a maior parte da desinformação detectada mencionava a ideia de que a ilha deveria "render-se" à China.

"Além dos exercícios militares, a China também iniciou ofensivas no mundo digital, na forma de ciberataques e desinformação", explicou Yeh.

No momento em que milhões de pessoas acompanhavam uma transmissão ao vivo no Weibo - o equivalente chinês do Twitter - sobre a aterragem de Pelosi em Taiwan, várias mensagens publicadas afirmavam, sem qualquer fundamento, que o avião da congressista americana teve que regressar porque esta tinha passado mal com o calor.

Detida por tentar "desestabilizar Taiwan"

Autoridades da área de Defesa de Taiwan afirmaram que identificaram 270 afirmações "falsas" na internet nas últimas semanas.

Num dos casos, a polícia prendeu uma mulher acusada de partilhar uma mensagem falsa na aplicação LINE, em que afirmava que Pequim tinha decidido retirar os cidadãos chineses de Taiwan.

Um porta-voz da polícia disse que esta estava a tentar "desestabilizar Taiwan".

Outra mensagem muito divulgada foi um texto supostamente publicado pela agência oficial chinesa Xinhua que afirmava, erradamente, que a China "recuperaria a soberania" sobre Taiwan em 15 de agosto.

A mensagem, vista mais de 356.000 vezes no TikTok, uma aplicação de propriedade chinesa, afirmava que o exército de Taiwan seria desmantelado e um político da oposição assumiria o cargo de governador. A mesma afirmação falsa circulou no Facebook.

A equipa de fact-check da AFP não encontrou provas de que a agência estatal chinesa Xinhua tenha publicado o texto.

Taiwan é uma das democracias mais tolerantes da Ásia e tem um cenário de imprensa muito mais livre do que a China continental, que tem uma censura estatal muito rigorosa.

A China reclama a soberania sobre Taiwan, uma ilha que considera uma província rebelde desde que os nacionalistas do Kuomintang ali se refugiaram em 1949, após perderem a guerra civil contra os comunistas.

*Por Rachel YAN / Clara IP / Jeff LI / AFP