Esta conclusão resulta de uma análise do MediaLab do Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa (ISCTE), no âmbito de um projeto em parceria com a agência Lusa, para aferir a desinformação e os conteúdos a circular nas redes e sociais e meio ‘on-line’ no período pré-eleitoral.
Uma publicação de André Ventura, presidente do Chega, no Twitter/X, “teve mais de um milhão de visualizações antes da correção”, concluiu a MediaLab, depois de analisar o episódio dos alegados tiros à chegada da caravana do Chega a Famalicão, distrito de Braga, na quarta-feira, dia 21 de fevereiro.
“A informação enganosa - em grande parte propagada por páginas e contas afetas ao partido Chega - teve mais alcance e mais impacto (medido em interações) do que a sua correção quatro horas depois”, lê-se no relatório.
Passadas cerca de quatro horas sobre o acontecimento, acrescenta, “um comunicado da PSP esclareceu que os alegados disparos eram afinal rateres de uma moto”.
“No entanto, quatro horas foram suficientes para que a narrativa original e enganosa circulasse pelo Facebook e pelo Twitter/X com muito mais alcance que a sua posterior correção”, acrescenta-se no texto.
O grupo coordenado pelos investigadores Gustavo Cardoso e José Moreno, do ISCTE, considera que este episódio, comentado pelo presidente do Chega, André Ventura, que pediu uma investigação à PSP, “ilustra o diferencial de impacto entre o conteúdo desinformativo e a sua posterior correção”, concluem ainda.
O relatório faz uma descrição pormenorizada sobre o que se passou nas redes sociais – Twitter/X e Facebook – entre a publicação do primeiro ‘post’, às 18:29 de 21 de fevereiro, no X, e as 00:15 de 22 de fevereiro, no Facebook, com o desmentido da PSP, que negou tratar-se de tiros, mas sim de rateres de motos.
Segundo a análise do MediaLab, a primeira publicação de um membro do Chega dá-se uma hora depois, às 19:38 e foi Rui Paulo Sousa, vice-presidente da bancada parlamentar, que expõe um vídeo no X e que de seguida faz a mesma publicação no Facebook.
O primeiro órgão de comunicação social a publicar uma notícia do acontecimento, no Facebook, foi o Correio da Manhã, às 22:10. E depois do desmentido, já nas primeiras horas de dia 22 de fevereiro, as publicações nas redes tendem a focar-se nessa informação. Rui Paulo Sousa retirou a publicação depois do desmentido das autoridades.
Entre as conclusões relevantes, refira-se que no Facebook “o número de publicações realizadas antes da correção de informação corresponde a cerca de 36% do total” e que a publicação do Chega foi “a maior impulsionadora de interações com o conteúdo desinformativo” neste caso (soma de todas as reações, comentários e partilhas).
Já no X, a publicação de André Ventura é a maior impulsionadora de interações (soma de todos os “gostos”, comentários e partilhas) com este episódio.
Um dos objetivos deste projeto do MediaLab do ISCTE com a Lusa é identificar os conteúdos desinformativos atribuídos aos partidos ou candidatos pelos 'fact-checkers' nacionais credenciados pela International Fact-Checking Network (IFCN), Polígrafo, Observador Fact Check e Público - Prova dos Factos, e avaliar o impacto nas redes sociais, medido em interações e visualizações.
Os autores deste projeto alertam que não existe uma relação direta entre o número de interações (ou 'gostos') com as intenções de voto de um determinado partido ou candidato.
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