Na linha da frente da pequena manifestação de estudantes, que, ao início da tarde, se juntou nas escadarias da Cantina Velha, Inês Pereira, aluna da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, ajudava a segurar uma das faixas empunhadas pelas poucas dezenas de manifestantes, perante a quase indiferença dos colegas que passavam.

À porta da cantina ia entoando com os colegas palavras de ordem contra o preço das refeições sociais, mas também em defesa de mais financiamento para o ensino superior, como “Para a banca vão milhões, para a educação vão tostões” ou “Faculdades a cair, é preciso investir”.

À porta da cantina é onde têm ficado, por várias vezes, este ano letivo.

“É incomportável vir aqui cinco dias por semana”, criticou a estudante, a propósito do aumento de 15 cêntimos por refeição.

“Este ano ainda só vim uma vez, exatamente por essa razão. A minha faculdade não tem cantina própria e esta era a única alternativa. Neste momento não nos é possível, temos de trazer comida de casa”, explicou Inês Pereira.

A justificação para a subida do preço está no aumento do salário mínimo, segundo as explicações dadas aos alunos pelo reitor da Universidade de Lisboa, disse a aluna.

Gonçalo Gomes, aluno da mesma faculdade, alertou para o peso no orçamento dos estudantes e das suas famílias que um aumento de 15 cêntimos por refeição tem ao final de um ano.

“Para os alunos que vão comer todos os dias à cantina, ao fim de um ano, parecendo que não, 15 cêntimos faz muita diferença”, disse.

O estudante criticou ainda as condições das infraestruturas da instituição e aquilo que disse ser o desconhecimento do reitor, relativamente às condições socioeconómicas dos alunos.

“Temos infraestruturas a cair, temos um pavilhão chamado novo que existe há mais de 50 anos, e não sofre qualquer tipo de obras. Temos frio no inverno, calor no verão. Temos um reitor que diz que não existem alunos com dificuldades em pagar propinas. É um reitor que não só não conhece a realidade, como não a procura conhecer. Estamos aqui hoje para mostrar que não é verdade e que existem alunos que não conseguem pagar propinas”, disse.

Francisco Canelas, membro da direção da associação de estudantes da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, que organizou o protesto de hoje, salientou o esforço financeiro que representa para as famílias o aumento das refeições, uma vez que se junta a uma série de outras despesas – uma conjugação que “cria barreiras” à frequência do ensino superior.

“Com todas as outras despesas, [o aumento de 15 cêntimos] acaba por fazer uma grande mossa nos rendimentos dos estudantes, que acabam por ser os rendimentos das suas famílias”, disse.

Ainda que reconheça que o aumento do orçamento para o ensino superior, assim como da dotação para a ação social, são “de valorizar”, considera-os insuficientes num quadro em que “o esforço económico do ensino superior continua a cair sobre os estudantes e as suas famílias".

“Não iremos deixar de reivindicar um ensino superior público, gratuito e de qualidade”, disse.

O protesto seguiu da Cantina Velha em desfile até à Direção-Geral do Ensino Superior (DGES).

Uma semana antes da votação final do Orçamento do Estado para 2017, uma delegação de estudantes irá entregar, na Assembleia da República, um abaixo-assinado que conta já com mais de 2.500 assinaturas e que contesta o aumento do preço das refeições e reivindica mais ação social e um maior financiamento para o ensino superior.

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