Em 2019, segundo o relatório CASA, sete crianças adotadas e duas em fase de pré-adoção voltaram ao acolhimento. Foram 19 crianças em 2018, 15 em 2017 e 24 em 2016, noticia o Jornal de Notícias esta sexta-feira. São 67 crianças no total.

"Uma criança retirada à família biológica, que viveu numa instituição, foi adotada e volta ao acolhimento já foi revitimizada muitas vezes", explica Maria Barbosa Ducharne, do Grupo de Investigação e Intervenção em Acolhimento e Adoção (GIIAA) da Universidade do Porto, que acredita que há "pais que não estão preparados para uma criança que sofreu de maus-tratos, negligência e abandono, e criam expectativas que não são a realidade".

Um exemplo de instituição que está à espera de vaga para acolher uma criança que foi devolvida é a Casa de Acolhimento Crescer a Cores, em Castelo de Paiva. "Uma família que vende sonhos e depois volta a entregá-los é muito duro. Devia haver acompanhamento sistemático destas famílias, para terem retaguarda e saberem a quem recorrer, isso evitava muitas devoluções. Vêm muitas vezes bater-nos à porta", diz a assistente social Marlene Gomes.

Para a investigadora Maria Barbosa Ducharne, "há uma necessidade demonstrada cientificamente de apoiar estas famílias no pós-adoção" - o que não acontece em Portugal, escreve o JN. A lei prevê desde 2015 o acompanhamento, mas só no caso de solicitação à Segurança Social.

Em janeiro 2021, escreve o JN, arranca um projeto para monitorizar as necessidades de 270 famílias que adotaram crianças de diferentes idades e em diferentes anos, que serão acompanhadas durante três anos: o o projeto "Follow up em pós-adoção", do GIIAA, em colaboração com o ISCTE e a Segurança Social - que não respondeu ao JN.

Uma equipa de psicólogos vai monitorizar necessidades e criar uma plataforma de apoio à distância. "A ideia é identificar os problemas o mais precocemente possível", explica Ducharne. "Uma vez validado que o acompanhamento é eficaz, depois será provavelmente um recurso que estará disponível a todas as famílias adotantes".